Capítulo IX

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O cigarro em lábios e a fumaça tomando altura naquela pequena sala. Os olhos de Lori pesavam, mas aparentemente um preço a pagar por ter conhecido Toge Inumaki é o sono: estava acordado com o relógio marcando cinco da manhã.


Imaginava que mesmo perguntando não obteria respostas, mas o fato de todos daquele grupo fingirem ignorância mesmo cada poro de seus corpos exalarem mentira, deixou Lori frustrado e não querendo brigas tolas, apenas engoliu a curiosidade e foi para casa.


Agora estava assim, pensativo, forçando a mente a se recordar o que poderia estar acontecendo, era como se uma nuvem espeça cobrisse memórias, mas alguns sons, talvez provenientes de sua imaginação — mesmo tão vívidos — se tornavam aos poucos frequentes.


Baforando mais um cigarro, jogou o resto em seu cinzeiro sentindo a dor de cabeça lhe atingir, o que era estranho já que Lori pouco conseguia sentir ou processar dores, mas essa estava quase que insuportável. Levando as mãos ao rosto, suspirou, puxando bem o ar para dentro de seus pulmões e soltando aos poucos.


— O que eu fiz? — Ele repetiu, mais uma vez, frustrado enquanto raiva queimava seu corpo. Lembrando de como Toge agiu de forma ansiosa, preocupada como se algo ruim tivesse lhe acontecido, assim que Lori questionou sobre ter brigado, se culpou pra valer — Será que eu bati nele? Não... Ele não parece ser do tipo que perdoaria isso tão... Ele faria isso!


Batendo a mão sobre a mesa a sua frente, jogando o velho cinzeiro contra a parede, se sentiu ridículo. Não deveria agir assim, não quando finalmente aprendeu a lidar com seu ódio e descontrole vinha com atitudes infantis? Se levantou, pegando alguns cacos do antigo objeto agora partido aos montes e os colocando sobre a mão, levou até o lixo antes de desta vez, levar uma pá e vassoura consigo.


Na limpeza, sequer notou o corte feito, somente quando os poucos pingos deixados para trás o avisou de seu ferimento. Não era sério, apenas deixou a água da torneira escorrer pelo ferimento tirando qualquer pedacinho de seu antigo cinzeiro antes de jogar sabão esfregando a ferida para desinfetar.


Em seu pequeno armário a caixinha de primeiros socorros estava lá, precisando ser abastecida após a visita de Inumaki, mas tinha o suficiente para enrolar em seu machucado e até pensar em sair para buscar mais. Qual a diferença de agora para depois? Não é como se ele fosse dormir.




Saindo da farmácia com a sacola, até que pesada para o que inicialmente ele compraria, notou um grupo de pessoas andando, pessoas suspeitas que ele conhecia MUITO bem. Era coincidência demais ter aqueles dois juntos em uma hora como essa, parecia perseguição ou uma chance divina de descobrir o que eles escondiam.


Maki falava no celular, parecia procurar algo enquanto olhava para o céu. Inumaki, por sua vez tinha seu rosto focado a pequena pedrinha que chutava a cada passo de forma pensativa, quase sem vida e Lori? Agora, com a sacola bem amarrada para evitar ruídos, seguia a dupla pelas ruas de fininho.


Como ele estava conseguindo passar despercebido? Sequer imaginava, se um deles tivesse o menor senso de olhar para trás veria um poste ambulante caminhando quase que nas pontas dos pés e se escondendo quando tinha pontos para fazer tal ação — raro, mas postes distribuídos em grande espaçamento parecia uma "boa" ideia.


Quando chegaram em uma escola, os dois pularam o portão trancado com facilidade e o maior teve de esperar um pouco para poder fazer o mesmo passando despercebido, caminhando na direção que notou ter visto eles irem logo depois de passar o enorme obstáculo. O som ao redor era diferente, parecia como se sua cabeça estivesse chiando e novamente doía, de forma quase sufocante, mas ele não parou.


Cada passo mais aquela dor se alastrava por dentro de seu corpo o fazendo arfar, agora preocupado de não ser apenas com ele, mas a mesma coisa estar acontecendo com Inumaki, juntou todas as forças correndo em direção do que parecia cada vez mais um grito.


Grito... Dor... Sufoco... Mas ele precisava achar Inumaki! E se algo estivesse acontecendo com ele? Toge era frágil, se metia em brigas e era papel do Lori agora evitar todas elas, ele havia prometido a si mesmo que estaria do lado do pequeno platinado desde que o viu ferido por uma segunda vez.


FERIDO! Jamais deixaria alguém tocar em Toge, jamais deixaria alguém falar mal dele e sair impune. Lori se lembrou, como um raio que cortou seu corpo recordando de tudo antes de virar o corredor dando de cara com um enorme pátio de esportes onde uma silhueta monstruosa do que seria três ou quatro metros em sua visão rompendo sua mente pela última vez antes de o derrubar.


— Inumaki... 

Pecado / Toge InumakiOnde histórias criam vida. Descubra agora