Quando Eu o Conheci | 𝗖𝗵𝗮𝗻𝗺𝗶𝗻

Prólogo

Seungmin era uma criança quieta. Ele não se prendia aos detalhes e não gostava de coisas complicadas demais. O jovem acreditava fielmente que seu tempo de reação era 2 segundos mais lento do que a maioria das pessoas. De acordo com ele, só assim seria explicado como ele não conseguia reagir as agressões, xingamentos e abusos de seus colegas de classe.

O jovem rapaz estava sempre acostumado com uma vida cotidiana. A mesma escola, os mesmos amigos, as mesmas refeições, a mesma casa e os mesmos dias, horas, minutos e segundos que ele gastava suas 24 horas. Todavia, a pacata rotina aos poucos foi sendo substituída pelo imprevisível. 

Depois da mudança de emprego dos pais de Seungmin, consequentemente todas as coisas que antes ele estava acostumado seriam deixadas para trás. Os pais do garoto, só esperavam e queriam o seu melhor, arrumaram suas coisas, alugaram um apartamento no centro de Seul e matricularam o menino de 16 anos na melhor escola particular do bairro.

Estavam ocupados demais para perceber a mudança de seu comportamento em tão pouco tempo. As idas frequentes ao hospital na transição do 1° ao 2° ano, seu olhar esfriando e a quantidade de vezes que ele falava ao chegar em casa. Aos poucos tudo foi diminuindo.

Seungmin, por mais quieto que fosse. Sempre foi um garoto peculiar! Sempre mais sútil, mais delicado, mais gentil que os jovens daquela idade. E isso despertava a atenção de quem nunca deveria ter despertado. 

As pequenas agressões começaram com riscos nas carteiras, bolinhas de papéis sendo jogadas sobre ele todos os dias, mas aos poucos tudo foi só piorando. Seu corpo coberto por manchas, seu cansaço extremo, roupas que escondiam seus machucados, o comportamento defensivo e assustado foram se tornando comum em seu dia a dia. Ao ponto de que até os pais que estavam ocupados demais para perceber, passaram a notar que seu filho era mais uma vítima de bullying. 

Mas foi inocente demais dos pais do garoto em pensar que ao trocarem-no de escola mudaria alguma coisa. Seungmin era a vítima perfeita! Ele não reagia, só aguentava e aguentava. Seu olhar era irritante demais para aqueles jovens imaturos que o olhavam como se o mesmo fosse um inseto a ser pisoteado. E não importava quantas escolas ele se transferisse haveria sempre alguém disposto a torná-lo um alvo.

Depois que o jovem chegou ao terceiro ano do ensino médio as coisas começaram a fazer um pouco mais de sentido para ele, ou pelo menos, ele passava a criar justificativa as coisas que aconteciam com ele. Até então, sua raiva e medo faziam com que ele pensasse que um dia tudo seria resolvido com o poder da justiça! Que adultos o ajudariam a sair de todo aquele sofrimento e que um dia ele encontraria paz. Mas a medida que os meses iam passando, Seungmin começou a cogitar que talvez o problema estivesse nele, que seus colegas de classe que o importunavam só fossem afortunados demais de cruzarem o caminho dele. Que os funcionários da escola, que o olhavam com pena, só não tiveram a chance de escolher um emprego melhor! Que seus pais que o olhavam com culpa e arrependimento, só não tivessem escolha ao criarem um filho como ele.

No fim, todos esses pensamentos que giravam sobre sua cabeça só eram mais incentivo para que o garoto passasse a escolher a morte ao invés da vida que era banhada por sofrimento.

Suas tentativas começaram com cortes no banho, ele tinha medo demais na época de que algo de fato fosse o matar! Tinha medo de continuar vivendo, mas mais ainda estar neste universo. 

Aos poucos ele foi passando para pílulas para dormir, tomava 6, as vezes 7 ou até 10 em um dia. Começou a prender uma corda no ventilador de teto e contava com o alarme do seu celular quanto tempo ele aguentava preso sobre a corda em seu pescoço. Tentou se afogar sobre a banheira e percebeu que talvez o choque da água fosse a forma mais indolor e menos assustadora de morrer. Com suas inúmeras tentativas ele havia decidido que antes que o inverno chegasse ele saltaria de uma ponte e deixaria que a correnteza do rio levasse sua alma embora.