Minhas emoções estão tão confusas dentro de mim. Tanta coisa acaba de acontecer comigo. Há tanto em que pensar que simplesmente não consigo pensar em nada.
Minha mente se recusa a reviver esses últimos minutos e eu jamais seria louca ao ponto de forçá-la a revivê-los.
Indignação.
É tudo o que me move agora. Talvez seja isso que me faz percorrer o castelo até retornar aos meus aposentos.
Conforme cambaleio pelos corredores — procurando por uma firmeza que minhas pernas não podem me dar — ignoro completamente a insistência com que Heron Gastal tenta me arrancar respostas.
Num piscar de olhos vejo-me no interior do meu quarto, ouço o estrondo da porta atrás de mim e fixo a atenção nas damas que me aguardam.
Tanto Valliéry quanto Desiderata me observam com espanto e assisto a aproximação da primeira delas como se seus passos fossem demasiados lentos.
Seus lábios se movem, mas não decifro nenhuma das palavras que ela dirige a mim. Até que chegando ao limite da paciência a dama me sacode pelos ombros e causa meu breve retorno ao evento presente.
— Não está me ouvindo? — questiona Valliéry, após me soltar. — Não tenho o dia todo.
— O que quer de mim? — retruco, pressionando meus olhos com força.
— Aqui! — exclama Valliéry, chamando minha atenção.
Dessa forma, volto a encará-la e vejo que me estende uma pena e um pedaço grande de pergaminho.
— Para que é isso?
— Oh, céus! Estou explicando há meia hora — afirma a dama, empurrando a pena contra minha mão. — Precisa escrever os seus votos de casamento.
E diante disso, tudo ao redor torna-se um borrão que se esvai num segundo.
Depois de sentir que não estou mais no quarto, de repente, encontro-me no chão do aposento, sendo espremida contra as farpas do assoalho pelo peso do corpo das duas ladys.
Olho para o lado com os olhos embaçados e vislumbro a face perplexa de Desiderata. Em seguida, debatendo-me em busca de liberdade, sinto ser posta sobre meus pés e ainda retida pelas mulheres, deparo-me com os rastros que foram deixados por um inestimável vendaval.
Quando isso aconteceu?
Na realidade, ao prestar uma melhor atenção, o que suponho é que um animal feroz invadiu meus aposentos, mas não sei quem o afugentou.
Os vasos foram estilhaçados no chão e entre seus cacos descansam as pétalas das flores que eles continham. As cortinas foram arrancadas dos varais. Roupas foram atiradas por todo lado. Os lençóis da cama foram rasgados por garras afiadas. O espelho foi partido por um golpe certeiro e todos os itens de minha penteadeira se encontram espalhados pelo recinto.
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À Espera da Coroa - LIVRO 4 - CIR.
Ficção HistóricaO casamento real se aproxima e a corte toda está em polvorosa! Exceto por uma pessoa... O que seria um fato isolado, e até irrelevante, se essa pessoa não fosse justamente a noiva. Panny Delyon recebeu a notícia que mais temia, ou que aprendera a te...