Futuro irresoluto

66 3 0
                                    

Para todos os que já se sentiram como anormalidades e não souberam lidar com isso. Seja anormal. Seja você. Seja e faça ser inesquecível.


[...]

  Izuku nunca imaginou que teria uma vida tão caótica. Apesar de ainda ter dúvidas quanto à própria capacidade de julgamento, não poderia considerar os últimos dois anos da sua vida como legais, muito menos como suportáveis.

  Embora não julgasse sua mãe pela decisão de mandá-lo ir morar com seu pai por alguns anos, sentia-se cada vez mais injuriado com o passar do tempo. Pouco a pouco, a relação entre pai e filho desmoronou, entrelaçada aos conflitos do colégio em que odiava, transformou a socialização de um jovem em um evento desconhecido e traumático.

  Nas poucas trocas de palavras que tinha com seu pai, acumulava em sua garganta todo o desgosto da convivência, mas nada mudava. Brigavam a todo custo e por motivos banais. Embora, talvez, não estivesse convencido disso, Izuku se culpava por não ter a consideração de seu pai, e mesmo que gostasse da nostalgia que a companhia proporcionava, não suportaria manter o contato.

  Ele amava seu pai, mas odiava sofrer pelas mãos dele.

  A todo instante, almejava cada vez mais pelo momento em que aquela fase de sua vida acabaria. Portanto, quando recebeu um telefonema de sua mãe após o desfecho do segundo ano do ensino médio, dizendo a ele que iria buscá-lo para que voltasse a morar com ela, arrumou prontamente as malas.

  Um mês antes das férias voltarem, ao ouvir os primeiros tilintares da campainha e o ronco do mortor do carro, correu ao encontro de sua mãe. Pela primeira vez, viu a casa vazia e silênciosa. Ao menos, seu pai não estava lá para chutá-lo aos berros assim que a tranca fosse aberta.

  E, finalmente, o cheiro repleto de remorso que insistia permanecer gravado em suas narinas se dissipou com o vento das estradas. Naquele dia, Izuku sentiu o alívio que desejava.

  Por outro lado, esquecendo-se do relacionamento conturbado com seu pai, Izuku agradecia a graciosa beta por ser a melhor mãe que ele poderia desejar. E ele desejava muito.

  Porém, o tempo foi meticuloso com ele, sempre fora. Ele se esgotou tão rápido que mal o viu passar, escorrendo por entre os dedos durante os poucos dois meses que tinha. Deseja mais, mas não poderia ter.

  No momento, ela dirigia o carro pelas ruas com todo cuidado que tinha, ao mesmo tempo, cantarolava alegremente enquanto batia as palmas das mãos no volante ao ritmo contagiante de Madonna. Enquanto isso, o jovem alfa a acompanhava a cantoria conforme encarava os longos hectares cobertos de casas, apartamentos e estabelecimentos comerciais.

  Durante as semanas que voltou à sua cidade natal, sentiu a estranheza que a cidade grande lhe causava depois do período de alguns poucos anos. Porém, como esperado, estava gradualmente se adaptando à rápida mudança das coisas do centro urbano. Até reformara seu guarda-roupa quando teve a primeira oportunidade. Afinal, não cursaria o último ano do ensino médio com seu vestuário definindo o conceito de "fora de moda".

  O início do seu último ano letivo, no entanto, ao contrário da experiência de voltar para a casa de sua mãe, não se mostrou particularmente boa.

  Conforme se aproximavam do internato, seu coração tamborilava, apertava os próprios punhos contra as coxas na intenção de parar com o movimento frenético de sua perna contra o chão do carro. Às vezes, deixava de se importar com os tremores, apertando e movendo as mãos suadas à medida que seu peito apertava em uma sensação estranha, líquida e dolorida.

Anormalidade | ABO Onde histórias criam vida. Descubra agora