único

1.9K 183 278
                                    

Diego estava no camarim, atônito, lendo e relendo várias vezes suas falas do dia, até ser interrompido pela porta se abrindo. Tem sido dias difíceis nos estúdios Globo, assumindo em segredo e confidenciado a Amaury apenas, a importância do que estavam fazendo e, o nível de protagonismo que estavam tomando. Era claro que estavam roubando a cena, mas para ele só ficou realmente claro ali, lendo as páginas de seu personagem em agonia. A novela entrava na reta final, todos estavam à flor da pele.

Amaury entra e diferente dele, estava sorrindo com um saco pardo na mão. Ele se senta perto das araras de roupas já tirando os sapatos.

— Meu Deus! - Disse ele incorporado no Julinho. — Estou com fome.

Diego sorriu se levantando de onde estava para se sentar ao lado do outro.

— Você viu nossas falas de hoje?

— Claro né, Diego! Diferente de você, eu estudo meu personagem, estudo minhas falas, eu passo texto em casa. - Implicou sentindo um soco no braço. — Agressão, meu Deus, não, não!

— Para! - Diego pediu em uma falsa irritação. — Tô falando sério, hoje vai ser muito pesado, não vai? Não vejo a hora dessas cenas acabarem, tô me sentindo esgotado, você não tá assim não?

Amaury soltou o ar de uma vez, se recostando no acolchoado do sofá e colocou a mão na perna de Diego, mostrando finalmente o quão exausto também estava. Diego se recostou também deitando a cabeça no ombro do mais velho.

— É que claro que sim. - Confessou. — Muito! Você sabe como saio das cenas e hoje vai ser a pior delas. Não concordo com o rumo que as coisas tomaram, mas fazer o que né? Já discutimos, fizemos o que podíamos, mudamos o que conseguimos, mas é isso, o jogo continua e nós temos que dar o nosso melhor, sempre.

— Eu sei, é só... aí não sei Maury, tô me sentindo estranho.

Amaury passa seu braço por trás dos ombros dele e o aperta num abraço de lado, Diego por sua vez se aconchega naquele abraço passando o seu próprio pelo tronco do outro.

— Eu sei que é besteira, mas vai ser estranho te ver todo machucado e sangrando. - Confidenciou levantando o olhar brevemente.

— Essa vai ser a nossa última cena do dia, quer fazer alguma coisa depois? Só pra, sabe... espairecer um pouco, recarregar, não precisa ser nada demais, você pode ir lá pra casa ou eu ir pra sua e conhecer finalmente seus filhos.

— Meus filhos? - Diego perguntou confuso um pouco absorto nas palavras do outro.

— Sim. Os morcegos. - Ele riu debochado e recebeu um tapa em seu peito.

— Nãoooo. - Diego alongou o "não" fazendo uma careta de dor e tampando o rosto com a mão. — Não brinca com isso.

— Desculpa - disse ainda rindo —, mas o convite é sério, não quero ficar sozinho, não hoje, sei que depois disso vou precisar conversar e você também.

— Hm... - Diego parecia pensar e se lembrou de umas coisas que viu no twitter mais cedo, precisava saber se aquilo tinha fundamentos ou não antes de aceitar qualquer coisa. — Posso te fazer uma pergunta?

— Claro, manda bala.

— Eu vi no Twitter.

— Ah não! - Interrompeu apertando os olhos com o polegar e o indicador.

— É sério.

— Nada que vem do twitter é realmente sério, mas vai, fala.

— Bom... agora não sei se quero mais falar. - Diego mudou sua postura cruzando os braços, mas sem se afastar.

Atos de Perturbação ~ dimauryOnde histórias criam vida. Descubra agora