Penumbra

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Não é todo dia que se desperta amarrada ao chão gélido de uma casa, com uma mordaça sufocante. Esse era o enigma de Caitlyn. Mas, surpreendentemente, o medo não lhe assolava.

Diante dela, ele repousava, estático na beira da cama, olhando-a como um predador expectante, prestes a atacar. E ela ansiava por isso.

O porquê de estar ali escapava de sua memória. Talvez fosse pelo flagrante que ela teve dele, esfaqueando um grupo de adolescentes num beco sombrio.

Por que mesmo estava lá? A resposta evaporava de sua mente.

Ele permanecia, segurando um revólver, girando-o no dedo indicador. Ela fitou-o, estudando cada mínimo detalhe (que não eram muitos). Seu cabelo caía em fios desgrenhados, algo que a intrigou. Vestia-se inteiramente de preto, mas o casaco de couro se destacava.

— Não planejava trazer você comigo — ele começou, uma expressão de tristeza misturada com escárnio. Retirou a mordaça. Caitlyn respirou fundo, encarando-o com um misto de raiva e provocação, seu sorriso de canto.

— Não me recordo de nada — respondeu, sua mente um vazio inquietante.

— Qual seu nome? — ele se ajoelhou.

— Caitlyn.

— Hm... Clarice, sou Bill. Billy, se preferir. Mas 'Bill' soa mais... poderoso. "O grande Bill! O mais habilidoso e destemido desta era!"

— Então você é o renomado "assassino da penumbra'?" — ela indagou, arrancando um riso dele.

— Podiam ter escolhido um nome melhor, concorda? 'Espectro' ou 'Veilzel' — disse enquanto preparava algo na cozinha. — "'O temido Veizel reaparece!''

Ele voltou até ela, segurando um prato com alguns alimentos dentro. Largou em frente a ela em uma mesinha que havia ali. Bill retirou uma faca do cinto em sua cintura, mostrou a ela com deboche.

— Não irei te machucar, apenas vou te soltar. — ele falou.

— Por que não? — Insistiu, estava curiosa enquanto ele terminava de soltá-la.

— Morta não tem graça. — terminou de cortar as cordas e fitas.

— Você não está com medo de que eu saia correndo daqui e grite para todo mundo que sei onde você vive?

— Não, sei que não fará isso. — ele largou a pequena faca no chão e a olhou sorrindo simpático — Fiz seu café.

— Pretende me prender aqui com você até meu último suspiro?

Ele se dirigiu até a porta principal da casa, onde ele tirou a maçaneta e mostrou a saída com as duas mãos, novamente debochado.

— A porta está aberta. — Bill falou, deixando Clarice extremamente confusa, mas não queria demonstrar isso.

Ela se ergueu lentamente. O rapaz permanecia na mesa da cozinha, imerso no noticiário da manhã enquanto saboreava seu café. Seus olhos fixos na tela nem ao menos se dignaram a fitá-la enquanto ela passava ao seu lado. Ela hesitou por um momento, incerta se deveria mesmo partir pela porta. Contudo, decidiu arriscar. E partiu.

Bill revirou os olhos ao perceber que a garota realmente se fora.

— Outro dia agitado — murmurou para si mesmo, apanhando o revólver da mesa antes de sair em busca de Clarice.

Enquanto percorria os corredores da casa, discou um número no celular, confirmando que tudo estava pronto para avançar.

Enquanto isso, Caitlyn já se encontrava do lado de fora. Porém, não previu que seria cercada por três homens armados, suas armas apontadas diretamente para ela.

De dentro da casa, Bill observava tudo pela janela, apoiado nos braços, um sorriso irônico curvando seus lábios. Com um gesto de deboche, acenou para ela.

— Você disse que poderia ir embora! — ela gritou na direção dele.

— Eu disse que a porta estava aberta! Não que a liberdade estava garantida — ele riu. -– Estamos no meio do nada, minha cara. Não há saída além da nossa.

Caitlyn olhou ao redor, as peças começando a se encaixar. Estavam em um local desolado, tão deserto quanto um cenário árido. Bill não pode conter o riso e começou a gargalhar da situação. Clarice percebeu que ele não era completamente são.

— Venha, vamos entrar. — continuou ele, fazendo um dos homens segurar brutalmente o braço de Caitlyn e levá-la para dentro da casa.

— Não precisa se preocupar, Caitlyn. Eu prometo que irei cuidar de você. — Bill falou enquanto o outro rapaz colocava ela para sentar no sofá.

— Por que estou aqui? — ela perguntou.

— Querida, eu sou a porra de um assassino. Eu quero que você limpe minha barra, é simples. Eu pago você mais tarde, apenas não vacile… — ele se aproximou dela e puxou novamente o revólver, colocando na testa dela — Se não… Boom… — ele simulou um tiro com a arma em sua cabeça

— Vai me matar se eu não colaborar?

— Vou sim.

— E se eu recusar?

— Eu também vou te matar.

— Então não tenho opção?

— Não.

Ela riu de si mesma, de sua própria situação. Ela não lembrava como havia ido parar ali, nem o que aconteceu antes disso e nem o motivo. Sua memória simplesmente apagou.

Bill estava contente com aquela situação. Ele admirava seu próprio jeito irônico e sarcástico. Seria talvez o primeiro assassino em sua cidade com está personalidade.

— Como faço isso? — ela perguntou.

— Você vai aprender com o tempo.

— Meus pais vão vir me procurar. As pessoas próximas de mim vão vir me procurar. Você sabe disso, não sabe?

— Sei… Mas eu não me preocuparia com isso agora. Vamos, vou te mostrar a casa.

Caitlyn estava confusa e assustada com a situação em que se encontrava. Suas emoções estavam em um turbilhão, um misto de confusão e uma estranha apatia diante do desconhecido. Ela lutava para recuperar suas lembranças, mas tudo o que vinha à mente eram fragmentos confusos e dispersos.

Enquanto isso, Bill, por mais que mantivesse um ar de controle e deboche, também estava imerso em suas próprias emoções obscuras. A excitação pelo jogo de poder que se desenrolava entre eles e a sensação de domínio sobre a situação alimentavam seu ego. Porém, por trás de seu sorriso irônico, havia uma sombra de insegurança, uma dúvida sobre até onde ele poderia controlar a situação e até onde Caitlyn poderia ser moldada para atender aos seus propósitos.

Os dois se enfrentavam, não apenas fisicamente, mas emocionalmente, cada um escondendo suas verdadeiras intenções e medos por trás de máscaras de indiferença e sarcasmo. A atmosfera carregada de tensão e incerteza parecia alimentar o estranho vínculo entre eles, enquanto ambos ocultavam segredos e motivações profundas.

DARK ROMANCE - Bill KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora