Hoje eu posso não ter certeza de muito sobre minha vida. Mas, lembro perfeitamente onde tudo deu errado comigo.Era uma tarde calma. Olhava a paisagem com tédio através da janela do carro, vendo o céu mudando de cor e as árvores passando por horas. Eu estava acostumado a fazer viagens longas, mas, me sentia chateado por ter que perder tanto tempo de viagem indo até a casa da minha avó.
Tinha certeza que estas seriam as férias mais desinteressantes da minha vida, pois sua casa ficava literalmente no meio do mato. E eu sou a pessoa menos fã do campo, mas, não tinha outra escolha, a não ser, aceitar ir.
- Chegamos. - meu pai anuncia parando o carro em frente ao casarão.
Eu saio do veículo, sentindo a brisa fria arrepiar todos os pelos do meu corpo e o vento bagunçar meu cabelo. Com pressa pego minhas coisas no porta-malas parando bem em frente ao jardim.
Olho a casa e o ambiente em volta. Nada nunca passara apenas de uma casa grande e velha no meio de uma floresta imensa desde que me lembro. Engulo a pouca saliva que se acumulou na minha boca e caminho para a porta da casa com receio.
Ao abrir a porta se ouve o barulho estridente das dobradiças antigas egoando na casa. Eu paro, analisando o ambiente sombrio da sala me fazendo sentir um arrepio na espinha.
- Yuri... Que bom que chegou! - ouço minha prima vir me recepcionar sorridente - Como está? - pergunta me abraçando.
- Olá, Laura. Estou bem. - respondo com um pequeno sorriso.
- Vamos, vou te ajudar com as malas. - meu pai diz apressado, entrando já com minhas coisas.
O sigo pegando o resto das minhas coisas, levando para o segundo andar.
E ao entrar no quarto vou procurar lugar para minha bagagem, tentando arrumar de um jeito que me deixasse pelo menos um pouco confortável. Desde de criança tenho muito medo de estar nesta casa, mas nunca entendi o porquê. Talvez a ambientação da casa não me agradasse, por ser gélida e velha, ou pelos barulhos que ecoam a todo momento pela estrutura fraca, ou por conta da floresta com árvores altas e a noite ser tão escura que não se consegue identificar o que pode estar lá fora.Escuto barulhos de passos lentos fazendo a madeira ranger, ouvindo uma voz baixa me chamar... Olho para a porta e era Laura, me avisando que meu pai estava prestes à ir embora. Então, desço as escadas, me despeço dele, e da varanda o vejo sair apressado com o carro.
Me viro para voltar para dentro, mas me deparo com minha avó sentada numa cadeira de balanço, nem sequer tinha a notado ao sair. Me aproximo dela, me agachando para ver seu rosto de perto e ela continuava apenas se balançando, olhando para a floresta densa. A mais velha, agia sempre da mesma forma desde quando eu era criança.
Ela falava pouco e no rosto mantinha uma expressão vazia, com os traços da sua idade avançada se tornando cada vez mais aparentes. Seu nome era Amélia, ela sofria de Alzheimer por vários anos, e por isso, Laura mora aqui, para cuidar dela.
- Benção vó... - digo baixinho beijando sua mão de pele fina e fria.
A mesma não responde como de costume, nem se quer move o rosto. Então, me levanto, entro e vou para a cozinha, abro o armário, procurando algo para comer, mas não vendo nada que gosto, apenas pego uma maçã da fruteira.
- Está com fome? Posso fazer um bolo para nós! - Laura diz se aproximando de mim.
- Não precisa, obrigado. - recuso.
- Eu vou fazer mesmo assim. Não temos muitas visitas... - ela diz andando pela cozinha, pegando ingredientes.
- Eu sei... Sinto muito, por não vir mais vezes. - digo com pesar.
- Não se sinta mal, Yuri. Eu entendo que a vida na cidade é bem agitada. - ela diz com um pequeno sorriso.
Eu sabia que não era nada fácil para minha prima. Ela não tinha ninguém para lhe fazer companhia a não ser nossa avó, não tinha amigos desde que se mudou e a família raramente lhe fazem visitas. Além do lugar ser, simplesmente, horrível de si viver por ser isolado. Acho que foi por conta disso que nenhum dos meus tios quiseram ficar e vovó se recusava a sair da casa em todas as tentativas que fizeram de levá-la para a cidade. O que me deixa ainda mais covicto que essa casa tem algo estranho.
Depois de ajudar Laura com o bolo e conversar um pouco com ela, vou à varanda, para trazer vovó de volta para dentro, pois já estava anoitecendo. Pego em suas mãos e ajudo a sair da cadeira.
- Vamos vovó, Laura fez bolo. - digo, a guiando para dentro devagar.
A coloco em sua poltrona na sala de estar e me sento no sofá, próximo a ela. Então, a senhora me olha pela primeira vez naquele dia, com uma expressão carinhosa.
- Obrigada, Leonardo. Você é um menino tão bondoso... - ela diz com um sorriso largo.
- Vovó este não é o Leonardo, é o seu neto, Yuri! - Laura a corrige, se juntando a nós na sala e entregando um pirex com bolo para ela.
Após isso, a expressão da mais velha se torna vazia novamente e ela fica quieta na cadeira, apenas comendo seu bolo. Laura também entrega um pirex para mim e liga a TV.
- Não precisa corrigí-la. Ela sempre me confunde. - digo para Laura.
Ficamos assistindo um programa qualquer enquanto comiamos. Mas, minha atenção não estava na televisão, e sim na forma como minha avó se refere a mim toda vez.
[...]
A noite caiu rapidamente e a escuridão tomou de conta da área exterior, restando apenas as luzes que iluminam a casa. Após algum tempo, nós jantamos e depois ajudei Laura a levar vovó para o banho e para sua cama, em seguida.
Quando cheguei ao meu quarto apenas me deitei na cama, tentando ignorar o frio mórbido do cômodo, assim como a paisagem com névoa branca através da janela, o cheiro de mofo das paredes e o ranger incessante da casa por conta da estrutura e dos móveis serem antigos. Tentei ignorar todos os motivos para me causarem insônia. Nem peguei o telefone, para conseguir descansar da viajem, além de que ficar acordado na madrugada, ali, era perturbador.
Fechei os olhos me cobrindo e adormeci.
Passou um tempo, e acordei com a garganta seca por conta do frio. Provavelmente já era madrugada, não queria ter que me levantar, mas estava com sede. Abri os olhos lentamente, mas então, escuto sons de passos rangendo o piso de madeira e fico estático.
Os passos se aproximavam lentamente para meu quarto e, pela fresta debaixo da porta, vi a sombra de uma pessoa. Me cubro completamente com o cobertor e fecho os olhos com força, tomado pelo o medo, tentando me obrigar a dormir novamente.
Ouço batidas na porta do quarto e uma voz rouca e baixa, mas melodiosa .
- Leonardo... - ela dizia.
Após isso ouço mais passos, dessa vez rápidos que paravam na minha porta novamente.
- Vovó, o que está fazendo? Vamos para a cama. - a voz de Laura toma o ambiente.
Me permito voltar a respirar, esta que nem havia percebido quando interrompi, e olhei para a porta. As sombras na fresta da porta cessam e os passos se distanciam até se tornarem inaudíveis.
Respirei fundo tentando me acalmar para voltar a dormir, pensando o quão patético eu estava sendo naquele momento.
Final do primeiro dia...
[...]
"𝑵𝒂̃𝒐 𝒔𝒆 𝒕𝒓𝒂𝒕𝒂 𝒅𝒆 𝒗𝒆𝒓 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒄𝒓𝒆𝒓, 𝒎𝒂𝒔 𝒅𝒆 𝒄𝒓𝒆𝒓 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒗𝒆𝒓."
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⚠︎ 𝕯𝖎𝖆𝖗𝖎𝖔 𝕾𝖔𝖒𝖇𝖗𝖎𝖔 ⚠︎
Horror𝘈𝘰 𝘱𝘢𝘴𝘴𝘢𝘳 𝘶𝘮𝘢 𝘵𝘦𝘮𝘱𝘰𝘳𝘢𝘥𝘢 𝘯𝘢 𝘦𝘴𝘵𝘳𝘢𝘯𝘩𝘢 𝘤𝘢𝘴𝘢 𝘥𝘦 𝘴𝘶𝘢 𝘢𝘷𝘰́, 𝘠𝘶𝘳𝘪, 𝘦𝘯𝘤𝘰𝘯𝘵𝘢 𝘶𝘮 𝘭𝘪𝘷𝘳𝘰 𝘱𝘦𝘤𝘶𝘭𝘪𝘢𝘳 𝘦 𝘳𝘦𝘴𝘰𝘭𝘷𝘦 𝘰 𝘭𝘦𝘳 𝘱𝘢𝘳𝘢 𝘱𝘢𝘴𝘴𝘢𝘳 𝘰 𝘵𝘦𝘮𝘱𝘰. 𝘔𝘢𝘴, 𝘱𝘦𝘳𝘤𝘦𝘣𝘦𝘶 𝘲𝘶�...