Havia algo semelhante à ansiedade na forma com que Luciano parecia ser incapaz de ficar mais do que dez minutos sem tocar qualquer pedaço do corpo de Martín.
Os dois homens passaram algumas horas no quarto, com o argentino dizendo que precisava checar um pouco mais de seu e-mail no notebook, enquanto Luciano optava por gastar aquele tempo assistindo a uma partida do Brasileirão.
Martín surpreendeu-se brevemente com o quanto aquele simples ato de assistir a um jogo de futebol, vindo de livre e espontânea vontade de um dos melhores do mundo desse mesmo esporte, lhe deu uma imensa sensação de satisfação.
Quase como se aquilo pudesse significar, de alguma forma, que Luciano não estava tão distante assim daquela paixão que nascera e crescera com os dois homens.
Mas o moreno não permitia que o jogo transcorresse nem por dez minutos sem o pausar em seu iPad, se levantando da cama com qualquer desculpa – ir ao banheiro, buscar um carregador, tomar um copo de água – e aproveitando para usar de suas mãos, lábios, nariz, bochechas para acariciar rapidamente o rosto do argentino.
Martín tinha tentado introduzir mais uma vez, durante uma conversa, a possibilidade de ambos voltarem a jogar e morar na Inglaterra. E os dois notaram-se mutuamente presos num sentimento de "eu faço o que você quiser, apesar de isso me desagradar um pouco": Luciano demonstrou-se estar predisposto a aceitar a ideia de Martín, ainda que claramente desgostoso com a noção de voltar para as terras britânicas nas quais os dois compartilhavam toda sorte de memórias; e Martín pensou em escolher outro time, outra nação, ainda que sua maior vontade residisse em atuar pelo Manchester City.
Eles não conseguiram, mais uma vez, entrar num consenso quanto a toda essa questão.
E Martín viu-se ainda mais atrelado a um impasse quando um de seus maiores receios parecia estar se concretizando, ao analisar as respostas que já tinha recebido das pessoas que contactara durante a manhã: era óbvio que nenhum time rejeitaria ter dois dos maiores jogadores do mundo em seu elenco.
Mas o valor de mercado de Luciano estava, definitivamente, muito mais baixo do que o de Martín.
Pela cruel lógica desse mesmo mercado, era óbvio que o valor do moreno teria diminuído depois das péssimas temporadas dentro e fora da seleção brasileira. Mas o argentino não queria que isso sequer se tornasse um tópico de conversa entre eles.
Martín não poderia admitir que Luciano, enquanto seu ídolo na profissão que o loiro escolhera amar e se dedicar por toda a vida, se sujeitasse à uma posição inferiorizada na dinâmica daquele relacionamento que eles tentavam reconstruir.
Havia a vantagem de que, à altura em que eles se encontravam financeiramente naquele momento, dinheiro não fosse mesmo o principal fator de escolha para ambos.
Mas Martín pensava que, se não fosse um fator de importância, então não deveria ser um fator que significasse, de qualquer forma, uma discrepância entre os valores dos dois homens enquanto profissionais.
Martín se encontrava perdido nesses pensamentos quando sentiu leves cócegas abaixo de seu queixo, com três dedos morenos e brincalhões acariciando-lhe ali.
Luciano se encurvou para que seus lábios se encontrassem com os do argentino, pela sexta ou sétima vez durante aquelas horas em que eles passaram "separados".
"Ele vai se enjoar de você se continuar desse jeito", Martín viu-se atacado, como usual, por um de seus pensamentos, respondendo-o com um girar de olhos quando o brasileiro se afastou para ir ao banheiro, dizendo que os dois deveriam se arrumar para o almoço e para o passeio conseguinte na residência de Luna e Mai.
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Private Dreams (BraArg) (PT-BR)
Fanfiction"Eu não acho que será possível para o Brasil conseguir se reerguer de todo o vexame futebolístico que ele tem enfrentado nas últimas décadas. Esse maluco deveria simplesmente desistir do papel de melhor do mundo, porque ele realmente não é mais". Es...