Inspiração: All I want for Christmas is you - Mariah Carrey
Título: Apenas você
O dia ensolarado, as lojas de rua tocando músicas natalinas e os saltos bege fazendo “toc” enquanto caminhavam naquela tarde de 24 de dezembro.
— Júlia, eu não tava pensando em fazer nada nesse Natal, mas ir pra igreja?
Com o celular apoiado no ombro, encostado na orelha, ela vasculha sua bolsa de ombro preta com uma das mãos.
— Não, Júlia, seria legal passar o Natal com você, mas não com gente que eu nem conheço, sabe?
Ela segura um molho de chaves e se aproxima de uma casa cor de salmão protegida por grades escuras e enferrujadas.
— Eu gosto de passar em casa mesmo, que nem eu sempre faço…
Tendo destrancado a porta, alguém a chama.
— Anabela?
Era aquela voz.
A voz que a perseguia nos sonhos e nos pesadelos. A voz que tentava jogar na lata do esquecimento, porque nela pensava todos os dias. A única voz que queria ao seu lado no dia 25, dizendo: “Bom dia, minha Bela”. Ah, era isso que ela pedia ao bom velhinho há 3 anos!
Essa voz agora a chama pelo nome composto, como se fossem meros conhecidos.
A voz do Paulo.
Ela desliga o telefone e se vira para ele, pálida.
— Quanto tempo… — diz, quase sussurrando.
— Eu precisava falar com você há um tempão, mas num tinha seu telefone, num sabia onde cê tava morando. Consegui te localizar por causa de uma amiga, que também te conhece.
— Quem?
— A Júlia.
Ela se segura para não demonstrar seu espanto.
— Eu tava falando com ela agora…de onde cê conhece ela?
— Isso num é importante agora. Eu vim aqui…
— É sim! — exclama — Cês tão saindo?
— Quê!? Não! — grita. Ele suspira e acrescenta: — Desculpa ter falado assim. Eu só vim aqui te avisar uma coisa, não pra jogar conversa fora.
— Fala, então.
— Tô aqui pra te pedir perdão.
O coração dela acelerou. As lágrimas de alívio e nostalgia começaram a insistir pra sair a todo custo, mas ela não as deixou escapar.
Ela concorda com um movimento de cabeça, tentando sorrir.
Paulo acrescenta:
— E eu também te perdoo, Ana.
Ela torce o nariz e o modo defensivo é ativado.
— Como assim “me perdoa”? Não fui eu que parti seu coração!
— Nós dois erramos muito, e…
— Ah, não! Nu acredito! Cê veio do Riachuelo só pra jogar a culpa em mim, né? Você sempre fazia isso quando a gente tava junto!
— Eu num vim aqui pra brigar…
— Então vai embora!
Eles ficam em silêncio, um olhando nos olhos do outro. Ana com raiva e Paulo tentando manter a calma.
— Eu vou, mas olha: eu num tenho mais mágoa de você, e num quero…
— Paulo, só vai embora… — pede, quase sem resistir ao choro.
Ele dá as costas, cabisbaixo, com as mãos nos bolsos. Ana desaba nos córregos que jorram dos seus olhos, soluçando no meio da rua vazia.
(498 palavras)
De: Fê Coutinho
Para: você
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Apenas você
Short StorySELO INCENSO NO CONCURSO CANÇÕES NATALINAS DO @ContosLP! Na tarde do dia 24 de dezembro, Anabela é abordada por alguém que não via há muito tempo. Alguém que ela, secretamente, adoraria ter naquele Natal. Quem será essa pessoa querida? Será que es...