- Me desculpe por ter tirado você de casa nesse frio. - Carlos diz, girando a xícara na mesa.
- Não se preocupe. - respondo.
A verdade é que eu sairia de casa em qualquer situação só pra ouvir o que ele tem a me falar. Estou ansiosa e nervosa pelas suas palavras, mas tento me conter e esperar pelo momento em que Carlos se sinta à vontade o suficiente. Apressá-lo pode não ser uma boa ideia.
- O que achou do chá? Fui eu que fiz.
Algum pedacinho meu se derrete com isso; imaginar Carlos Sainz na cozinha preparando um chá para mim é algo que acende memórias antigas que levei bastante tempo para sufocar.
- Está ótimo, obrigada.
Carlos e eu nos olhamos por alguns segundos. Meu coração dá cambalhotas, o estômago dá um nó e eu me sinto presa - não como se estivesse enclausurada, mas sim vidrada, hipnotizada. Carlos Sainz é de outro mundo e seus olhos são quase mágicos.
- Não faz ideia do quanto esperei por finalmente estar aqui. - ele fala baixo, e meu peito se enche com medo do que vou ouvir. - Às vezes achei que nunca teria essa chance.
Estou preparada? Será que estou preparada?
Carlos estava concentrado na xícara à sua frente até subir o olhar para mim, suas pupilas estão dilatadas e ele parece um pouco tenso.
- Não menti quando disse que fiquei desesperado ao chegar na Espanha e perceber que não teria mais você.
Sua fala me pega de surpresa, como se alguém tivesse aberto um buraco no meio do meu muro de resistência. Carlos mal começou e meus olhos já se encheram de lágrimas, e estou tão nervosa que mal sinto minhas pernas.
- Quando recebi a ligação do meu pai contando que minha mãe tinha se acidentado, fiquei aflito. Ir embora era minha única opção, você sabe, é minha mãe... - ele faz uma pausa e eu balanço a cabeça em afirmação, pois não quero cortar seu raciocínio. - Na hora eu não consegui pensar direito e apenas corri para fazer as malas, mas, assim que entrei no quarto, me deparei com a caixinha do seu colar em cima da cama e ali foi o primeiro momento em que me dei conta de que ir embora também significava ir para longe de você.
Uma lágrima escapa e desce livre pelo meu rosto. Meu coração começa a arder e o espaço à minha volta parece esquentar.
- Acho que... Acho que foi um baque. Fiquei angustiado e paralisado, depois peguei o colar e o imaginei em você, como ficaria lindo no seu pescoço que várias vezes me deixou atordoado nas fotos que você me mandava.
Carlos abre um sorriso discreto e eu o acompanho sem pensar. Por alguns segundos eu deixo de lado todo o conflito que essa história me trouxe, pois meu coração inteiro está mergulhado na vontade de me sentar ao seu lado e segurar sua mão. Eu resisto; Carlos continua:
- Dei um beijinho no pingente e o devolvi no lugar. É meio ridículo, eu sei. - Sainz tira os olhos dos meus e cruza as mãos em cima da mesa, soltando um riso baixo. Eu quero lhe dizer que isso foi fofo, não ridículo. - Então comecei a pensar em como a entregaria já que não poderia vê-la, mas esse pensamento doeu tanto que ir embora sem te ver me pareceu... Errado demais. Senti como se estivesse te abandonando e eu jamais iria querer fazer você sofrer pensando que não me importava. Sei que, mesmo assim, falhei e te machuquei de várias formas diferentes.
Se meu coração fosse uma comida, ele seria uma geleia agora; se fosse uma geleira, estaria derretido. Pulsa tão rápido que se eu colocar um microfone em frente ao meu peito eu tenho certeza de que meus batimentos ecoam por todo este café. Meu choro é silencioso e inunda meu rosto todo, e quero loucamente segurar as mãos de Carlos Sainz agora tão perto das minhas.
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Pelo telefone | Carlos Sainz
Romantizm"Carlos era observador e detalhista. A risada dele era gostosa, calma e seu sotaque me deixou a ligação inteira com um sorriso bobo no rosto. Com a luz apagada e sentada no parapeito da janela, eu desfrutei de uma longa conversa com Carlos até quase...