FUGA

Capítulo 1

CRISTINE

O ar se fazia tão sufocante enquanto me encontrava completamente sozinha, sentada a beira do mar. Algo em minha mente gritava para que me afundasse em toda aquela água. E outra parte dizia que eu era covarde demais para tomar tal atitude.

Eu amava o cheiro do mar, a sensação da maresia em consumir a minha alma enquanto respiro, buscando forças em meu corpo. Eu costumava apreciar meus momentos matutinos na praia. Mas ficava cada vez mais difícil conseguir aproveitar de qualquer momento naquela manhã.

Enquanto minha mente vagava pela noite passada, eu acariciava meus pulsos vermelhos. Eric Chaput- meu marido- costumava ser um homem atencioso quando nos conhecemos. Sempre charmoso e tão carinhoso, estranho pensar em como as circunstancias mudam. Meu pai me queria fora de casa, segundo o mesmo, eu dava despesas demais. Todavia temia que ele me quisesse longe para que tivesse mais privacidade em machucar a minha mãe, que nunca o teve forças para enfrentá-lo.

E foi assim que meu pai conseguiu o passe para que eu sumisse de sua vida. Quando conheci Eric, não demorou muito para que meu genitor o pedisse que me levasse para bem longe. E eu nunca questionei, eu estava apaixonada, e queria sair logo daquela casa que nunca foi um lar.

Hoje, talvez, me vejo arrependida. Deveria ter pensado melhor. Deveria ter ficado ao lado da minha mãe e ter tido uma boa vida. Mas não era possível. Eu não poderia fazer nada. Quando uma mulher se casa é seu dever servir a seu marido. Minha mãe sempre dizia isso. É como vender a alma para o diabo, e você acaba em um corpo vazio.

-bom dia querida- saio dos meu pensamentos quando meu marido se senta ao meu lado, beijando minha face.

Fico retraída com seu toque, mas me obrigo a sorrir, ainda olhando para o mar. Nossa briga ontem foi ruim, bem ruim. Eric evita me bater na face. Assim evita perguntas quando precisamos ir a cidade, dessa forma ele pode exibir sua doce mulher de rosto doce e intacto.

Dessa vez seu tapa deixou um rubor em meu rosto. Quando esse tipo de coisa acontecia, ele costumava ficar mais carinhoso no dia seguinte. Isso acabava comigo. Saber que o homem que um dia tanto amei, hoje me trás medo.

-Pensei que talvez poderíamos ir a cidade, beber um pouco, nós divertir- Ele parece verdadeiramente sincero quando diz isso, seu tom de voz parece culpado. Aquilo mexia comigo, não posso negar.

- Claro

Respondi simples, vendo seus lábios formarem um sorriso vitorioso. Aquele sorriso que um dia já me fez estremecer.

- Depois que você lavar as roupas no rio, vá se arrumar, coloque uma roupa bonita. Irei preparar o barco para sairmos.

Ele diz de forma tranquila, me dando um selinho rápido sumindo de minhas vistas.

Suspiro cansada, me levantando finalmente. As ondas quebram no meio do mar e molha meus pés, Quando vejo um broche, sem pensar muito me agacho para pega-lo. Era lindo, feito de prata com detalhes em pedrinhas, escrito Louis. Olho em minha volto e não vejo ninguém. Provavelmente alguém deve ter perdido e veio parar aqui. Quando abro, vejo a foto de uma linda moça sorrindo. Provavelmente deve ser a esposa desse louis. Não conseguia jogar de novo no mar. Devia ser algo importante para o dono, então resolvo guardar em meu corpete.

***************

Enquanto subia a montanha que dava para o rio, me equilibrava com o cesto de roupas e tecidos sujos. Aquilo era tão cansativo. Me permitir colocar tudo no chão, quando chego a margem de toda aquela água doce, pego uma roupa e começo a esfregar com o sabão.

Eu não sabia porque, mas lágrimas escorriam do meu rosto como chuva, enquanto lavava toda aquela roupa. Eu estava cansada de tudo aquilo, eu estava cansada de me sentir tão mal. E aquilo nunca acabaria.

Quando termino de lavar as roupas, sinto um alívio. Agora preciso me arrumar para ir a cidade. Aquilo significava que iria ficar horas em um barco, usando roupas que me incomodavam enquanto meu marido se embriagava. Pensar nessa ideia me causava asco.

Ao chegar no nosso chalé, vejo Eric arrumado, com uma postura cuidadosa vindo até mim.

- Eu disse para você se arrumar, está parecendo uma baranga!

Já havia me acostumado com seus insultos "acidentais" mas aquilo doeu.

-Estava lavando as roupas que pediu. Não tive tempo de tomar um banho e trocar de roupa.

Ele me examina da cabeça aos pés, com uma feição nula. Essa que sempre me dava calafrios.

- vamos sair daqui meio hora, se apresse.

Ele diz saindo da pequena sala que havíamos construído a anos atrás, tudo feito a madeira. Me apresso e vou até o banheiro, jogando toda água que havia restado da bacia de roupas em meu corpo. Logo começo a me esfregar com a bucha.

Quando acabo, pego um grande pano para me secar. Indo até o quarto. Vejo um vestido verde água na cama. Sorrio com pensamento de que Eric havia comprado o vestido em uma das suas viagens para uma ocasião especial.

Enquanto coloco o vestido, coloco o broche que havia achado, preso a meu corsete. escuto um barulho vindo da janela. Me apresso para amarrar a parte de trás do vestido, e corro para ver oque é. Meus olhos pairam em um vulto entre as árvores e forço um pouco meu olhar. Nunca tinha visto um animal relativamente grande na ilha. Isso me fez questionar a minha própria sanidade.

-vamos?- pergunta Eric me fazendo sair da janela, e o olhar. Ele estava bonito, com um olhar preso em mim. - você parece assustada.

- Eu estou bem.- respondo sorrindo, tentando manter a calma - obrigada pelo vestido

- Eu sabia que ia gostar, combina com seus olhos e cabelos.

Meus cabelos eram ruivos, num tom claro. E meus olhos uma mistura de verde acastanhado. O vestido realçou meus traços. Mas está longe de ser confortável.

- venha- Meu marido me dá seu braço para que eu o segure.

Vamos andando até o barco, então Eric vai tirando a corda do mesmo. Escuto outro barulho e me viro. Ninguém. Olho para uma pegada na areia. Uma pegada humana, logo começo a mexer o pé para apaga-la. Meu coração está acelerado. Pode ser uma pegada do Eric, meu cérebro argumenta rápido.

Quando entramos no barco tento apagar os últimos acontecimentos da minha mente. Mas oque está acontecendo comigo?