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//Capítulo 3//  


"Eu tenho afefobia"


            Mais uma vez, preparei-me mentalmente para enfrentar a turma; para enfrentar o Calum.

            Eu tinha acabado por não ir ao resto das aulas no dia anterior. Não valia a pena. Por isso, aquela seria a primeira vez que iria enfrentar o Calum depois do que ele me fez e depois do meu ataque de pânico.

           Já tinha passado trinta minutos desde que tocara, e eu, finalmente, tinha decidido bater e abrir a porta.

             "Desculpe o atraso, professora." Eu disse, fechando a porta atrás de mim.

             "Não faz mal, pode entrar."A professora de geometria descritiva afirmou, apesar de eu já estar dentro da sala.

             Olhei à volta e reparei que o lugar ao lado do Calum permanecia vazio, sendo que eu teria de me sentar lá. Olhei para a professora na esperança de que ela já soubesse tudo o que se tinha passado no dia anterior.

             Felizmente, a professora disse, "Calum, importa-se de mudar de lugar?"

             Calum olhou para mim, mas logo desviou o olhar para a professora e assentiu. Fez o que a professora tinha pedido, deixando o meu lugar habitual vazio. Sorri para a professora em agradecimento e sentei-me no meu lugar.

             Honestamente, eu até gosto de geometria descritiva. Se eu vim para esta área é porque gosto de artes, mas não estava à espera de gostar de geometria, principalmente porque nunca gostei de matemática. Mas matemática e geometria são diferentes, apesar de serem baseadas na mesma coisa.

            A professora foi dando a aula, mas não bastou muito até o toque de saída soar. Rapidamente arrumei as coisas e saí da sala. Não foi espanto nenhum quando vi que ainda apenas haviam cinco alunos no corredor, afinal eu costumo sair mais rápido para evitar qualquer tipo de contacto.

            Uma das coisas boas nesta escola é que os intervalos são de trinta minutos, dando-me mais  do que tempo suficiente para me privar do mundo.

           Andei o mais rápido que pude até ao pavilhão de educação física. Não era difícil de lá chegar, pois ficava perto do pavilhão onde tinha tido a última aula.

             Mal cheguei ao meu destino, sentei-me no chão, encostando as costas à parede da parte traseira, onde ninguém vai.

             Era tão bom poder ficar sozinha sem ter ninguém a incomodar. Em casa costumo estar sozinha, exceto aos fim de semana e ao fim do dia, mas é diferente, porque aí eu queria ter a minha mãe ao meu lado a mostrar apoio e não apenas a obrigar-me a fazer aquilo que eu não quero mas que ela pensa que me faz bem.

              O silêncio começava a incomodar-me, por isso liguei o telemóvel e pus uma música a tocar. Não me preocupei em pôr phones porque, como já disse, ninguém vem para a parte traseira do pavilhão desportivo.

             Trinta minutos não são suficientes para fazer uma obra de arte, mas eu tirei o meu diário gráfico para fora para evitar ficar aborrecida durante o intervalo. Não era anormal eu ficar o intervalo a desenhar e nem reparar que tinha tocado, por isso não tinha dúvidas que isso poderia voltar a acontecer hoje.

             Abri numa página em branco, não me preocupando com o facto de que o meu último desenho ainda não estava finalizado. Abri o meu estojo e tirei um lápis B3, visto eu querer que o desenho ficasse com uma cor mais carregada.

Dark Past || Hood [PARADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora