Todos os dias eram apenas uma rotina chata para Martín, sua cabeça já doía do barulho das máquinas que utilizava consertando espadas dos soldados ou outras ferramentas que os clientes traziam. Esse trabalho não era para ele, tinha certeza, suas belas mãos não mereciam aquele desrespeito, mas logo isso mudaria, sua vida melhoraria quando comprasse uma casa no campo, administrar uma fazenda de gado lhe cabia melhor.
Todos os dias quando começava a escurecer, ele finalizava seu trabalho e ia dormir, porém essa semana uma atração estava ocorrendo no reino, próximo ao castelo, e algo em sua mente lhe implorava para ir ver o que teria, sair do cotidiano era bom algumas vezes.
Tomou um banho e vestiu seu melhor terno, caminhando com calma até as barracas montadas, parecia-lhe somente uma feira comum, com bijuterias e algumas comidas diferentes, isso se não fosse a barulheira no fim da rua, onde uma barraca mais elegante e brilhante estava. Foi atraído pelos gritos e assovios, se enfiando no meio da bagunça de homens que era o local.
A primeira cena que viu foi a pessoa dançando no centro, em um palco improvisado. Não demorou dois segundos para Martín estar completamente hipnotizado por aquele corpo moreno musculoso, o homem utilizava somente panos finos tampando a cintura e metade do rosto.
O loiro não sabia que um homem poderia ser tão bonito como aquele era, sua pele brilhava em dourado dos poucos lampiões que tinham no local, e o suor que escorria pelo seu corpo pareciam ouro líquido. Os colares de pedras e os brincos elegantes só davam mais contrastes com o cabelo longo indo de um lado para o outro, junto ao quão sensual aqueles quadris balançavam.
Jogava para a direita, depois para a esquerda, e rebolava devagar, fazendo aquele bando de homens que se diziam amar somente suas mulheres, gritarem e babarem, implorando pelo corpo másculo e definido. O próprio Martín já estava na beira do palco, em êxtase com sua própria excitação, querendo mais do que tudo a atenção daquele mulato gostoso. Por um breve instante seus olhos se encontraram, e o dançarino pareceu sorrir para o loiro, fazendo seu coração acelerar ainda mais.
Quando o homem saiu do palco, uma mulher tão linda quanto entrou, mas Martín não queria ela, ela não tinha aquele gingado que o outro tinha. Andou quase em desespero para onde achou ser o local que os dançarinos ficavam, puxou a cortina, encontrando somente algumas mulheres, que lhe tacaram coisas. Acabou que uma com franja e uma flor de lado lhe disse que o moreno não estava mais lá, ele nunca ficava, sempre sumia pelas ruas escuras para se divertir.
Voltou para casa completamente chocado consigo mesmo, e como ainda se sentia extremamente excitado com a dança sensual daquele homem desconhecido. Se resolveu sozinho, nenhuma prostituta parecia lhe agradar agora.
No dia seguinte trabalhava com mais moleza do que o acostumado, queria tanto ter outra vida logo, sair daquela oficina nojenta e barulhenta, escutou a porta abrindo, se virando para ver um soldado moreno.
Parou de afiar a espada que tinha em mãos, encarando o homem se aproximar, sentia que o conhecia, era quase que certeza.
"Bom dia!" Disse com a voz carregada de sotaque, dando um sorriso brilhante para Martín.
O loiro se colocou surpreso, aqueles olhos ele lembrava bem, era dele, do dançarino que roubou toda sua atenção a noite. Agarrou as mãos morenas, assustando o soldado, aproximando seus rostos.
"É você!" Disse quase gritando.
"Desculpa?" O maior parecia confuso, arqueando uma sobrancelha. "Eu não acho que te conheço, me falaram que você é o melhor ferreiro da cidade, preciso de uma ajeitada na minha espada."
Puxou desconfortável suas mãos, pegando sua arma e colocando no balcão, o loiro corou um pouco, analisando por alguns segundos a espada antes de voltar seus olhos para o outro novamente.