Andilares e Cavalos

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Lorina não conseguia dormir naquela noite, pode-se dizer que possuía vontade para tudo, menos de dormir

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Lorina não conseguia dormir naquela noite, pode-se dizer que possuía vontade para tudo, menos de dormir. Na verdade, ela até tentou cochilar depois do jantar, mas as dores a atormentavam com tamanha intensidade que a fez abrir os olhos abruptamente com espasmos.

A cama destinada a seu sono era confortável, revestida de couro de vorgo velho, o mais recomendado para noites frias, além de não ser a preferida dos ácaros. O travesseiro também lhe agradava pois o havia comprado de um comerciante há menos de quatro anos. Mas não importava o quão satisfeita ela poderia estar com seus móveis, nada era capaz de amenizar seu sofrimento.

— Sagrado Vilmor, por que isso? — ela agonizou levantando-se de seu leito. Suas vestes de dormir eram as mesmas que usava durante o dia por baixo do vestido sujo amarronzado.

Andou até a mesa da cozinha e apoiou-se no móvel, inclinando o corpo para baixo, como se algo tragasse seu estômago. Não demorou para que ajoelhasse no chão pela fraqueza que se apoderava de seu corpo, o que por um instante levou a força de suas pernas.

Soltou alguns gemidos de dor, e contorceu as mãos no chão de madeira. Ela mantinha os olhos fechados, mas pôde sentir a queimação entre seus dedos, e também notou uma leve alteração das cores diante de suas pálpebras. O que havia dentro de si clamava por sair.
Mas Lorina não se daria por vencida, o risco de libertar-se era grande demais, e ela vinha tendo sucesso nos seus planejamentos secretos. Dessa forma, buscou respirar fundo, e sussurrou algumas palavras antigas no idioma de Virturia.

Aliahn, mentre andari. Aliahn, mentre andari.

Pouco a pouco sentiu a queimação de suas mãos cessar, e a dor interna diminuiu, assim como a tontura. Arfou, e colocou as mãos nos joelhos para enfim se levantar.

Os espasmos se tornaram mais intensos nos últimos meses, ou nos últimos anos. Tinha uma intuição do porquê, mas como não possuía nenhum conhecedor do assunto por perto, então teria que ficar no campo das especulações. O fato era que, alguma hora a situação iria sair de seu controle, e ela sabia que isso iria acontecer em breve, pois se tornava mais difícil manter a postura normal, e as tirênias também não deixavam de serem implacáveis.

Lorina caminhou até a cama de seus filhos no outro lado da casa, e os viu dormindo na mesma cama, ambos em posições desengonçadas com pernas e braços para fora do leito. Ela abriu um pequeno sorriso em vê-los assim, e incomodava-se pela exaustão que os levava a dormirem tão intensamente todos os dias. Jovens privados de suas liberdades, ela pensou, e sonhava com uma vida na qual eles não precisassem trabalhar arduamente para sustentá-los, estando excluídos de qualquer outro prazer.

Nalan era o que mais se queixava disso. Quando havia chegado do porto neste dia, falou que viu um dos aldeões ser arrastado pelas tirênias até o local em que o muro era erguido, pois se recusava a trabalhar neste dia devido a um ferimento. O menino não poupou a voz, e falou sobre o assunto durante todo o jantar, trazendo mais cogitações para uma fuga de sua família daquele inferno.

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