O carro já estava em movimento há alguns minutos, mas eu permanecia em silêncio. De repente, toda minha ambição por respostas havia desaparecido e eu só queria voltar para casa. Será que eu estava com medo?
— Você não disse que queria conversar? — Sua voz soava indiferente, eu não esperava outra coisa.
Respirei fundo. Eu já estava ali, não dava mais para voltar atrás.
— O que aconteceu depois que desmaiei na festa? — Não o olhei, mantive meu foco nas minhas mãos sobre as coxas.
Já havia feito essa pergunta para a Ammy, mas estava curiosa para saber se a resposta seria diferente.
— Tive uma conversa com o Alan e te coloquei para dormir no meu carro até o fim da festa, porque a Ammy não queria voltar para casa ainda. — Ele respondeu de forma despreocupada.
Era praticamente a mesma história. Talvez eu não devesse me preocupar tanto com essa parte, mas o que realmente me incomodava, me constrangia antes mesmo de perguntar.
— O que estava acontecendo antes de eu desmaiar? — Mordi o lábio após questionar.
A queda... Era o início das minhas lembranças depois daquela tontura. Lembro exatamente da dor nos joelhos e da mágoa que preencheu meu peito naquele momento.
— Eu cheguei quando você caiu no chão. Não deveria ser a mim que você deveria perguntar isso. — Ele ficou em silêncio por três segundos — Não falou com o Alan?
— Ele não foi para a aula hoje. — Respondi brevemente.
O carro dele exalava um perfume masculino marcante e parecia impecavelmente limpo. Eu olhava pela janela, já estávamos de volta ao nosso bairro, o céu estava nublado como durante todo o final de semana, e eu continuava perdida.
— Por que você me ajudou? — Não ousei olhar para ele.
— Por que não ajudaria? Pessoas gentis ajudam pessoas tolas. — Respondeu novamente de forma seca.
Respirei fundo para não deixar sua implicância me irritar, ele não tinha motivos para estar falando comigo daquele jeito. Talvez ele esteja apenas sendo gentil ao me ajudar agora, talvez não quisesse estar ali, respondendo às minhas perguntas. Não posso simplesmente exigir mais dele. Eu preciso da sua ajuda, não ele da minha.
— Você me disse para ficar longe do Alan, por que falou isso do nada? — Finalmente olhei para ele, que fez questão de olhar nos meus olhos no mesmo instante, como se estivesse esperando por isso.
— Ele te drogou, que outro conselho eu poderia te dar? — Franziu o cenho.
Suspiro. Isso é muito óbvio, não gosto de coisas óbvias. Gosto do que é complexo e alimenta a minha drástica imaginação, do que pode responder a mil questionamentos com uma só resposta.
Odeio o óbvio.
— Era ele quem você foi ver no parque. — Ele afirmou, desviando o olhar para a estrada.
Senti meu rosto esquentar com essa lembrança. Ivan descobriu exatamente o que eu temia que ele descobrisse.
— Não vale a pena, Berger. — Sua voz soava baixa, porém tão intimidadora.
Parecia que cada palavra de Ivan poderia me ferir a qualquer momento, e eu não sabia explicar por que me sentia dessa forma perto dele.
— O que não vale a pena? — Franzi o cenho.
— Você ficar fazendo essas tolices por um cara como ele. — Ele parou o carro e escorou bem as costas contra o banco, cruzando os braços.
Eu olhei para fora mais uma vez, em frente à minha casa, enquanto uma garoa fina embelezava a paisagem.
As palavras dele ainda ecoavam na minha mente, e aos poucos, senti um peso sendo retirado dos meus pensamentos, como se as coisas começassem a se esclarecer para mim.
No entanto, ele ainda era um estranho misterioso, ainda representava um dos grandes questionamentos para mim.
— Você mentiu sobre sua idade? — Perguntei, encarando-o.
Ivan voltou seu olhar para mim e, inesperadamente, começou a rir da minha pergunta.
— Você lembrou.
— Então você não tem mesmo vinte e três anos? — Não escondi minha surpresa.
— Tenho dezoito anos, Lana. — Ele ficou mais sério gradualmente.
As lembranças daquela noite são tão vívidas. A forma como ele me olhou, como se estivesse sondando minha alma, a descoberta inesperada de seu parentesco com Ammy e a entrega de uma identidade falsa sem hesitação. Ivan Bell parece ser um poço de segredos, o que é intrigante.
— Mas por que mentir sobre sua idade se você já poderia beber e dirigir com dezoito anos?
— Bem... Completei dezoito há apenas alguns dias, então não precisarei mais aparecer no seu trabalho com um documento falso. — Ele se virou em minha direção com um sorriso nos lábios.
Seu maxilar era marcante e seus lábios bem desenhados, ficando ainda mais bonitos quando ele sorria daquela forma irritante.
— Por que você saiu no primeiro dia de aula? — Perguntei impulsivamente.
— As perguntas não deveriam ser sobre os seus assuntos? Por que parece que está cada vez mais interessada em fuçar na minha vida?
— Por que não posso saber? — Suspirei.
O som da chuva batendo na lataria indicava o clima se intensificando do lado de fora.
— Porque você só vai querer saber mais e mais, e eu não confio o suficiente em você. — Ele brevemente desviou o olhar para os meus lábios, fazendo-me engolir em seco.
— Não pode dizer isso, mal nos conhecemos. — Cruzei os braços.
— Já vi o bastante.
Ele se aproximou com certa dificuldade devido ao seu porte físico imponente e ficou com o rosto próximo ao meu. — Estou gostando de conversar com você, Ratinha, mas realmente não tenho tempo hoje para responder todas as suas perguntas, certo? — Um traço de gentileza finalmente transpareceu em suas palavras.
Ele estava tão perto que meu coração acelerou por alguns segundos; então peguei minha mochila que estava aos meus pés e respirei fundo.
— Obrigada pela carona. — Agradeci, como da última vez que estivemos ali.
Ele se afastou e eu abri a porta, sentindo os respingos da chuva forte atingirem minha pele. Sem esperar muito, entrei apressadamente no meu quintal, pisando no assoalho da varanda e procurando a chave no bolso da mochila. De repente, percebi a ausência de um barulho característico e olhei para trás.
Ele ainda estava parado ali com o carro; não consegui distinguir se estava me observando devido aos vidros escuros. Confusa, apenas entrei em casa e fechei a porta. Somente quando ouvi o motor do carro ligar percebi que ele havia ido embora.
Cara estranho.
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"Querido Diário" de Lana Berger
Romance🥀 Dark Romance 𝕷𝖎𝖛𝖗𝖔 l Lana Berger é uma adolescente de 17 anos que depende de medicamentos controlados devido ao seu transtorno de personalidade antissocial, o qual influencia sua intensa obsessão por um colega de classe desde o sétimo...