Já era meia-noite, os corredores frios e mórbidos do prédio estavam completamente vazios, cada passo reproduzia um estalo no piso recém-encerado. O rapaz de cabelos bagunçados e roupas de frio procurava a chave de seu apartamento no bolso do casaco preto.
- Merda, será possível que perdi isso? - interrompeu seus pensamentos encontrando a chave e entrando logo em casa - Meus dedos estão congelando - comentou consigo mesmo.
O clima lá dentro era um pouco mais agradável, porém ainda frio. O local estava escuro, a única iluminação era a TV que transmitia algum documentário sobre o fundo do mar. A pessoa de baixa estatura deitada entre lençóis sobre o sofá olhou em direção à porta.
- Você demorou meu bem... Te esperei para gente jantar junto, liguei, mas você não atendeu... - Sussurrou a morena se arrumando sobre o sofá - O que houve? Você não é de sumir e não avisar.
- Oi, meu amor, você tá tão quentinha aí debaixo dessas cobertas, fofa - suspirou se aproximando da moça, a beijando logo em seguida - Tive que resolver uns problemas, ainda fui ao médico e na farmácia. Desculpa ter te deixado sozinha - completou envolvendo seus braços na moça.
- Eu preparei seu banho. Você tá cheirando a suor e cigarro - riu ela - Relaxa um pouco na água, acho que continua quente inclusive, e seu jantar está dentro do micro-ondas.
- E você tá cheirando a frutas vermelhas - respondeu apoiando a cabeça no ombro de Anneliese - Acho que vou só tomar um banho e fumar um cigarro mesmo... Tô sem fome hoje.
- Tô cansada, amanhã vou passar o dia trabalhando e você vai ter que cuidar da faxina da casa sozinho... Inclusive, minha mãe ligou, quarta-feira vai ter um jantar na casa dela e a gente vai.
- Ah, não, Anneliese, seu pai olha torto para mim sempre, ele não gosta da minha presença e sempre fica perguntando sobre quando a gente vai ter filhos ou casar na igreja.
- Eu já disse para ele que não sei quando vou engravidar... E nem quando vamos casar. Ele só insiste por pressão mesmo.
- Ele me odeia pelo motivo de que a gente é feliz...
- Vai tomar seu banho antes que a água esfrie, ok? Vou te esperar na cama... Depois a gente resolve se vai ou não a esse festa de família...
- Oh meu amor, essa entonação de voz saiu meio triste, você sabe que eu digo essas coisas, mas no fim não deixo você enfrentar aqueles ordinários da sua família sozinha né? - disse com voz manhosa - Eu faço de tudo por minha princesa.
- Vai mesmo? - olhou surpresa.
- Lógico, mas com uma condição de que depois você me pague um vinho.
- Pago até um boquete se você quiser - respondeu beijando o loiro - Agora vai.
- Tá bom, Anneliese, já vou tomar banho... Tô exausto... Preciso dormir - respondeu com um sorriso de canto
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Entre Quatro Paredes
Romance[...] O amor é finalmente um embaraço de pernas, uma união de barrigas, um breve tremor de artérias Uma confusão de bocas, uma batalha de veias, um reboliço de ancas, quem diz outra coisa é besta. ~ Gregório de Matos, Boca do Inferno