A Ausência de Min. I

54 12 1
                                    

Sobre a grama, encostado e em meio às raízes ásperas do tronco, JiSung esperava que não o encontrassem, que não tivesse sido perseguido. E alí, ouvindo o balançar das folhas acima de sua cabeça, revivia as lembranças frescas do ocorrido naquela tarde ensolarada, agora sem cor... O vento feroz, as flores, as alianças... O casamento de HyunJin arruinado por Min.

Min.

O coração de JiSung pulsou, talvez dolorido, ainda abalado por Min.

JiSung suspirou. Abraçou as pernas. Escondeu as bochechas fofas e rosadas sobre os joelhos. E se lembrava dos dedos gelados acariciando suas orelhas, segurando seu rosto com firmeza... Dos seus próprios lábios, já úmidos e cheios de lágrimas unindo-se aos dele.

Sentiu um calafrio. As orelhas envermelharam.

— Droga...

Não estava, porém deveria se sentir desamparado. Todos pensavam que a magia dominava, que JiSung havia destruído o casamento. Por que isso não o infringia? Por que deixava os pensamentos serem tomados por Min?

A dias Min o perturbava, o fazia sentir estranho. E agora suspirando, olhando a grama em volta de seus pés, JiSung sabia, estava insuportável. Sentia as entranhas formigarem, entorpecerem, como na noite, quando Min beijou-lhe a mão e pela vergonha fugiu para o lençol, sendo sufocado pelo algodão.

Não conseguia mais encarar ao fantasma antes das bochechas esquentarem, de seus olhos piscarem para o chão... E se sentia tímido pelos toques de Min, dos braços em volta de sua cintura, da mão segurando seu cabelo durante as madrugadas...

Mas os sentimentos estranhos passaram. Até que Min o beijou, e novamente sentia-se tão estranho...

Por quê?

JiSung já tinha beijado, quando estava bêbado, se divertindo com criados da mesma idade. Brincando de ser adulto, bebendo gin. Gin, goles e mais goles... JiSung desejou ter uma garrafa ao seu lado: fugir, embebedar-se, livrar dos pensamentos e esquecer de todos, de Bang Chan, HyunJin, e Min. Não ver a eles e por um tempo mais ninguém...

[...]

Por consequência daquela tarde - do uso da magia - o vento se aumentou, e quando da nébula cinzenta grossas gotas caíram, JiSung decidiu retornar...

Já não havia vestígio do casamento.

Dentro da sala, JiSung permaneceu sem erguer a cabeça. Mas percebeu os olhares densos direcionados a si, aos seus fios molhados caídos sobre o rosto, aos sapatos encharcando o piso. Percebeu as auras azuladas, fracas e submissas, de alguns criados calados e mais sussurros pairando pela vasta mansão.

Silencioso, subiu as escadas e pelo carpete vermelho seguiu em direção ao fim do corredor. Os olhos encontraram uma escrivaninha sem Min.

O peito encheu-se de alívio ao saber que ele não estava no quarto. JiSung não sabia o que sentir em relação a Min. O que iria dizer? Iria mais uma vez o confrontar sobre seus atos?

Em pé, JiSung ouviu e se virou devido aos passos desesperados das duas criadas que se aproximaram, e elas vendo seu amado menino tão abatido, com a roupa encharcada, preocupadas puseram a mão em sua testa, nos braços, e perguntaram como ele estava, se sentia fome, se sentia cansado...

[...]

Ji Sung se despiu. Após banhar-se da água mais quente, partiu para a grande mesa, onde em uma das cadeiras Chan o esperava para jantar. Ji Sung sentou na frente do Bang, sem o cumprimentar ou olhar-lhe nos olhos. Separou um prato e agarrou uma concha - antes mesmo que tentassem servi-lo.

— Você esteve mentindo para mim todo esse tempo, sobre dominar magia?

Ji Sung paralisou e a colher foi tomada de sua mão por um criado.

Os olhos do Bang prestavam atenção no mais novo, ansiosos, esperando a resposta correta: — Eu sei o que vi, Ji Sung... Você mentiu para mim?

Um sorriso frustrado escapou dos lábios. — Todos nessa casa acham que eu conto mentiras — Ji Sung largou o prato e se levantou. — Mas eu nunca menti — retirou-se da sala.

Ji Sung voltou para o quarto e mais uma vez ele estava vazio. Não encontrou a Min e acreditou que seria bom não vê-lo também. Fechou a porta, retirou suas vestes. Abriu uma das gavetas buscando o pijama...

— Onde está essa roupa?!

Ji Sung não se recordava, emburrou-se, revirou os lençóis. Bagunçou a cama, o quarto. Quando percebeu e o branco clareou sua mente, foi para o closet e viu o pijama separado, em uma pilha com demais roupas, bem organizada, como Min sempre deixava...

De estômago vazio foi à cama. E pelo roncar em sua barriga, Min saberia que Ji Sung se sentia triste... Deitou-se de bruço e por alguns minutos ficou esperando, esperando que as luzes se apagassem, mas Min não as apagou, porque não estava ali.

Ji Sung se levantou, arrastando os pés pelo chão. Assoprou todas as nove lamparinas... Jogou-se na cama finalmente, esperançoso pelo sono que o faria esquecer de tudo. Mas os pesadelos vieram. A noite toda passou aflito, remexendo-se, com o coração apertado: vendo os coelhos, centenas de coelhos o vigiando pelos cantos do castelo, indo em sua direção.

Pela manhãzinha, quando o sol atravessava a cortina e o clima estava fresco, Ji Sung acordado entanto sonolento, se virou ao lado e viu a extensão de sua grande cama.

— O que ele está fazendo? — esfregou os olhos, respirou fundo.

Foi direto para a janela, para ver Min no jardim cuidando das flores... Puxou as cortinas, mas o fantasma não estava ali.

Minsung - Espectro VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora