Capítulo 2

9 1 0
                                    

A diferença era gritante dentro do carro, em direção ao aeroporto. Minha irmã era o significado de felicidade. Fazia questão de sorrir para todo mundo, inclusive de puxar sua própria mala, que parecia caber o quarto todo lá dentro, do tanto que é grande. Já eu...

— Espera aí... Lá está fazendo frio? Eu vou trocar minha praia, meu sol e mulheres de biquíni por um bando de garotas que vão me olhar com indiferença por eu ser estrangeiro, não falar a língua delas e ainda não poder nem dar uns beijos? Como assim?

— As coreanas são muito diferentes dessas meninas que você está acostumado a "pegar". Elas não são assanhadas, nem ficam trocando olhares com qualquer um e não são fáceis, além do mais, elas não gostam de muita intimidade e menos ainda ficam dando mole para estrangeiros. — Disse minha irmã, se achando uma verdadeira coreana. Só que não.

— Engraçado...

— O quê?

— Você acabou de se descrever. É assanhada, troca olhares com todos os garotos que acha "fofo" na rua e se um for parecido com um coreano aí que falta pular em cima do cara, sem falar que falta engolir os caras com seus beijos salientes e não vou esquecer daquela história de noivar com um coreano pela Internet.

— Shiuuu! Meus pais não sabem disse e nem podem saber! E eu não sou nada disso! Sou uma adepta fiel da cultura sul coreana!

— Ah, mas não é mesmo! Vejo que terei trabalho em ficar te vigiando, mana.

— Mas você não está indo lá para isso!

— É mesmo? Então eu vou ficar aqui no Brasil mesmo, enquanto você, uma santa do pau oco, vai se divertir lá com seus coreanos românticos, carinhosos e fofinhos!

— Você sabe que nunca meus pais me deixariam viajar sozinha para a Coreia do Sul....

— E por quê? Esse país não é perfeito, não? Os homens não são perfeitos? As garotas não são perfeitas? Tudo lá não é como as séries que você assiste? Só fico pensando em qual música vai tocar quando você beijar seu príncipe encantado...

— Lá não existe esse negócio de ficar, Brunno. Entenda! A cultura deles é bem diferente da nossa. As meninas são bem difíceis, ainda mais as mais bonitas. Elas só ficam com coreanos que se destacam de todos os outros. E você está longe, bem longe dos gostos das coreanas. Ainda mais com esses pelos todos, essa barba por fazer e esse seu braço esquerdo fechado em tatuagem. Elas vão pensar que você é bandido.

— Se eu não foder com pelo menos uma coreana nesses vinte e poucos dias de férias, eu vou acreditar em você...

— Ai, nossa senhora! Se você transar com alguma coreana, se chegar a fazer isso, pode ter certeza que ela vai pensar que você e ela já estão noivos. No mínimo!

— Como assim, Jéssica? Quer dizer que as coreanas não ficam?

— Elas ficam sim, mas bem diferente dos costumes daqui do Brasil! Elas não podem sequer andar de mãos dadas. Imagina então sexo...

— Então quando é que rola uma sacanagem?

— Ué. Bem depois de eles se casarem. E lá não existe esse negócio de lua de mel e tal. Quando eles se casam, ainda levam um tempo para o sexo de fato.

— Você só pode estar brincando. Eu vou para um país com garotas que transam só depois de meses de casadas? Elas não gostam de transar, não?

— Estou te alertando sobre isso. Ah! E não existe esse lance de três beijinhos ao conhecer outra pessoa. Entendeu? E nem de ficar abraçando, pegando na mão e falando no ouvido. Menos ainda de ficar trocando olhares, piscando e quaisquer outras artimanhas que você utiliza aqui.

Bufei e continuei a pensar em fugir para outro voo. Se já não gostei de ser enganado por toda a minha família sobre a viagem de fim de ano, descobrindo a tal cultura sul coreana, eu ia ainda mais revoltado e desanimado.

— Ainda bem que temos uns tios que moram por lá. Sem falar que eles disseram que moram em um bairro com famílias de brasileiros.

— Quero passar é longe desse bairro dos nossos tios. Vamos todos os dias para a capital. Lá a cidade respira tecnologia e moda. — Disse minha irmã, mexendo no celular e sorrindo ao responder mensagens.

Desconfiava que minha irmã continuava de conversinha com o tal "noivo virtual" que ela arranjou. Ela mesmo me contou sobre isso e no quanto está apaixonada pelo seu príncipe encantado, mas assim que ela conheceu os "amigos" do noivo, ela começou a trocar mensagens com todos eles, cada um "mais lindo do que o outro", segundo a minha irmã. Descobri essa história quando, ao abrir a porta do quarto dela, após vários minutos a chamando e batendo, a vir usando apenas uma sainha curta de colegial e balançando os seios nus na frente do seu celular, enquanto fazia uma "live". Lógico que eu briguei com ela e ameacei de contar para os nossos pais, mas ela ficou tão assustada que fez seu celular cair e quebrar, que não tinha como eu provar nada, sem esquecer que ela ficou uns dias se sentindo "envergonhada".

Assim que o portão de embarque abriu, tive outra péssima notícia! A viagem de São Paulo a Seul demoraria no mínimo umas 29 horas.

— Eu só estou me ferrando nisso tudo!

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Dec 27, 2023 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Brasileiro na Coreia do Sul - HotOnde histórias criam vida. Descubra agora