A caixa

Capítulo 1

Queria entender o que estava acontecendo comigo. Mais um dia sem sentir absolutamente nada. Estou desde sexta me sentindo com uma extrema apatia. Tomei meu milk shake preferido, o de baunilha, e não tinha gosto. Era como se eu tivesse tomando água. Absolutamente tudo que eu colocava na minha boca não tinha sabor, o gosto do açúcar não dava mais prazer, nem minha maconha batia.

Supérfluo, era essa a palavra que minha mente trazia. Não arrumei minhas unhas há meses, faz alguns dias que não tomo banho e uns três dias sem sair de casa para absolutamente nada. Não consigo me olhar no espelho. Escuto a campainha da casa tocar, quando consigo forças para atender o interfone, apenas o silêncio. Olho para janela para ver o que estava acontecendo e me deparo apenas com uma caixa. Uma caixa de papelão foi entregue na frente da minha casa.

Decidi abrir a porta rapidamente e tentei pegar a caixão com a maior velocidade possível, mas ela era levemente pesada. Com um pouquinho de esforço e tempo consigo levar para dentro de casa. Agradeço que ninguém tenha me visto em estado deplorável com meu pijama da Hello Kitty e com calcinha branca. Sim, eu ando só de pijama e calcinha em casa quando tô sozinha.

Deixei a caixa na sala, em cima da mesa de estar, para tomar um banho. Depois eu abro, pensei. Enquanto me ensaboou, fico pensando em como gostaria de voltar ao passado, a época que sentia o gosto de chocolate quando abria uma barra. E como minha vida está tão sem rumo neste momento. Sabe, parece que eu não sabia o que estava por vir. A água bate na minha cabeça, aplico o meu shampoo nos meus cabelos negros e encaracolados. Nem seu cheiro de café consigo sentir.

Visto apenas minha roupa de baixo e uma regata branca, sem estampa. Meu conjunto preferido para passar em casa. Volto para sala e resolvo abrir a caixa. Ao abrir lentamente, senti um calafrio, algo estranho, pois não conseguia sentir nada, apenas um medo latente. Porque essa caixa está me fazendo sentir assim, me perguntei.

Lembro que só senti medo assim da vez que um lobo me atacou na fazenda dos meus padrinhos, estava brincando na floresta e ele mordeu meu ombro, até hoje tenho uma cicatriz ali. Só consigo pensar no momento que eu estava sozinha brincando nas árvores, enquanto me deparei com aquele animal selvagem, seus olhos negros olhavam em minha direção. Comecei a me sentir em desespero puro, não conseguia me mover nem fugir.

Jamais pensava que iria me sentir assim novamente. Respiro fundo por alguns segundos e o sentimento de estranheza para. Ao abrir-lá, vejo um tablet. Aperto o botão para ligar, e me deparo com instruções de como usar a caixa.

1 - Esta caixa lhe garante um desejo, mas tudo tem um preço.

2 - O preço será definido no tablet.

3 - O que deverá ser pago tem que estar num raio de 50 metros da caixa.

4 - Caso não haja algo dentro de 50 metros para o pagamento, o tablet irá mostrar a localização mais próxima para efetuar o pagamento.

5 - O item deverá ser colocado dentro da caixa como forma de pagamento.

6 - Não exceda o tempo de 15 minutos para efetuar o pagamento ao chegar ou estar no local adequado.

7 - Você deve confirmar os termos e aceitar as consequências.

Aceitei os termos sem exitar, eu queria voltar a sentir. Queria que o vazio dentro do meu corpo sumisse. Gostaria de ter o prazer de viver novamente. Não aguentava mais esse vazio que me parava por dias, me imobilizava. Me destruía ter que conviver com isso nos últimos anos.

O tablet ficou numa tela de carregamento. Após isso apareceu o seguinte na tela:

Escreva o seu pedido:

"Quero 1000 reais." - digitei.

Resolvi testar primeiro, pelo medo que sentia, queria descobrir o que eu deveria entregar para conseguir o que queria. Quem sabe o que pode me pedir.

Um pedaço do seu cabelo.

Me tranquilizei, o preço a pagar não era tão algo como pensava. Então encontrei a tesoura mais próxima, que estava guardada na escrivania. Peguei um pedaço do meu cabelo com minha mão esquerda, e com a direta cortei um tufo. Com o cabelo que segurei, atirei dentro da caixa. Olhei para dentro e não estava mais lá, e em seu lugar estava mil reais enrolados em notas de 100. Contei o dinheiro, eram exatamente dez cédulas.

Eu não acreditava no que estava acontecendo. O medo de seguir em frente me tomou, o preço pode não ser algo, pois mil reais não é lá muitas coisas nos dias de hoje. Não dá nem pra sobreviver com isso por um mês. Lógico que ajuda, porém não conseguia confiar no que estava acontecendo. Decidi ir para cama e ver se eu pegava no sono. Eram 23 horas. Mal sabia eu que os próximos dias seriam os piores da minha vida.