Dia 4 Inimigos para amantes

177 19 12
                                    


  "Nos desculpe o incômodo padre, mas não sabemos mais a quem chamar." o aldeão mais jovem pigarreou ao seu lado.

"Não se preocupe com isso garoto, apenas me mostre onde está a casa." Martín respondeu seco.

O argentino não era muito de sair da igreja para atender as pessoas, muitos lhe procuravam, sendo reconhecido por sua habilidade com as bênçãos e profecias, mas esse caso lhe pegou desprevenido, não conseguiu conter sua agonia quando esse jovem chegou em seus pés chorando e implorando por salvação em sua aldeia. Pelo que ouviu, uma antiga casa estava sendo assombrada por algum demônio, que sussurrava a noite no ouvido de suas vítimas, as atraindo para o local, onde nunca mais eram vistas. Muitos tentaram entrar no lugar para tentar salvar o familiar vitimizado, mas ninguém estava conseguindo sair vivo ou sem parecer que perdeu por completo a sanidade.

Martín nunca tinha sentido tanta vontade de viajar a trabalho, gostava de casos assim, do sinistro, do pavoroso, algo que talvez lhe desse um pouquinho de adrenalina e medo.

"Chegamos senhor." Pararam a alguns metros de uma casa velha com pintura a desejar. "Não consigo chegar mais perto, tenho medo de ser enfeitiçado." O mais novo concluiu se afastando um pouco mais do lugar, olhando com leve esperança para o padre, esperando o que ele faria.

"Entendo." O loiro disse sem expressão, indo com passos lentos e preguiçosos analisar os arredores, não iria entrar nessa tarde, mas queria ao menos saber como era o lugar que estaria trabalhando.

A casa tinha paredes manchadas e cheias de musgos e mofo, era alta, com dois andares, e a estética dava um nó na barriga do argentino. Não sabia como alguém teria coragem de já ter morado naquela casa horrorosa. Estava focado em um lampião que balançava sem nem mesmo ter vento, quando um movimento na janela lhe chamou a atenção. Martín ficou paralisado encarando os olhos brilhantes lá em cima, o vulto misterioso parecia lhe analisar a cada mínimo detalhe , e foi só quando sentiu um gelo na nuca, como se alguém estivesse lhe soprando, que olhou assustado para trás, não vendo nada além dos arbustos secos, voltou sua visão para a janela, não era surpresa que o vulto já não estivesse ali. Não se sentiu nem um pouco intimidado pelo ser maligno, era apenas um demoniozinho qualquer, qual acabaria com suas façanhas no dia seguinte.

Nos primeiros raios de sol, o loiro já estava na porta da casa, sendo seguido pelos moradores do pequeno vilarejo, esse feito não agradou nada o argentino, que teve que se segurar para não mandar eles irem fazerem seus afazeres diários. Seja como for, perto da casa ninguém se aproximou, deixando somente o profissional e suas ferramentas sagradas (uma bíblia e um crucifixo já era mais do que o suficiente em sua opinião) adentrarem o lugar.

A porta de madeira rangeu ao ser empurrada, esperava ver algum corpo jogado ou algum vestígio de sangue, o fato do chão estar completamente limpo fazia sua mente se encher de confusão. Adentrou a sala olhando para cada canto, procurando algum sinal de assombração. Passou de cômodo em cômodo, olhando cantinho por cantinho, mas nada remetia que aquela casa tinha a presença de um demônio, as pessoas sumidas ainda eram um mistério, e se Martín não tivesse visto a sombra na janela na tarde anterior, ele refutaria que tinha algo de errado ali.

"Não entendo..." sussurrou quando deu a terceira volta pela casa, se sentando no sofá velho, nem mesmo uma presença estranha ele estava sentindo.

Quando saiu da casa os moradores lhe encaravam abismados, o loiro passou entre eles um pouco desconfortável, dizendo que não tinha encontrado nada e voltaria mais tarde.

A família qual estava hospedado junto eram humildes e sempre estavam sorrindo para o padre, lhe deram bastante comida desde o momento em que pisou na residência, mesmo recusando, a mãe das crianças insistia em fazê-lo comer, a questão era que tinha comida demais em seu prato, e o loiro não aguentava mais.

BraArg week 2023Onde histórias criam vida. Descubra agora