O que está acontecendo? Eu estava em paz quando você chegou...

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- Muito muito muito obrigada!!!! Meu Deus, ele é muito lindo!!! Do jeito que eu sempre sonhei! 

   Eu não conseguia parar de chorar. Finalmente, eu tinha ganhado o meu primeiro instrumento musical! Antes do violão, eu tive apenas uma marimba, que era mais um brinquedo do que um instrumento sério, mas mesmo assim eu conseguia tirar altos sons daquele bagulho, fazendo música apenas de ouvido.

   Abracei meus pais tão forte que não quis soltar nunca mais. Pela primeira vez, depois de tanto tempo de brigas, pareciamos uma família feliz de novo. Apenas por um momento, pensei que tudo se passava apenas de um sonho ruim.

   - Feliz aniversário, Cacá!!! Você é uma menina muito especial, um presente de Deus na minha vida e de toda família! Nós te amamos demais, minha florzinha! Nunca se esqueça disso. 

   - Eu também amo vocês demais… 

   Depois do abraço e das palavras da minha mãe, meu pai não disse nem um piu. Ele sempre falava coisas bonitas em todos os meus aniversários, me abraçava, brincava comigo e coisas tipo isso, mas dessa vez, ele não tinha dito nada. Nem um feliz aniversário. Claro que o violão era um presente foda e provavelmente, ele tinha ajudado a pagar, mas… Talvez eu estivesse querendo muito, não sei…Será que eu estava sendo ingrata?

   - Adivinha quem veio te ver também? 

   - Não me diga que… 

   Quando viro para trás, lá estava: minha vózinha!!! Eu estava a alguns anos sem ver ela porque estávamos morando e nos mudando para muito longe de Belo Horizonte e não sobrava tempo nem para visitarmos ela. 

   Eu sentia muita saudade do tempo que vivíamos todos juntos com a família da minha mãe, mas sabia que isso não seria possível nunca mais. Nenhum de nós era mais o mesmo. Era impossível convivermos em um mesmo lugar em total paz e isso me entristecia muito…

   - Vovó!!! - Fui correndo abraçar ela e chorar mais do que eu já tinha chorado.

   - Surpresa!! Feliz aniversário, minha netinha favorita!! - Ela quase caiu no chão com o abraço que eu tinha dado nela. - Ahh quantas saudades eu estava de você, meu anjinho!!

   - Eu também estava, vovó… Com muitas saudades… Não quero ficar longe de você nunca mais! 

   - A vovó promete vir visitar você mais vezes, meu amor!

   - Não! Eu não quero visitas! Eu quero voltar a morar com você!!

   - Cássia, por favor… Não começa… - Meu pai finalmente tinha aberto a matraca, mas foi para mandar eu calar minha boca. 

   Eu não ia falar nada sobre as brigas dos meus pais com a minha vó. Não queria preocupar ela com isso. Mas mesmo assim, meu pai mandou eu ficar quieta, sendo que eu não falei nada demais. Eu não podia falar nada sobre o que estava acontecendo dentro de casa, para ninguém. E isso me fazia sentir horrível. 

   

   Outros parentes da parte da minha mãe também vieram para comemorar meu aniversário, então ficamos festejando durante a noite toda, mesmo eu não estando muito no clima já que qualquer movimento suspeito que eu fazia ou alguma coisa que eu falasse, meu pai já me olhava de forma estranha. Até que uma hora, ele me chamou em um canto onde ninguém poderia nos ouvir.

   - Cássia, nós precisamos conversar. Lá fora.

   - Mas… A festa…

   - Apenas obedeça. Vem.

Um anjo caído: a história de Cássia Eller - volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora