White: Prólogo

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Nada no mundo era mais deprimente do que estar, novamente, naquele quarto branco e gelado do consultório. Absolutamente toda semana me perguntavam a mesma coisa "como está se sentindo hoje?", quando claramente estava prestes a chorar em sua frente, mas lá estava eu, respondendo também o mesmo de sempre.

— Bem, na verdade, ótimo... estou ótimo hoje Doutor. Não sei se essa informação é de grande ajuda, mas eu comprei um peixe novo.

— Que legal Jake, isso é ótimo. — Era adorável a maneira como ele se esforçava. — E como ele é?

— Igual ao último, azul e nem um pouco interessante. — Era decepcionante, mas não era uma mentira. — Eu gosto deles... eles me fazem companhia enquanto estudo.

Nossas sessões não duravam tempo suficiente para que pudéssemos conversar amigavelmente, eram apenas como um interrogatório para se certificar de que quem está ficando louco é realmente eu ou a minha mãe (talvez ambos estivessem malucos).

Ela costumava me esperar do lado de fora, normalmente na recepção. Não aceitava poder estar tudo bem comigo, dizia a todos que eu tinha algum tipo de estresse pós-traumático depois que eu caí de bicicleta aos sete anos. É interessante como todos finjem não perceber o que está me causando tudo isso.

Em segundo lugar de piores coisas do mundo, além do consultório, era estar dentro do carro com a minha mãe. Eu não a odeio, ela é atenciosa comigo e sei que tudo que ela faz é apenas porque me ama, mas naquele mesmo momento ela estava exatos cinco minutos parada no estacionamento me fazendo outra sessão de perguntas.

— Mãe, eu já disse que está tudo bem. — Não queria que essa pequena discussão tomasse o mesmo rumo de sempre, uma briga. — Eu não tenho nada a melhorar, eu estou muito bem, será que você pode entender isso de uma vez? Por favor.

— Filho, você pode me dizer o que está acontecendo, eu sou sua amiga. — Dei uma leve e irônica risada, esse comportamento rebelde que venho tentando abandonar.

— Amiga? — Respirei fundo e lentamente abri a porta do carro. — Desculpa por isso, eu vou andando para casa, tudo bem? Nos vemos mais tarde.

Ela não respondeu, nem sequer veio atrás de mim, eu a entendo e sei que sabe que irei voltar para casa em algumas horas, mas e se eu apenas decidir não voltar nunca mais? Esse tipo de pensamento rodeava meu cérebro causando uma dor forte que me guiava para o mesmo lugar todas as vezes, aquela mata tenebrosa que apenas um garoto doente psicologicamente teria coragem de adentrar.

Eu gostava daquele lugar, era sombrio e haviam muitos mosquitos, pelo menos me fizeram superar meu medo de inseto. Eu gosto de borboletas, toda sua trajetória é inspiradora, elas rastejam a caminho da esperança e logo entram em um processo de cura até que encontrem sua verdadeira cor, assim voam levemente por um céu intensamente azul, para morrer após poucos dias, mas não acho que seja algo ruim, afinal, alguém ficou feliz em algum momento apenas ao observá-la voar, certo?
O que me faz imaginar, será que um dia serei como uma borboleta? Pois não acredito que esteja transmitindo alegria antes de partir.

O clima daquele lugar era tão gelado que me fazia sentir aquecido, não apenas por gostar de climas frios, mas sim porque as vezes acho que devemos sentir o extremo do que gostamos para entendermos que podemos gostar moderadamente daquilo, não é necessário exagerar, ou melhor, precisamos mesmo gostar de algo tão intensamente?
Na verdade, esse é um dos "problemas" que incomodam minha mãe, o fato de eu não ter uma obsessão, já que todos os adolescentes da minha idade são obcecados por alguém e eu apenas tenho dois peixes sem nome.

Mais tarde me encontrei pensando em diversas formas de como entrar em casa sem fazer qualquer barulho, então abri a porta lentamente para que ninguém me ouvisse, por algum motivo pensei que seria embaraçoso ter que me explicar. Como esperado, claro que não seria embaraçoso, minha mãe apenas ignorou, como sempre, o que havia acontecido anteriormente. Acho que doeria menos se ela gritasse comigo ao invés de todas as vezes apenas fingir que nada aconteceu, ou então um pedido de desculpas, somente um maldito pedido de desculpas.

— Você chegou! — Meu coração implorava por perdão e um afago, mas meu olhar emanava ódio. — O jantar está pronto, chame seu irmão e venham comer.

— Não vou jantar hoje mãe, obrigado. — Subi as escadas, bati na porta de Jay e sem olhar para trás me tranquei dentro do quarto.

Costumava me dar muito bem com Jay quando éramos mais novos, mas aparentemente o tempo nos distanciou, nossas personalidades se diferem de uma maneira grotesca. Ele gosta de sair e beber no seu tempo livre, mas eu, eu gosto de estudar filosofia moderna e comprar livros nos quais nunca vou ler na minha vida.
E esse é o motivo pelo qual eu só tenho um amigo, não que eu esteja reclamando, o Sunghoon é a melhor pessoa que eu já conheci, mesmo que eu não tenha conhecido muitas pessoas, estou satisfeito com isso, lidar com pessoas confusas e desordenadas é algo que me assusta.

Apesar de tudo o que havia acontecido, no mesmo dia, resolvi deixar todos os meus problemas para trás, naquele lugar vazio, decidi que ali será a minha própria sala gelada, o meu próprio consultório. Apenas deixei escrito nas paredes "Oi", risquei na madeira, com a chave do armário do colégio, para que no dia seguinte eu possa responder a mim e assim ir melhorando minha relação comigo mesmo... parece bobo, mas acredito que será importante para mim.

Voltar àquele pequeno espaço distante de pessoas, onde tenho tempo para pensar e descansar sozinho é simplesmente confortável. Não que eu seja antisocial como minha mãe diz, eu apenas me acostumei com essa ideia de ficar sozinho, por mais que eu nunca tenha ficado completamente sozinho na minha vida.

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