Sonhos realizados.

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Louis sentia-se muito feliz, o trajeto que faziam era o mesmo da primeira viagem mas totalmente diferente, não o caminho em si mas as experiências o mudaram e o tempo mudou tudo, desta vez ele seguia com um pequeno comboio mas estava com o alfa que escolheu e se sentia feliz e protegido.

A doutora não seguiu com eles como esperado, ela ficou para resolver alguns assuntos junto com os filhos.

Harry cuidava de cada detalhe relacionado a Louis, ele o amava incondicionalmente e mesmo que ainda sentisse remorso e muitas vezes sofresse ao pensar em tudo que fez o menor passar tentava não transparecer tal sentimentos, tudo que mais queria era amar e retribuir toda felicidade que recebia com cada novo sorriso e descoberta sobre seu pequeno e lindo ômega.

Foram dias e noites na estrada mas a viagem estava leve, durante o dia Harry lia livros para Louis dentro da carruagem, sob o conforto de almofadas macias e nas paradas apreciavam a comida saborosa que o cozinheiro que levaram junto preparava, dormiam se o tempo estivesse bom ao ar livre, enrolados juntos em muitas mantas ou abrigados em antigos templos se a chuva viesse, algumas vezes dormiram em barracas ouvindo o uivo do vento, mas estavam tão bem enrolados um no outro que todos os momentos foram bons.

Mas enfim chegaram a cidade Imperial e aquele primeiro momento de assombro pela grandiosidade de tudo foi quase todo mudado pela atmosfera muito mais leve que agora habitava em todas as ruas, a grande feira aberta constantemente mantinha suas centenas de barraquinhas de todos os itens possíveis, menos escravos. O tablado de venda de escravos foi desmontado e em seu lugar novas barraquinhas foram criadas.

Muitos ômegas andavam livres pelas ruas, sem sinais de que estavam com medo ou assustados, alguns estavam sorrindo e vários andavam juntos, conversando e comprando coisas, tudo parecia completamente diferente e muito mais colorido e belo.

-Estamos na mesma cidade? Isso é mesmo possível?

Harry pensou o mesmo mas sorriu.

-Parece que as mudanças foram mais profundas do que pensei.

A comitiva seguiu ao palácio Imperial e após recebidos e acomodados foram levados ao Imperador por servos muito bem vestidos e gentis, seguiram ao mesmo pátio interno da primeira vez mas não encontraram o Imperador sozinho como antes, do lado do grande alfa um jovem ômega ruivo de intensos olhos verdes os aguardava, ambos usavam roupas douradas combinando e serviam-se de frutas frescas sob a sombra de um pessegueiro florido.

-Bem vindos e que momento mais agradável para ter ambos aqui! Disse o Imperador os saudando com alegria, mas sorrindo mais amplamente para o ômega que corou e fez uma profunda reverência.

O Imperador apresentou seu noivo com um brilho novo no olhar.

-Este é Liang, assim como Louis foi deixado em um orfanato ainda um bebê e permaneceu naquele local até a idade de treze anos quando foi levado por um comerciante de sedas ao Oriente como um ajudante devido ao seu grande talento para números e bela caligrafia aprendida com o velho Abade do orfanato.

Louis sorriu para Liang que se mantinha quieto mas corado e aparentemente muito feliz.

-Vossa majestade tem mesmo uma grande sorte e é abençoado pelos deuses. Respondeu Harry de modo educado.

Liang olhou para o noivo e com um breve entendimento entre eles obteve a palavra, sua voz macia e doce era serena e baixinha.

-Fui salvo por meu Imperador e desde de então estamos juntos, a grande bondade e benevolência do meu senhor se espalhou para todos os ômegas...

Harry e Louis esperaram e toda a história foi contada, assim como Louis o jovem Liang foi acusado mas como estava na cidade Imperial com seu mestre e senhor o caso foi levado diretamente a maior autoridade, no caso o próprio Imperador. Uma vez que os dois se viram suas almas se encontraram e o amor nasceu para ambos.

Liang foi acusado injustamente, como a grande maioria dos ômegas, já que eram o elo fraco de uma sociedade focada na força e no preconceito contra os mais gentis, toda a situação levou o próprio Imperador que já revisava a muito tempo toda essa situação a finalmente tentar reverter tudo. 

-Não será fácil e nem rápido, mesmo aqui na cidade Imperial ainda temos muitos casos de desordem por conta dos decretos que lancei para salvar os ômegas, somente o tempo vai curar o mal que nossa sociedade criou e mudar preceitos enraizados a muitas gerações, mas um dia a mudança se tornara permanente e os que viram no futuro vão poder observar assombrados em como nossa sociedade era arcaica e perigosa, provavelmente tudo isso estará escrito e documentado em nossas bibliotecas como um momento importante e cheio de fortuna para todos, como um tesouro descoberto após longo tempo de busca.

Louis sentiu lágrimas vindo ao ouvir essas palavras e todo seu ser sentiu que isso um dia seria verdade, ainda que demorasse.

-Parabéns Louis por sua liberdade...Parabéns por seu futuro casamento e eu desejo dias abençoados a ambos.

Harry e Louis foram convidados para o casamento real que aconteceu após dez dias corridos da data de sua chegada na cidade, onde o Imperador e seu consorte Imperial fizeram seus votos e toda a cidade se vestiu de vermelho festivo, ouve música, dança e muita comida e bebida.

O Imperador deu muitos presentes aos dois e os enviou para casa com uma guarda especial que os protegeria em todo o trajeto.

E o tempo transcorreu tranquilo como costuma acontecer quando a vida é boa, dia após dia o amor de Louis e Harry se fortaleceu, o casamento aconteceu na primavera e quando ambos olhavam para o passado apesar de ver todas as dores e calamidades só sentiam a felicidade do presente e seu mundo de possibilidades leves e doces.

Harry vivia para fazer Louis feliz, todos os desejos e todos os gostos por mais simples que fossem eram realizados, com o passar dos anos a sociedade mudou, gradativamente como o Imperador proferiu mas profundamente como nem mesmo ele poderia ter adivinhado ou mesmo sonhado.

Jin se casou e teve duas lindas filhas, todas ômegas que eram a alegria da família.

Nari cresceu para se tornar um dos ômegas mais lindos de toda a cidade, se tornou médico aos vinte e dois anos e sua bondade e profunda empatia com todos lhe trouxe reconhecimento e alegria, casou-se dois anos mais tarde com um beta e desta união tiveram um filho, um menino lindo que nasceu com a gentileza do pai ômega e a resiliência do pai beta, além da força dos genes de sua avô alfa lúpus...E ele não se diferenciou em nenhum dos gêneros.

A doutora continuou seu trabalho e se orgulhava dos filhos, de Jin e de Nari e de Louis a quem amava como se fosse de seu próprio sangue, ela nunca mais se casou mas foi feliz ao seu modo e sua vida dedicada a cuidar dos que precisavam foi bela e radiante.

Louis e Harry não tiveram filhos, mas viveram cercados dos sobrinhos de coração e seus dias foram longos e cheios de alegria e até seus últimos momentos não ouve quem pudesse dizer que o amor dos dois tivesse diminuído com o tempo, ao contrário todos que os conheciam diziam que o tempo somente favoreceu todo o amor.

Anos passaram, décadas sucederam e séculos passaram como a água dos rios nas pedras do caminho, quando a cidade se tornou muito grande ainda existiam as histórias contadas de geração em geração do primeiro ômega a ser livre, do amor que nasceu da imensa tragédia e de como isso ajudou a mudar o mundo...

Um túmulo memorial esculpido em pedra branca jazia calmo no alto da colina cercado de flores e borboletas com as iniciais H & L gravadas na rocha limpa e bonita e a palavra esculpida primorosamente abaixo...Xiwang (esperança).

A esperança que libertou tanto o ômega como o alfa e os conduziu ao amor e a alegria por todos os seus dias.

Diz a lenda local que se dois amantes se beijarem no topo da colina, ao lado do túmulo dos dois primeiros que este amor florescerá tão lindo como foi um dia o daqueles amantes...Mas isso já é uma outra história.


                                                                           FIM.

O orfãoOnde histórias criam vida. Descubra agora