Capitulo 1

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  Mais uma noite fria rondando os arredores da vila. Me movia com tanta cautela e naturalidade que era impossível que me vissem, que me reconhecessem.
O vento forte que soprava trouxe até o solado de minhas botas um panfleto. Não hesitei em pega-lo — Procurada — dizia o panfleto. Uma pequena pontada atingiu meu peito quando vira meu nome, em seguida de um preço, em seguida de uma imagem minha, que não fora pintada de um ângulo muito bom.
Estava acostumada com aqueles panfletos por toda parte. É o preço que estou pagando por ser eu. Por ter me tornado quem sou.
  Viver em passos silenciosos e, com uma certa frequência, ter que lidar com os "machões" que tentam me capturar... as vezes é cansativo viver assim.
  Fui até meu lugar preferido em Konoha. A cachoeira. Sentar ali na beira daquele penhasco era libertador. O único barulho que silenciara meus pensamentos, que me deixara em paz. O escandaloso som da cascata. A paisagem de um infinito céu estrelado, e uma lua cheia sobre minha cabeça me arrancaram um sorriso. Era lindo. Eu me deliciara com aquela brisa que soprava meu rosto e balançava meus cabelos, que estavam soltos.
  Em segundos, ouvi algo. Me atentei e me escondi rapidamente, com movimentos leves e rápidos, como se nunca estivesse ali.
Do outro lado da cachoeira, a luz iluminara uma silhueta masculina. Ele estava em pé com a cabeça baixa. Conseguia enxerga-lo mais como um borrão; uma sombra, longe demais. Apesar do som alto da cascata, jurei ter ouvido um barulho grotesco quando os joelhos dele bateram ao chão de pedra. Seus joelhos fraquejaram, e seu corpo escorregara pelas pedras, prestes a cair do penhasco. Meus olhos arregalaram e as batidas em meu peito aceleraram. E algo dentro de mim implorara para que eu corresse o mais rápido possível até ele. Queria lutar contra meus instintos, deixar que o destino dele não me envolvesse. Não queria fazer parte de mais alguma coisa, não queria ser responsável pela morte dele caso fracassasse em salva-lo, não poderia viver carregando mais um fardo. Mas não consegui, meus instintos foram mais fortes. Eu precisava salvá-lo. Precisava tentar. Não. Eu iria conseguir.
Então eu corri, corri o mais rápido que pude até o outro lado, contornando a extensa cachoeira que gritava. Perto o bastante, atirei uma kunai em sua direção, a mesma prendeu sua camisa em uma rocha e ele ficou pendurado mas, logo, sua camisa começara a se rasgar. Então precisara correr mais depressa.
Quase perto o suficiente para puxa-lo até mim, sua camisa se rasgou por completo e seu corpo começara a cair outra vez. Fui mais rápida e segurei a katana que ele levara consigo. Grunhi ao precisar usar tanta força para segura-lo. Mas não durou muito tempo, a katana se soltou e agora eu só segurara sua espada em minhas mãos.
Eu tinha que salva-lo.
Não pensei duas vezes quando joguei a katana até a superfície e pulei atrás daquele homem. Assim que seu corpo mergulhou aquelas águas frias, eu estava logo atrás. Nadei e mergulhei o mais rápido que pude para alcançá-lo. Meus lábios tremiam de frio. Me livrei da minha jaqueta para me mover com mais agilidade, até que finalmente alcançei seu braço.

                                       ———

  Foi quase impossível carregar aquele homem para fora do penhasco. Coloquei seu corpo deitado no chão e percebi que seu peito não se movia. As curvaturas delineadas de seus músculos tinham arranhões e alguns hematomas, causadas pela queda. Fiquei pensando no que poderia ter deixado um homem de 1,90 metro tão fraco a ponto de cair dali. Seu corpo estava praticamente impecável, tirando os hematomas causados pela queda.
Levei meu ouvido até seu peito. Sem batimentos. Sua pele estava fria, seus lábios mudando de cor. Apliquei técnicas de primeiros socorros... nada. Um xingamento escapou de meus lábios e me mexi o mais rápido possível para carregá-lo até a minha casa.

                                        ———

  Deixei seu corpo em cima do sofá enquanto descia até o meu porão para pegar medicamentos e injeções. Voltei e procurei qualquer sinal que o seu corpo desse. Poderia ser envenenamento, alguma hemorragia interna, droga. Era difícil saber.
Coloquei minhas mãos sobre sua cabeça, seus olhos...
Seus olhos foram arrancados. O sangue já seco.
Mais uma vez o meu instinto insistindo para que eu o salvasse. Para que eu usasse o meu poder para cura-lo.
A tanto tempo eu vinha destruindo coisas e, finalmente, poderia curar algo, consertar.
Então o fiz.
Coloquei as mãos em seu peitoral e transferi toda minha força e energia para aquele homem. Minhas veias brilhavam em um tom de azul claro, trabalhando para revivê-lo.
Grunhidos escapavam por entre meus dentes, e minha mandíbula ficara tensa de dor. Meu coração batia mais lentamente e minha visão começara a escurecer um pouco. Tinha esquecido dessa sensação. A sensação de quase estar morrendo para consertar algo, para salvar alguém. Uma vida em troca da outra. Mas não poderia morrer por um estranho, meus instintos diziam para que eu o curasse e vivesse. Mas ainda não sabia como.
A fraqueza estava tomando conta de cada célula minha. Mas, finalmente, o estranho deu um sinal de vida. Seu peitoral começou a se mover, retirei minhas mãos de seu corpo e respirei fundo ao sentir o ar de vida invadindo meus pulmões — estar fazendo aquilo era como respirar o ar da morte. Era como a morte, como os últimos minutos de vida, os mais dolorosos — Pelo menos ele estava respirando.
  Precisei de algumas horas para me recuperar. Colocara minhas mãos sobre o peito dele a cada cinco minutos para conferir se ainda respirava.
Sentei ao seu lado e comecei a analisar seu rosto. Seu cabelo curto e castanho ainda estava molhado, suas sobrancelhas nem grossas nem finas. O seu nariz era delicado, mas suas mandíbulas eram marcadas e um tanto rígidas. Me arrepiei com a sensualidade que seus lábios transmitiam, e todo o resto do seu rosto, em conjunto. Quem fora aquele homem.

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⏰ Última atualização: Dec 21, 2023 ⏰

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