one shots • saikomene x leitor

Pt.1 Beber cair levantar (x4)

"Saiko, você já se apaixonou por alguém?"

A pergunta vem do nada, tão súbita quanto um tiro nas costas. A ligação entra em um silêncio absoluto, infernal, e por um momento S/N imaginou que tivesse mutado tudo sem querer, mas não: o som de uma resposta sem graça veio logo em seguida para desfazer aquela sensação.

"Tu é doente."

Ela ri e bebe mais um gole da garrafa de vinho.

"Poxa, responde sério! Cê sempre fala as coisas brincando, aí acaba que fica assim: a gente é melhor amigo e eu não sei quase nada sobre você!"

"Eu te falei para não beber. Tu sempre fica assim quando bebe, S/N."

Ela ri de novo, vendo graça em qualquer coisa que acontecesse. Seu senso de humor já era quebrado, mas com a adição de álcool a situação só piorava.

"Tá bom, tá bom. Eu comprei essa porra ontem à noite e já está na metade," seus dedos se prendem ao redor do corpo da garrafa e ela dá uma leve chacoalhada nela, "cê tá certo." Ela dá outro gole e outra risada. Sua falta de auto controle era admirável.

"Para de beber, doente."

"Só se você me responder, Saimon de Alvin e os esquilos. Já se apaixonou? Hein? Sim ou não?"

Ela escuta um suspiro pesado vindo do outro lado. Já era tarde da noite e os dois haviam passado as últimas cinco horas jogando e conversando—era o normal para eles—quando S/N trouxe à sua mesa a garrafa de vinho tinto que havia comprado no dia anterior. Quando ela bebia, virava um livro aberto, e quando virava um livro aberto, esperava dos outros o mesmo.

Saiko, por outro lado, tinha tantas fechaduras por suas páginas que a maioria das chaves já havia deixado de existir. Ele não gostava dessas perguntas. Não quando era ela quem as fazia.

"Boa noite, S/N," murmurou, curto e seco.

"Porra, espera aí."

"Hm."

Outra risada sem motivo e ela começou a rodopiar em sua cadeira, com os pés no assento e o queixo sobre um dos joelhos. Se não fosse por seus fones de ouvido sem fio, já teria se enforcado sem querer há muito tempo.

"Se eu responder primeiro, você responde depois? Mesmo se for só com um sim ou não?"

Saiko estava a um único passo de soltar um "nem fodendo" como resposta, mas aí algo dentro de si fez com que ele parasse no lugar. A câmera desligada não era suficiente, e ele teve que se mutar também. Respondeu no chat com uma desculpa qualquer, mas falou que aceitava; que era pra ela continuar.

Embora fosse S/N falando, o coração que começou a pular para fora do peito era o dele, e não o dela. Como pode alguém se sentir tão exposto assim? A mera existência de Saiko era demais pra ele mesmo em alguns momentos. Apesar de tudo, ela seguiu em frente, sem qualquer receio aparente no tom alegre de sua voz.

"Euzinha nunca, nunca mesmo, nunca me apaixonei por ninguém na minha vida inteira!" Uma gargalhada desengonçada escapa de seus lábios tingidos de bordô; culpa do vinho. "Por que para eu me apaixonar, teria que ser mútuo, né? Eu penso assim pelo menos. Nunca namorei ninguém, então também acho que nunca me apaixonei. Que palavra estranha. Dá um ar super pesado. Apaixonada," ela repete a palavra, franzindo a testa. Depois solta um suspiro e continua. "Mas, tipo, eu já cheguei perto, tá ligado? Nossa! Não espalha, mas eu já tive um puta crush no Meiaum. Não deu em nada, né? Lógico. Mas aí teve você."

Ela para. Algumas coisas precisavam de mais coragem que outras para serem ditas em voz alta. Ela ignora o tremor de suas mãos enquanto elas buscam o gargalo da garrafa. Do outro lado, Saiko continuava mutado.

"Você é esquisito para caralho. Só fala bosta, e dá última vez que a gente jogou gartic, você desenhou um monte de pica em todos os seus desenhos e ficou rindo igual um imbecil enquanto eu tentava acertar a palavra. Você é um estranho tão estranho, mas tão estranho, que eu acabo me achando mais estranha ainda por gostar de ti."

Com um último gole, ela acaba com o vinho, e aí, o silêncio vem. Inquieta, o som de couro ecoava baixinho da cadeira de S/N. Ela não conseguia ficar parada. Não enquanto ele continuasse assim, calado.

O ícone roxo de "digitando" do Discord vai piscando por um momento. Reticências indo e voltando, indo e voltando, até que param. Um segundo, dois segundos, elas reaparecem. Indo e voltando, indo e voltando. 

Saiko: "greg fez merda aqui"
Saiko: "vou ter q consertar"
Saiko: "depois eu ligo flw"

E aí o barulhinho de ligação encerrada. S/N ficou encarando sua mini foto de perfil, sozinha na call. Ficou assistindo sua circumferência parada por longos minutos até que o próprio Discord a livrou da vergonha e a expulsou. 

"É," ela sussurrou para si mesma, "só uma garrafa não foi suficiente."

☆•°▪︎ CALMA, NÃO ACABOU! Se você quiser ler, agora, um desfecho feliz, a próxima parte "Pt.2 (Bom)" é para você. Caso você goste de ver sofrimento alheio, a outra parte "Pt.2 (Ruim)" é toda sua.

Sim, finais alternativos.