Track 5: Ligações perdidas e aconchego noturno

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Now playing: Not Another Song About Love – Hollywood Ending

J A E Y U N


A campainha fez o barulho mais irritante possível às onze da noite.

Era a décima sétima vez. Eu tentei ligar para Heeseung 16 vezes essa semana e fui ignorado em todas elas.
Agora, a última tentativa caiu na caixa postal e eu bufei enquanto olhava Sunoo correr pela casa preocupado.

— O que foi?

— Droga, Jake, eu acho que é a mamãe.

— O quê?! — Elevei o tom de voz sem querer e não demorou muito para ouvirmos batidas descompensadas na porta da sala.

— Filhotes, mamãe tá aqui! Podem abrir?

— Porra, porra, porra… ela só tem a chave da clínica? — Sunoo praguejava baixinho e falava sozinho enquanto tentava arrumar a bagunça do local.

Peguei a chave no balcão da cozinha e fui destrancar a porta.

— Mãe… que surpresa boa! — Abracei a mais velha assim que nossos olhares se encontraram.

Fazia tempo que ela não nos visitava. Na maioria das vezes ela está cheia de trabalho e, quando não está, comemora o aniversário de alguma planta ou ignora nossas ligações e mensagens porque está fazendo pilates.
O significado do nome da mamãe combina bastante com ela, na verdade. “Jardim à beira-mar” diz muito sobre sua personalidade. Acho que a casa perto da praia infestada de plantas nunca foi por acaso.

— Deixa que eu levo — Peguei a bolsa de couro marrom e abri espaço para a senhora Hae-won entrar.

— Sunoo, meu amor! Como você está lindo, filho — Apertou as bochechas e deixou selares por todo o rosto do Kim, recebendo uma careta de desgosto e um bico emburrado.

— Como está o papai? — perguntei.

— Nunca esteve — Riu. — Mas está bem, pelo visto. Vive perguntando de vocês, aliás.

Gargalhei junto com ela e vi que o mais novo deu um sorriso também.

Papai nunca foi um homem presente na vida da família. E quando estava, finalmente, em casa, ao nosso lado, só soltava reclamações e qualquer palavra mal dita desencadeava uma nova discussão.

Quando Sunoo nasceu, eu ainda era pequeno, mas lembro que foi a melhor coisa que poderia ter acontecido.
Eu tentei protegê-lo de toda a negatividade que papai ainda trazia, protegê-lo do mundo como mamãe ainda não tivera tempo de fazê-lo e ensiná-lo sobre as mais belas coisas da vida.

E apesar da chegada do Kim - cujo sobrenome é do papai -, as brigas nunca pararam totalmente, acho que eles só cansaram da convivência um do outro e terminavam aos bufos, com certeza se lamentando em ainda terem que dormir na mesma cama.

Até que uma hora parou.
E não demorou para que eu acordasse com papéis de divórcio embaixo da porta.

Lembro que deixei a caneca de leite quente cair no chão, que por pouco não molhou os papéis.
Mamãe não brigou comigo. Ela chorou junto.
Mas o papai brigou. Disse coisas horríveis.

Mas não importa mais, não é? Ele foi embora de nossas vidas e, pelo visto, mamãe não poderia estar melhor em todos esses anos.

— O que estavam fazendo, queridos? — Perguntou a mais velha assim que nós três nos aconchegamos no sofá da sala.

— Nada — Sunoo respondeu — Mas o Jaeyun tava surtando com o namoradinho dele.

— Namorado? — Hae-won ficou confusa.

𝗯𝗮𝗱 𝗸𝗶𝘁𝘁𝘆, 𝗁𝖾𝖾𝗃𝖺𝗄𝖾 [hiatus]Onde histórias criam vida. Descubra agora