A diferença era gritante dentro do carro, em direção ao aeroporto. Minha irmã era o significado de felicidade. Fazia questão de sorrir para todo mundo, inclusive de puxar sua própria mala, que parecia caber o quarto todo lá dentro, do tanto que é grande. Já eu...
— Espera aí... Lá está fazendo frio? Eu vou trocar minha praia, meu sol e mulheres de biquíni por um bando de garotas que vão me olhar com indiferença por eu ser estrangeiro, não falar a língua delas e ainda não poder nem dar uns beijos? Como assim?
— As coreanas são muito diferentes dessas meninas que você está acostumado a "pegar". Elas não são assanhadas, nem ficam trocando olhares com qualquer um e não são fáceis, além do mais, elas não gostam de muita intimidade e menos ainda ficam dando mole para estrangeiros. — Disse minha irmã, se achando uma verdadeira coreana. Só que não.
— Engraçado...
— O quê?
— Você acabou de se descrever. É assanhada, troca olhares com todos os garotos que acha "fofo" na rua e se um for parecido com um coreano aí que falta pular em cima do cara, sem falar que falta engolir os caras com seus beijos salientes e não vou esquecer daquela história de noivar com um coreano pela Internet.
— Shiuuu! Meus pais não sabem disse e nem podem saber! E eu não sou nada disso! Sou uma adepta fiel da cultura sul coreana!
— Ah, mas não é mesmo! Vejo que terei trabalho em ficar te vigiando, mana.
— Mas você não está indo lá para isso!
— É mesmo? Então eu vou ficar aqui no Brasil mesmo, enquanto você, uma santa do pau oco, vai se divertir lá com seus coreanos românticos, carinhosos e fofinhos!
— Você sabe que nunca meus pais me deixariam viajar sozinha para a Coreia do Sul....
— E por quê? Esse país não é perfeito, não? Os homens não são perfeitos? As garotas não são perfeitas? Tudo lá não é como as séries que você assiste? Só fico pensando em qual música vai tocar quando você beijar seu príncipe encantado...
— Lá não existe esse negócio de ficar, Brunno. Entenda! A cultura deles é bem diferente da nossa. As meninas são bem difíceis, ainda mais as mais bonitas. Elas só ficam com coreanos que se destacam de todos os outros. E você está longe, bem longe dos gostos das coreanas. Ainda mais com esses pelos todos, essa barba por fazer e esse seu braço esquerdo fechado em tatuagem. Elas vão pensar que você é bandido.
— Se eu não foder com pelo menos uma coreana nesses vinte e poucos dias de férias, eu vou acreditar em você...
— Ai, nossa senhora! Se você transar com alguma coreana, se chegar a fazer isso, pode ter certeza que ela vai pensar que você e ela já estão noivos. No mínimo!
— Como assim, Jéssica? Quer dizer que as coreanas não ficam?
— Elas ficam sim, mas bem diferente dos costumes daqui do Brasil! Elas não podem sequer andar de mãos dadas. Imagina então sexo...
— Então quando é que rola uma sacanagem?
— Ué. Bem depois de eles se casarem. E lá não existe esse negócio de lua de mel e tal. Quando eles se casam, ainda levam um tempo para o sexo de fato.
— Você só pode estar brincando. Eu vou para um país com garotas que transam só depois de meses de casadas? Elas não gostam de transar, não?
— Estou te alertando sobre isso. Ah! E não existe esse lance de três beijinhos ao conhecer outra pessoa. Entendeu? E nem de ficar abraçando, pegando na mão e falando no ouvido. Menos ainda de ficar trocando olhares, piscando e quaisquer outras artimanhas que você utiliza aqui.
Bufei e continuei a pensar em fugir para outro voo. Se já não gostei de ser enganado por toda a minha família sobre a viagem de fim de ano, descobrindo a tal cultura sul coreana, eu ia ainda mais revoltado e desanimado.
— Ainda bem que temos uns tios que moram por lá. Sem falar que eles disseram que moram em um bairro com famílias de brasileiros.
— Quero passar é longe desse bairro dos nossos tios. Vamos todos os dias para a capital. Lá a cidade respira tecnologia e moda. — Disse minha irmã, mexendo no celular e sorrindo ao responder mensagens.
Desconfiava que minha irmã continuava de conversinha com o tal "noivo virtual" que ela arranjou. Ela mesmo me contou sobre isso e no quanto está apaixonada pelo seu príncipe encantado, mas assim que ela conheceu os "amigos" do noivo, ela começou a trocar mensagens com todos eles, cada um "mais lindo do que o outro", segundo a minha irmã. Descobri essa história quando, ao abrir a porta do quarto dela, após vários minutos a chamando e batendo, a vir usando apenas uma sainha curta de colegial e balançando os seios nus na frente do seu celular, enquanto fazia uma "live". Lógico que eu briguei com ela e ameacei de contar para os nossos pais, mas ela ficou tão assustada que fez seu celular cair e quebrar, que não tinha como eu provar nada, sem esquecer que ela ficou uns dias se sentindo "envergonhada".
Assim que o portão de embarque abriu, tive outra péssima notícia! A viagem de São Paulo a Seul demoraria no mínimo umas 29 horas.
— Eu só estou me ferrando nisso tudo!
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Brasileiro na Coreia do Sul - Hot
Fiksi PenggemarBrunno, um paulista de 23 anos, tem seu final de ano transformado quando descobre que passará suas férias na Coreia do Sul ao lado de sua irmã, uma verdadeira entusiasta da cultura sul-coreana. Ele desembarca em uma cidade coreana sem falar uma únic...