Certa vez, Astarco parou em uma academia romana. Lá, deparou-se com as estátuas de Minerva e dos grandes pensadores. Decidiu, então, adentrar. No pátio, presenciou apenas a opulência e os nobres discutindo asneiras sobre festas e o poder militar de Roma. À medida que avançava, foi abordado por um guarda, que disse:
- Um momento, senhor. Este não é o seu lugar. Vai pedir esmolas na praça.
Astarco sabia que suas vestes incomodavam, então respondeu:
- Senhor, estou aqui para dar aula! Não está vendo?
O guarda, em resposta, sacou sua espada e disse:
- Vai embora. Esta escola é exclusiva.
Astarco, então, saiu e subiu na fonte da praça da cidade, onde começou a ironicamente gesticular e perguntar:
- Senhores, um minuto de seu tempo. Acabei de perder o direito de aprender. Alguém pode me ajudar?
As pessoas ignoravam Astarco e suas indagações. Até que um homem se aproximou e questionou:
- Está dizendo que todos devem entrar e estudar nas academias?
Irado, Astarco respondeu:
- Senhor, o conhecimento e a educação são alimento para o corpo intelectual. Privar o povo e excluir este direito é como beber veneno, gota por gota. Ainda que não morra, sofrerá até definhar.
Neste momento, Astarco percebeu que estava falando com um professor, o mestre Tibério, um professor de filosofia e oratória. Tibério rebateu:
- Então está dizendo que os templos da sabedoria devem ser acessíveis? Isso não irritaria os patrícios?
Astarco desceu da fonte e disse ao público:
- Se todos fossem sábios, pergunto ao grande mestre, poderíamos contribuir melhor para o povo e nossos semelhantes?
Tibério respondeu, esquivando-se da pergunta:
- Entendo o que fala, mas creio que a escola não causaria este impacto no povo tão rapidamente. Não é possível tornar todo um povo sábio e instruído, afinal, cada um tem suas particularidades. Eu pergunto, como faria para educar um povo?
Astarco se aproximou de um trabalhador, cujas roupas denotavam que ele puxava cargas pesadas o dia todo, e respondeu ao professor:
- De fato, o que diz é verdade. Cada ser humano é único em natureza, mas o pensamento racional é um axioma. Se houver uma forma de ensinar este homem a refletir sobre seus atos, a ser dócil ao exercício do pensamento, então ele será uma pessoa melhor. Se este homem pudesse ler e escrever, se este trabalhador pudesse compreender a matemática das coisas e como o mundo funciona, ele saberia como comportar-se. Digo a todos que, se pudéssemos ter um lugar onde as virtudes e os valores pudessem ser examinados, absorvidos e exercitados, teríamos uma sociedade mais inclusiva. E, terminando meu argumento, se o povo tivesse como aprender as leis, os direitos e deveres, além de compreender como a política e a jurisprudência funcionam, seríamos conscientes e pensantes nas coisas públicas.
Tibério então respondeu:
- Mas, de fato, meu caro sábio colega, isso custaria muito. Os nobres e os patrícios não aceitariam.
Neste momento, Astarco percebeu que Tibério havia colocado-o contra a parede, mas não se deixou abater:
- É porque eles não veem longe, o que é normal para uma sociedade ignorante e que aceita receber muito pouco. Nada que tu juntas em sua casa é durável. Nenhum metal dourado perdura para sempre. A única coisa que é eterna é o conhecimento. Portanto, devemos distribuí-lo para que a inteligência e a sabedoria floresçam. É por isso, meu senhor, que a sociedade está se encaminhando para o colapso. Eis o fim de Roma em corrupção. E, perdoe minha ousadia, mas atesto que qualquer império do mundo cai quando sua base é ignorante e desnutrida de inteligência e experiência. Afinal, somos seres finitos dotados de vontades. Precisamos que a inteligência e a sabedoria norteiem nosso coração.
Astarco olhou para a multidão e continuou. Estava mais do que pronto para demonstrar seus argumentos:
- Vejo que, quando formos verdadeiramente educados nos saberes, chegaremos a ver algo muito mais singelo e importante: a liberdade. Estamos presos a coisas que nos distraem. Por isso, as escolas estão cheias de ideias que não são importantes. Precisamos mudar isso. Devemos formar cidadãos, criar um sentimento de pertencimento. Somente assim alcançaremos a verdadeira democracia. Quando isso acontecer, não haverá corrupção, pois as virtudes nos limitarão. Não haverá leis injustas, pois os justos governantes se sentirão incomodados e inclinados a sempre seguir sua ética e benevolência. E as escolas, meu caro, serão de fato templos, onde os alunos despertarão suas divindades, e os professores serão guias éticos.
Tibério completou:
- Tal escola que deseja fundar, tem espaço para mim?
Astarco respondeu prontamente:
- Sim, há espaço para qualquer um. Mas vou advertir, ensinar é arte e vocação. Não posso pagar, mas seus alunos pagarão com as glórias que alcançarem. Observe e veja, quando testemunhar o progresso deles, estará ali o sustento merecido.
Então, ambos começaram a ensinar os pobres a ler e escrever, a entender as leis e a relação da matemática com a vida.
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Os discursos de Astarco
Historia Cortauma coletânea de discursos filosóficos em formato de contos, onde o personagem Astarco, vive como um mendigo na era de Roma, questionando o sistema e o pensamento da época, com muitas metáforas, será que seus discursos podem ser usados hoje em dia ?