Não foi a primeira vez que Viliana acolheu um pobre garoto perdido, muito menos uma vítima das atrozes Tirênias. Sim, pois ela costumava usar a Casa da Joane como abrigo temporário para os que ajudava, seja homem ou mulher, jovem ou velho. Nunca fora escolha sua, mas a prostituição foi a melhor maneira de se sustentar e manter-se escondida na cidade.
A tarde nem sempre trazia muitos clientes, o completo oposto da noite, pois era sob os encantos do luar que as ruas de prazer se enchiam de desejos lascivos. Muitos homens deixavam suas moradias para buscarem o conforto que não recebiam em casa, principalmente soldados, pois estes mal podiam se dar ao luxo de casarem, já que as funções militares os impediam de tomar esposas e construírem famílias. Pelo menos um pouco das necessidades carnais podiam ser supridas nos braços de outras mulheres.
O prostíbulo de Joane era dito como o melhor daquelas bandas. Tinha músicos durante a noite, como harpistas e violinistas, estes costumavam aparecer no início da madrugada, quando os ânimos já se aquietavam, e o gracejo do silêncio lutava em perdurar. O suave som de tais instrumentos pareciam trazer uma aura diferente para o ambiente, algo que contribuía para o deleite de quem ouvia. Não era fácil encontrar músicos com tamanho talento, mas não fora Joane que os chamou, e sim eles que vieram em busca de trabalho. Um trabalho muito recompensador, por sinal, tendo em vista que algumas mulheres por ali se agradavam de suas companhias.
Viliana, por sua vez, esbanjava a simpatia de Joane que a recebera uns três anos atrás, mas não seria por isso que ela haveria de morar em seu antro gratuitamente, pois também teria que deitar-se com clientes e contribuir com a manutenção do lugar, em troca da permissão de acolher quem quisesse, desde que não trouxesse muito escândalo.
E essa foi mais uma noite em que a garota de vinte anos precisou exercer seu trabalho, e fazia isso com a mais profunda dedicação, para não correr o risco de desagradar sua empregadora.Num dos quartos do segundo andar, no alto do cair das estrelas, Viliana escondia sua nudez entre os lençóis brancos e perfumados. O tecido fino evidenciava o desenho de suas curvas, e isso atraía mais o desejo de quem a visse. O cliente da vez era um homem novo, não parecia ter chegado aos trinta anos ainda, a considerar pela ausência de barba ou de rugas. Viliana poderia ter feito perguntas para conhecê-lo melhor, mas sabia que o interesse dos homens era o prazer em primeiro lugar, e talvez depois o diálogo.
Acariciando-o com o toque de sua mão, a andilar fez desenhos gentis com a ponta de sua unha no rosto do sujeito enquanto o beijava, e isso o agradou. Prosseguiu com o toque descendo gentilmente, passando por seu peito moreno e terminando em sua virilha, que também estava oculta por lençóis.
Tendo terminado o encontro de seus lábios, Viliana suspirou e sorriu sutilmente, observando-o com seus olhos atraentes, semelhantes aos das corujas. O homem também sorriu, mas possuía menos beleza do que ela, e trazia um verdadeiro suspiro de paixão. Talvez fosse por ela ser sua primeira parceira de cama.
— Você é perfeita — disse ele, encarando-a extasiadamente, o que a fez soltar um risinho de satisfação.
— Me diga se eu estiver errada, mas sinto que sou a primeira mulher com quem se deitou.
A pergunta o assustou.
— Como sabe? Fiz mal?
— Pelo contrário, fez muito bem. — Ela era ótima em mentir. — Mas fez com amor, como se eu fosse mais do que uma mera prostituta para você.
O homem não interpretou a verdadeira intenção da garota, e cogitou tê-la deixado descontente por alguma coisa.
— Mas você pode ser mais do que isso para mim — afirmou, na esperança de obter algo a mais em sua investida.
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O Último Andilar
FantasyPode-se dizer que os Portos de Virturia é o único lugar que os irmãos Nalan e Liandro conhecem em sua vida, o único vislumbre que eles têm sobre o mundo em que vivem. Mas a vida nunca mais fora a mesma desde que as terríveis Tirênias dominaram seu l...