Capítulo 55 - Como pode, no silêncio, tudo se explicar?

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— Você sabia, minha princesinha, que esse moço aqui é o meu melhor amigo?

Luciano fez a pergunta olhando para Mai, e apontando um dedo para Martín. O brasileiro encurtara a distância entre os dois, carregando a criança em seus braços, parando de frente para um Martín relativamente perdido e sem saber o que fazer ou o que falar naquele instante.

Inconscientemente, tanto Mai quanto Martín agiram da mesma forma – ambos entrelaçaram seus dedos na frente de seus peitos, visivelmente nervosos enquanto olhavam apenas para Luciano.

Martín se autocondenou internamente, um sermão repetitivo sobre "ser adulto" o acusava de deixar nas mãos de Luciano qualquer que fosse a missão na qual o brasileiro se envolvia naquele momento.

A fina voz de Mai quebrou o silêncio momentâneo:

— Ele não é seu namorado? – a criança perguntou, provocando um imediato e resplandecente sorriso no rosto de Luciano.

— Sim, ele é sim – o moreno respondeu contente demais, olhando vitorioso para Martín. — Mas antes disso, ele sempre foi meu melhor amigo. E eu vou te contar um segredo dele.

Luciano colocou uma mão na frente dos lábios, aproximando-os à uma das orelhas de Mai, como se fingisse que falava apenas com ela, mas dizendo as palavras num tom alto o suficiente para que Martín o escutasse também.

— Esse moço aqui, ele é um bebê. Sim, um bebê! – o brasileiro exclamou quando Mai afastou o rosto do dele, olhando-o meio espantada. — Ele é só um bebê, porque ele chora por qualquer coisa, bonequinha. Qualquer coisinha acontece, e esse moço está chorando!

Mai finalmente olhou para Martín, mas não manteve seu olhar preso nos olhos azuis nem por um segundo, descendo-o por todo o corpo do argentino numa clara tentativa de fazer sentido do que Luciano lhe dizia sobre o loiro ser um bebê.

— E eu ouvi da sua prima – o moreno chamou a atenção da menina de novo. — que você é uma garotinha muuuito corajosa, muito valente e forte. Que você não chora. É verdade?

Mai pareceu gostar de ouvir os elogios do brasileiro, acenando forte com a cabeça para concordar com o que ele dizia.

— Então... Que tal se você me ajudasse a cuidar desse bebê aqui? – Luciano apalpou carinhosamente a barriga da menina, depois de desfazer os nós nos dedos da criança. Repetiu a última ação junto das mãos de Martín, fazendo com que o loiro soltasse delicadamente o nervosismo embrenhado nos dedos que se coçavam ansiosamente um no outro.

— Como...? – Mai perguntou, e dessa vez Martín teve a impressão de que a criança fazia um enorme esforço para não olhá-lo.

— É simples, meu amor. Você pode me ajudar se tornando amiga dele também. Sim? – o moreno continuou sorrindo enquanto falava. — Ele quer muito ser seu amigo também. E se você se tornar amiga dele, você vai poder fazer um carinho nele assim, ó, de vez em quando – Luciano estendeu uma mão para tocar o rosto de Martín, não sem antes gesticular as sobrancelhas para o loiro que ainda o encarava, como se perguntasse silenciosamente se podia prosseguir com a demonstração de toque para a criança, ao que Martín assentiu igualmente silencioso. — Você faz um carinho nele bem aqui, e isso vai fazer com que as lágrimas dele parem.

O brasileiro acariciou uma têmpora do argentino, com o dedo polegar alisando a região abaixo de um olho de Martín, como se realmente limpasse lágrimas invisíveis ali.

Martín abaixou o olhar, sentindo que, de fato, se não se controlasse, em pouquíssimo tempo as lágrimas estariam escorrendo de seus olhos.

— Você não acha o azul dos olhos dele o mais bonito desse universo? – Luciano perguntou, e Mai não o respondeu. A garotinha imitava, na face do próprio moreno, os gestos de carícia que o brasileiro fazia no rosto de Martín. — Eu tenho muito medo de que um dia os olhos dele deixem de ser azuis, Mai. De tanto que esse menino chora, um dia esse azul todo vai escorrer pelo rosto dele!

Private Dreams (BraArg) (PT-BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora