Corríamos sobre os campos floridos, o cheiro das plantas e do orvalho nos cercavam.
Aquela memória ainda me trazia tanto conforto.
Nossos pés descalços como crianças, minha saia alva levemente suja pela terra, sua camiseta no mesmo tom.
Sorrio esquecendo da minha velhice.
Éramos jovens tão apaixonados e tão fervorosamente dedicados a caminhar juntos durante toda a nossa vida.
Me permito viver novamente aquele momento, volto novamente para o campo, minhas rugas e fios brancos desaparecem, e uma força que não sentia a anos invade meu ser.
— Sophia!
Aquela voz... Tão cuidadosa e, ao mesmo tempo tão divertida.
— Emanuel...
Corro em sua direção.
Aquele homem... Aquele jovem rapaz...
— Vamos logo, combinei com seu pai que te levaria de volta antes de o pôr do sol, e quero que você veja uma coisa.
Aquele sorriso tão doce...
Apresso meus pés que agora não doem mais.
Sinto minha alma ser renovada a cada minuto enquanto corremos livres.
Há tantos anos não sinto o vento fazer cócegas em meu rosto...
— Se eu chegar primeiro você me deve um pouco daqueles bolinhos de chuva
Pronunciou em alto som, estando a alguns metros de mim.
— Covarde! Está fazendo uma dama correr atrás de você
Gargalho enquanto me divirto o vendo parar em meio a tropeços.
— Está se divertindo com isso?
Se aproxima gentilmente, à medida que também paro de correr.
—Por quê? Não posso?
Seus olhos brilham.
— Para sua informação, dama
Ele dá enfoque para a palavra, me fazendo rir.
— Eu estou indo na frente porque só eu sei onde está a surpresa que preparei
Tocou gentilmente minha testa com seu indicador.
— Então me deixe ir do seu lado
Minha voz mansa convence o homem, fazendo-o soltar uma expressão delicada e carinhosa.
— Tudo bem
Sua mão cobre a minha, e a segura firmemente, fazendo passar por meu corpo uma onda de calor.
Seus olhos cintilantes me questionam, e eu afirmo.
Voltamos a caminhar, enquanto ele me guia.
Observo a vista do horizonte, um céu azul e um gramado pintado pelas cores da estação.
Respiro profundamente aquele ar puro que o mundo havia deixado no passado.
E antes que pudesse chamar seu nome para admirar junto comigo a criação, senti sua mão soltar a minha, e delicadamente cobrir meus olhos.
— O que —Fui interrompida.
— Confia em mim?
— O que vai fazer?
— Confia em mim para te levar?
Assinto e posso sentir seu cuidado ao andar.
— É por isso que faltou no devocional da manhã?
— Praticamente sim, mas avisei nossos líderes antes
— Eles não me falaram nada
— Eu pedi para eles não te falarem
— É bom que seja algo agradável, ou vou ficar chateada
— Mulher ansiosa, confia em mim!
Escondi meu divertimento por trás do carinho da sua pele sobre a minha e o deixei me conduzir.
Emanuel Azevedo de Lima, meu melhor amigo de infância, companheiro de orações e o homem por quem eu escondia um amor até então não correspondido.
Meu amor por ele não surgiu com qualquer esperança de um relacionamento.
Aos 6 anos nos conhecemos, quando completou 10 anos nos afastamos quando seu pai fugiu para outro estado com ele, na tentativa de poder recomeçar sua vida sem sua mulher, porém enfim aos 16 anos voltou para cá para poder ajudar sua mãe, e foi acolhido por nossa igreja, algo raro na época de se achar, considerando que por mesmo sem consentimento mútuo, a senhora não se encontra mais em um relacionamento com seu próprio marido.
Quando Emanuel retornou, senti os sentimentos daquela antiga amizade retornarem, mas quando me dei conta a admiração que supria por ele aumentava a cada vez que o via orando, louvando com sinceridade de coração, brincando com as crianças... Ou talvez aquele bendito dia em que nossos líderes haviam permitido que ele dirigisse nosso devocional matutino foi o dia da sentença da minha paixão.
Por 3 anos tentava esconder todas as vezes que minhas bochechas queimavam com sua presença, ou o olhar apaixonado que inconscientemente surgia quando o ouvia falar de Jesus.
Estava verdadeiramente me esforçando, porém, mesmo em meio a memórias tão doces, lembrava da dor que sentia momentos antes, quando percebi seu afastamento repentino, e me culpava por não ter acabado com esses sentimentos assim que os percebi, e simplesmente não ter voltado ao simples sentimento de pura amizade.
Minha realidade foi distanciada, os pés dele pararam.
— Tudo bem, eu só preciso... Certo, consertei, olha eu preciso que me prometa que não vai fugir
— Fugir? Como assim fugir?
— Eu prometo, nada pode te machucar... quer dizer, eu não sei... não pode te machucar fisicamente!... E a qualquer momento que quiser ir embora eu vou te levar sem questionar, tudo bem? Só me prometa que não vai fugir
— Eu jamais fugiria de você
Sinto sua respiração se acalmar.
— Tudo bem, eu confio em você
Seus dedos destampam meus olhos com cuidado.
Vejo seus cabelos um pouco arrumados demais após ter corrido tanto, e logo em seguida seus olhos cor de mel um pouco inquietos. Não consigo tirar meu foco de seus olhos.
— Está pronta?
— No momento, julgo pelas suas atitudes estranhas que você quem não está pronto
Aquele sorriso... Dessa vez um pouco vacilante.
Seu corpo então sai da minha frente, e eu posso ver enfim sobre o que ele tanto falava enquanto vínhamos.
Até então eu nunca havia ido até aquele lugar, nunca havia visto qualquer coisa parecida.
Uma planície branca, coberta pelos dentes de leão, no momento só consigo assimilar aquela imagem com a visão do maná cobrindo o chão do deserto.
Meu olhar viaja pelo lugar, quando encontra o tecido listrado esticado sobre a grama, e sobre ele uma bíblia e uma cesta.
— Isso é... lindo.
Sua mão dessa vez um pouco úmida, segura a minha novamente, e me leva entre o caminho de pedras que eu não havia visto antes.
Meus pés doem um pouco.
Ao pouco que nos aproximamos, posso perceber uma pequena carta saindo entre algumas páginas da bíblia.
— Não está muito arrumado, mas...
— Está perfeito.
Por um instante vejo seus olhos brilharem, não sei se em satisfação ou gratidão.
Meus pés tocam o pano.
— Posso me sentar?
—Ah! Claro.
Seu agir se torna um pouco sem jeito.
Seguro minha saia, e logo consigo encontrar um pedaço do tecido para mim.
Observo um pouco mais o local enquanto Emanuel se senta na minha frente e segura a bíblia firmemente.
— So
Chama meu apelido e volto meu foco para ele.
Emanuel respira profundamente, mas finge um sorriso depois.
— Desculpa tanto suspense
— Tudo bem, valeu a pena
Um silêncio reconfortante tomou o ar, e senti sua confiança voltando
— Podemos ler um pouco?
Sua mão com a bíblia se levanta, e eu aceno um sim, com a cabeça.
Seus dedos percorrem os livros finais, seus olhos tão concentrados.
— Está procurando um versículo específico?
— Um que refleti esses dias
As páginas param.
— É na carta de Paulo para a igreja de Corinto
— Primeira ou segunda?
— Primeira, capítulo 13
Guardo as informações em minha mente.
— Posso começar?
— Uhum
Emanuel puxa ar.
— Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
Minhas pupilas dilatam ao lembrar do capítulo.
Ele continua.
— E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
— E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
Um sorriso de canto surge em seu rosto quando repito a frase gravada em minha mente, e eu finjo não te-lo visto.
— O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece,
— Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
— Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
— Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
Dou ênfase na palavra, percebendo somente após ser dita.
— O amor nunca falha; mas, havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
— Porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. Mas, quando vier o que é perfeito, então, o que o é em parte será aniquilado.
— Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
— Porque, agora, vemos por espelho em enigma; mas, então, veremos face a face; agora, conheço em parte, mas, então, conhecerei como também sou conhecido.
— Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes...
— É o amor.
Sua feição doce se foca em mim, e posso jurar que estou corada.
— É muito bonito
Desvio meu foco de seu rosto, falando qualquer coisa enquanto busco me desconectar da vergonha.
— Muito profundo, a cada vez que leio esse capítulo percebo mais coisas
— Como o quê?
— Nada vale a pena se não tiver amor, eu poderia fazer todas as mais belas ações, ter o maior nível de sabedoria, viver todos os dias servindo na casa do Senhor, mas se eu não tivesse amor, do que adiantaria? Amor não somente por Deus, mas também amor pela vida e por alguém, eu posso ter a maior fé do mundo, posso ser a pessoa mais bem entendida, sem amor, eu não sou nada, não só um amor fraco, mas aquele amor que Deus nos ensina, o amor sofredor, esperançoso, empático, manso e cuidadoso.
— Esse amor... se todos vivessem esse amor tudo seria tão mais fácil
— Sei bem
— Desculpa, eu não quis...
— Tudo bem, você não tem culpa do que aconteceu com meus pais
Nossos olhares são fixos um no outro agora.
Nossa dor não é a mesma, mas encontramos conforto um no outro desde pequenos.
— So
Ele tirou a carta do meio das páginas. O selo vermelho já tinha sido aberto.
— Lembra que a Madalena e o Saulo me chamaram para conversar depois do culto de domingo?
Lembro de meus líderes e Emanuel conversando quando fui embora, e confirmo.
— Eles vieram me entregar isso... é uma carta de uma das igrejas parceiras da nossa, para ser mais direto é uma igreja de uma cidade vizinha de onde eu morava com meu pai.
Sua voz vacila, e várias possibilidades ecoam na minha mente.
— Eles precisam de ajuda na obra, vão construir uma nova igreja em um lugar onde ainda não existe igreja, por isso o pastor de lá vai enviar vários dos obreiros para lá, e vai ficar com uma necessidade grande de voluntários.
Meu peito pesa. Meu amigo pausa sua fala para respirar.
— Nossos líderes comentaram que eu tenho interesse em aprender mais sobre pastoreio, e eles me convocaram para servir e ser treinado pelo pastor daquela igreja.
— Então você...
Não encontro palavras para completar a frase.
— Em até 1 ano eu preciso me mudar para lá
O homem que eu amo... De novo tão longe.
Não consigo formar uma frase. Não consigo conter a ferida em meu peito, então abaixo meu rosto antes que ele possa ver a lágrima cair.
— Eu já conversei com a minha mãe e o pastor, meu pai conhece um homem que vai me dar um bom emprego lá, então eu... talvez seja a última vez que nos vemos.
Lembro-me de quando éramos crianças, meu rosto vermelho o encarando enquanto se afastava quieto junto com seu pai, orei por tanto tempo que voltasse para mim, e agora que o tenho de volta, Deus o tira de mim novamente.
Me culpo por estar triste por quem eu amo estar indo em direção ao seu sonho e ministério, mas não posso evitar o sentimento.
Tamanha tristeza me lembra aos poucos que essa memória tem 40 anos, mas me recuso a cortar essa lembrança na metade.
— So, eu te trouxe aqui para poder me despedir... eu não me despedi de você da última vez, e foi o maior arrependimento de minha vida
Meus olhos se levantam úmidos para os seus, não sou a única a chorar.
— Quando você foi... eu senti tanto sua falta... eu orei tanto para poder te ver de novo
Sua mão cobriu a minha
— Não chore Sophia, eu não acabei de falar.
Delicadamente posiciona a bíblia onde ela se encontrava quando viemos.
Ele se aproxima, sentando ao meu lado.
Um carinho singelo acaricia minha mão.
— Eu não posso ir embora assim, não de novo
Não consigo perguntar.
— Sophia, eu sei que eu não fiz isso da melhor forma, mas... desde que eu voltei, eu não consigo pensar em mais ninguém sem ser você
Minhas sobrancelhas se levantam.
— Você...
Minhas bochechas queimam.
— Eu voltei completamente quebrado da casa do meu pai, eu vivi várias coisas que hoje me arrependo, eu vivi 6 anos no mundo, afundado na ansiedade, sem saber nem sequer quem eu era... me afundei na dor, e questionava Deus... se Ele existia, por que me fazia sofrer tanto? Por que tinha deixado tudo aquilo acontecer com meus pais?
O arrependimento banhou sua voz.
— Quando minha mãe adoeceu e eu vim para cá, eu... em um dia complicado, questionei muito Ele, e num impulso fui para igreja, eu queria abandonar toda a fé fraca que eu ainda tinha... eu só queria descontar minha raiva em Deus de uma vez e ir embora
O olho assustada.
— Naquele dia eu achei estar sozinho, mas eu te encontrei na igreja e acho que você não lembra, você estava... orando claro, mas... nunca havia te visto tão fascinante, lembro que você se assustou quando me viu, sua reação foi fofa...
— Essa tarde... eu ainda me lembro.
— Eu esperava descontar e receber ódio por Deus, mas naquela tarde você foi tão gentil comigo, lembra da conversa que tivemos?
Me esforço, mas não consigo me lembrar
— Desculpa...
— Tudo bem, eu não esperava que lembrasse mesmo, mas eu te perguntei por que você estava lá em um horário tão aleatório
Aquele sorriso voltou.
— "Deus tem cuidado de mim mesmo quando eu acho que ele não está, se ele não nega me proteger independente do momento, eu também deveria o adorar independente do horário", após dizer isso você me deixou sozinho refletindo
Minha mão é segurada mais firme pela sua.
— Mesmo sendo algo tão simples eu fiquei pensando sobre isso, e decidi orar uma última vez... "Se o Senhor está cuidando de mim, me mostre"
Seu olhar se desvia para o horizonte.
— Eu nunca vou conseguir expressar o que aconteceu... eu senti, So, senti algo entrando em mim, eu estava vazio... e então de repente eu fiquei tão bem... eu só conseguia chorar, eu não merecia ser restaurado, eu tinha ido falar coisas tão rudes e tratar Deus com tanta arrogância, e Ele enviou você para me guiar.
Posiciono minha outra mão sobre a sua.
— Eu... não sabia disso
Tão repentinamente, Emanuel se levanta, me puxando por nossas mãos ainda unidas.
Desestabilizo-me, quase caindo, mas sua mão me segura
— Sophia
Sua voz sai em meio ao riso
—Acho que nunca percebeu todas às vezes que me esforcei para estar perto de você depois desse dia, eu queria entender que amor era esse que tinha acabado com toda escuridão que eu sentia, e você era e sempre foi a pessoa que me incentivou espiritualmente, e hoje por causa disso eu estou vivendo o melhor momento da minha vida, eu vou viver meu sonho
Sorrio. Mesmo com medo fico contente que esteja bem.
— Você esteve comigo no meu pior momento, e eu espero que esteja comigo nessa nova fase da minha vida, eu vim me despedir, mas não de você, e sim de tudo o que passamos antes desse momento.
— O que você...
Antes que meu espanto se transformasse em uma frase, Emanuel se ajoelha em minha frente.
— Sophia, se aceitar se casar comigo eu prometo te amar assim como Cristo amou a igreja, prometo me esforçar a cada dia para me tornar um homem cada vez melhor para você, prometo te abraçar quando quiser chorar, e te defender quando precisar, vou te tratar como uma dama, e nunca vou deixar sua fé e suas virtudes sejam prejudicadas por minhas ações, eu prometo que vou cuidar de você nos mínimos detalhes, e com isso te provar a cada dia que o amor de Jesus é muito maior do que o amor que eu posso te oferecer, e por fim o mais importante, eu te prometo que vou ser uma boa base para nossa casa, vou buscar constantemente a Deus, e assim vou saber como devo agir da melhor forma, vou construir nossa família sobre a rocha firme de Jesus, e jamais vou desonrar você ou a Deus, eu sei que minha história não é a mais confiável em relação a casamentos, porém eu te juro, se me der uma chance eu jamais vou errar assim como meu pai errou, eu sei que gostava de mim quando criança... eu fiz coisas que não me orgulho enquanto estava fora, e ainda assim posso te garantir, o velho homem que mandava sobre mim, morreu, e o novo homem te ama e admira como jamais antes.
Perco o fôlego a cada palavra, e sinto a lágrima cair de meus olhos, dessa vez não de tristeza ou medo, mas por amor e felicidade.
— Sophia, aceita buscar a Deus comigo pro restos das nossas vidas?
Não consigo conter o resto do choro quando o vejo tirar a caixinha da cesta.
— Esperei tanto por você que achei que nunca sentiria o mesmo por mim
Impulsiono-me em sua direção e o abraço forte.
— Eu te amo Sophia
Sua última afirmação que me recordo daquele dia me joga para o presente, me obrigando a soltar aquela lembrança tão amada.
Respiro fundo retomando as dores da idade, e sentindo novamente as rugas em meu rosto.
— Eu também te amo Emanuel
Acaricio suas mãos também já marcadas pelo tempo.
Sorrio escondendo as lágrimas.
— Obrigada por tudo
Reflito por alguns segundos antes de beijar o véu sobre sua testa.
— Eu não poderia pedir a Deus algo melhor, eu vou sentir sua falta, mas sei que sua missão aqui já acabou
Observei suas pálpebras fechadas, e seu rosto em uma feição relaxada.
— Sabe... Naquele dia você me disse que eu tinha sido usada para te mostrar o amor de Deus, mas foi você quem me ensinou sobre o amor Dele.
Soltei suas mãos para poder arrumar sua gravata pela última vez.
— Você foi um bom homem, o melhor que já conheci
Tento esconder falhamente meu choro.
— Que Deus te acolha no céu, meu amor.
— Pastora
A voz da diaconisa me surpreende, tinha esquecido que não estava sozinha.
— Desculpa atrapalhar, eu queria me despedir, vou ter que ir embora mais cedo
— Tudo bem, obrigada por vir, tenho certeza que ele ficaria feliz em saber que vocês vieram.
Por um momento seus olhos se focam nas mãos de Emanuel, e posso perceber que encara a aliança dourada.
Um sorriso surge em sua face.
— Eu sempre admirei o amor de vocês.
Sorrio em agradecimento.
— Espero poder ter um casamento como foi o seu.
— Não precisa se preocupar com isso, espere em Deus, se firme Nele, e Ele vai preparar tudo
— Eu sei que não é o momento certo, mas... tem algum conselho sobre como saber se é o homem certo?
Respiro profundamente antes de responder.
— Se case com um homem que coloque Deus em primeiro lugar, se Jesus não é a prioridade dele, ele não vai saber te amar como Cristo te ama.
Sorrimos levemente em sintonia, e a mulher se afasta.
— Obrigada
A vejo ir embora, e meus olhos captam o olhar curioso de um de nossos membros mais novos a seguir.
Rio em nostalgia.
—Acho que logo não seremos mais os únicos, depois de te conhecer acho que é impossível que ele não saiba como tratá-la.
Ergo meus olhos para a placa atrás do caixão.
"Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda"
Mesmo sabendo que já havia lido esse texto milhares de vezes antes, senti como se o lesse pela primeira vez.
— Obrigada Deus.
Sorrio, e me desfaço enfim das memórias por aquele dia.
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Velhas memórias de um campo florido
Short StorySophia revive suas memórias antigas, quando era apenas uma jovem adulta, esperando por 3 anos que seu amor fosse reconhecido por seu melhor amigo de infância, que após 6 anos em outro estado finalmente retornava para a cidade natal. Velhas memórias...