Prólogo

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A sala de espera é fria, o cheiro penetrante de produtos de limpeza invadindo minhas narinas

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A sala de espera é fria, o cheiro penetrante de produtos de limpeza invadindo minhas narinas. Minhas roupas estão úmidas e meu corpo treme incontrolavelmente. Não consigo desviar os olhos das minhas mãos enfaixadas. Sob essas ataduras, escondem-se os cortes e arranhões da luta com minha mãe no jardim.

Eu não deveria estar aqui, não queria estar aqui. Mas de alguma forma, sinto que o que aconteceu hoje foi minha culpa.

Como chegamos a isso?

Supostamente era para ser um dia tranquilo. Minha mãe, que geralmente costumava ser uma mulher instável e propensa a atos violentos contra si mesma e os outros, parecia estar calma pela primeira vez em muito tempo. A sanidade brilhava em seus olhos como um dia ensolarado.

Ingenuamente, pensei que seria uma boa ideia sentarmos no jardim dos fundos para tomar chá, como ela costumava fazer nos fins de tarde de antigamente, antes de passar a murmurar sozinha pelos cantos e gritar com as sombras.

Em nenhum momento me passou pela cabeça que Agatha sentiria aquilo novamente. A maldição de ver, ouvir e sentir os mortos, as almas perdidas que ficavam presas aqui na Terra.

Isso estava ligado em nossas almas, correndo em nossas veias desde o nosso nascimento. Não podíamos evitar, consequentemente isso vinha até nós, mesmo que não soubéssemos o motivo. Talvez fosse carma ou castigo divino? Não sabíamos.

Minha mãe só aceitou o seu destino, e eu inconscientemente a instiguei.

Então, quando me sentei à mesa, trazendo o bule de chá, senti aquela energia arrepiante e pesada que todas as mulheres da minha família parecem sentir. Minha pele se arrepiou, meu corpo ficou tenso.

Não vi quando minha mãe se levantou subitamente e tirou algo do bolso de seu vestido. Não entendi o que estava acontecendo até que ela se jogou sobre mim, uma tesoura em punho.

— Não toque nela!

Aquela foi a primeira vez que tive medo da minha própria mãe, os golpes furiosos da tesoura em minhas mãos arrancavam gritos dolorosos e assustadores de mim, e eu percebi que ela seria incapaz de vencer sua maldição. A loucura tinha se enraizado tão profundamente dentro dela, que não conseguia mais distinguir o que era real ou ilusão.

Eu queria saber o motivo da minha mãe ter me machucado. Ela tinha um olhar vazio e distante quando entrei no quarto em que ela estava. O olhar que eu tinha me acostumado a ver nela. Seu corpo balançava para frente e para trás, enquanto cutucava a ponta do dedo a ponto de tirar sangue e murmurava sobre alguma coisa que eu não conseguia entender.

A energia do quarto parecia tão pesada quanto a energia que ela passava. Agatha não era mais a mesma mulher de antes, eu sabia. Alguma coisa tinha mudado nela quando os vizinhos a tiraram de cima de mim.

E quando perguntei a ela o motivo de ter me machucado, seus lábios tremeram nervosamente e eu poderia jurar que uma fagulha de raiva e medo tinha surgido em seus olhos, mas se passou tão rápido que eu não podia ter certeza de ter imaginado aquilo ou não.

— Ele tocou em você — foi a sua única resposta. Ela sempre dizia ele, mas eu nunca soube dizer a quem ela se referia. Alguma coisa em meu interior só sabia dizer, como um sexto sentido, que ela tinha medo dele. Quem quer que ele seja.

E sabia que isso em algum momento chegaria até mim. Eu me tornaria a minha mãe, uma mulher louca que iria parar em um manicômio e ser esquecida.

Conseguia sentir isso chegando até mim, rastejando e sedento para fincar suas garras em minha mente. Não queria que isso acontecesse comigo. Não podia deixar que isso acontecesse.

Eu encontraria um jeito de evitar que meu destino chegasse até mim. Não me tornaria a minha mãe. Nem que para isso eu tivesse que abdicar do nome da minha família e me tornar alguém completamente diferente do que nasci para ser.

 Nem que para isso eu tivesse que abdicar do nome da minha família e me tornar alguém completamente diferente do que nasci para ser

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