A lenda

Capítulo 34 - Ohm

- O que você acha? Eu posso te levar para conhecer o inferno, prometo que você vai e volta de forma segura.
O Mark olha para o demônio surpreso.
- Os círculos do inferno são reais?
- Sim, as torturas também, mas se você tiver estômago fraco podemos pular essa parte.
- E Lúcifer?
- Vamos evitar os príncipes do inferno, confia em mim, você não vai querer conhecer eles, vai ter muito tempo pra isso depois.
- Você está dizendo que essa coisa de pactos é real?
- Sim, mas não é tão ruim quanto as pessoas fazem parecer. Quantas pessoas têm a chance de entrar e sair do inferno escoltado por um demônio de verdade? Imagine quanto você vai aprender com isso. O que é a sua alma perto disso?
Eu dou risada e o demônio me olha irritado.
- Se o Nanon souber que você está fazendo isso ele faz pedacinhos de você.
O Perth faz um som que parece um rosnado e levanta.
- O que foi?
O Chimon entra na sala e olha para o Perth que está indo para fora, ele responde sem olhar pra trás.
- Não pode mexer com o Nefilim, não pode mexer com o humano, o Nanon é um pé no saco!
Ele sai pra fora, o Chimon revira os olhos e volta para o quarto dele.
- Eles são sempre assim?
Eu suspiro, levanto e vou ver o Dew, devia ter ido com o Nanon, ele vai enchendo a casa de gente e eu sou obrigado a aguentar eles, por mim largava os três aqui e ia embora com o Dew e o Nanon, mas no fim eu sei que ele esta certo, depois que o Perth e o Chimon se juntaram a nós não tivemos problemas com anjos ou demônios.
- Como está aí, anjinho?
- Porque eu tenho que aprender tanta coisa? Não é justo, não é como se eu fosse voltar para o céu algum dia.
- Nunca se sabe, o que fizeram com você foi injusto, se o próprio Deus tirou você de lá e mandou para nós, porque ele não poderia te levar de volta?
- Mas eu não quero!
- Porque não?
- Nefilins não vão para o céu.
Isso é novidade, mas eu devia imaginar com toda a repulsa que os anjos sentem, mas essa não é a única novidade aqui.
- Você não quer voltar a ser anjo, Dew?
- Eu não quero ficar longe de você.
Ele fala isso com tanta naturalidade que parece que estamos falando sobre escolher ir para a praia ou para as montanhas nas férias e não sobre a vida eterna dele e a sua verdadeira casa. Eu sorrio e abraço ele.
- Deixa isso aí, vamos comer sorvete.

O Dew está na terceira taça de sorvete quando o Nanon chega, eu vou até ele e o abraço e finalmente consigo relaxar, odeio quando ele está longe.
- Como foi?
- A bruxa disse que consegue enfeitiçar uma casa maior, mas não gostou de saber que tem um anjo e um demônio perto de você.
Eu dou risada e o beijo, é a cara dela ficar nervosa com essas coisas, ela foi a primeira a ser contra a minha saída da vila, quase todos foram contra, mas no fim o meu bisavô permitiu.
- Vamos comprar outra casa?
- Eu estava pensando em construir aqui mesmo, assim o Dew continua com os amigos e nós podemos ajudar a comunidade, contratar os moradores para ajudar.
- Você tem dinheiro pra isso?
- Eu passei os últimos cinco mil anos acumulando riquezas, eu poderia comprar a vila inteira se quisesse.
- Achei que anjos fossem humildes.
- Conheceu o Perth?
- Ele é um demônio.
- Mas antes disso era um anjo, você já ouviu as histórias dele, acha mesmo que ele era diferente quando era anjo?
- É verdade.
- Pai, eu posso ir brincar?
- Já decorou os textos que eu mandei?
O Dew suspira e abaixa a cabeça.
- Deixa ele, a noite ele lê um pouco mais.
- Tudo bem, mas pede para o Chimon ir com você.
- Tá!
Ele levanta e sai correndo, eu beijo o Nanon e sorrio.
- Já que ele vai brincar, vamos dar uma volta?
Ele sorri porque sabe exatamente de que tipo de volta eu estou falando.
- Vamos.
- Eu posso ir junto?
- Porque você não vai junto com o Perth para o inferno?
- Ohm!
- O que? É sobre a conversa que eles estavam tendo.
- Que conversa?
- Não importa. - Eu olho para a porta sem me afastar do Nanon. - Nós estamos saindo para transar e você não está convidado.
Ele me olha surpreso, acena e sai.
- Precisava fazer isso?
- Você não acha que essa casa está cheia demais?
Ele me encara por um momento e me beija, quando se afasta eu olho em volta.
- Onde nós estamos?
- Bantam, é um arquipélago da Austrália, eu estava pensando, vocês adoram ir para Madagáscar por causa das praias e você sempre reclama do clima frio, então eu estive procurando e achei esse lugar, a região toda tem quase quinhentos habitantes e um lugar isolado, quase não recebe turistas e aqui o clima é de verão o ano inteiro.
- Sério?
Eu olho em volta mais uma vez e parece uma daquelas ilhas desertas tipo as dos piratas do Caribe.
- Porque você me trouxe aqui?
Ele segura a minha mão e começa a andar, entramos na floresta e ele vai explicando.
- Eu conversei com a bruxa e nós concordamos que ela vai enfeitiçar dois locais, a nossa casa e mais uma casa secreta por precaução, eu não confio no Perth e no Chimon, então se acontecer alguma coisa podemos mudar para outro lugar seguro imediatamente e deixar eles para trás. Eu já estava de olho nesse lugar, paguei 20% a mais para liberarem o uso da casa, então...
Como se estivesse cronometrando o que estava dizendo ele para e aponta para a frente, eu olho fico encantado com a casa, ela não é muito grande, tem dois andares e as paredes são de vidro, então dá pra ver todo o interior.
- Podemos usar?
- Claro, é nossa.
Eu reparo que a casa foi construída sobre uma grande rocha, tem uma escada que leva até a porta.
- Você acha que a casa aguenta? Quer dizer, se tremer não vai quebrar os vidros?
- Não tenho certeza, vamos testar?