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O caminho até a minha casa é silencioso e nenhum de nós tocamos no assunto do beijo, o que já é um bom começo.

Matt estaciona lentamente de frente a minha casa. Tiro o cinto e encaro-o, sem saber o que dizer.

- Hm... Bom... Obrigado - sorrio.

Coloco a mão na porta. Quando vou a abrir ele me impede. Me viro para ele fitando seus sedutores olhos castanhos claros.

- Me desculpa mesmo pelo beijo, sei que você se sentiu desconfortável e... - Eu o corto.

- Tá tudo bem. Quando um não quer, dois não beijam.

Logo percebo a besteira que falei quando vejo um sorriso bobo se abrir em seus rosto. Sinto minhas bochechas esquentarem cada vez mais.

- Desculpa, ahm, falei sem pensar - gaguejo.

- Fico feliz por isso - ele diz, sorrindo. - Te vejo depois.

- Até mais - falo e saio do carro.

Solto um longo suspiro e sigo para minha casa, fechando a porta e me encostando na mesma.

Fecho os olhos e passa como filme os momentos que passamos juntos. O primeiro abraço, o apelido, a praia, a dança e o beijo. Ah, seu beijo. Eu me sentia como Eva, no paraíso, mas cometendo o meu maior pecado. Talvez ele seja o meu pecado. Talvez ele tenha vindo para me mostrar que a vida não é só mares de rosas. Talvez ele seja o novo motivo do meu sorriso. Talvez eu esteja...

- Filha? - chama minha mãe aparecendo em minha frente. - Está tudo bem?

Abro os olhos e a fito. Ela está com uma expressão preocupada em seu rosto.

- Estou ótima - sorrio.

E então sua expressão muda. Agora ela está me observando com um olhar julgativo, mas, antes que eu abra minha boca para dizer algo, ela fala.

- Então amanhã conversamos.

Amanhã conversamos? Conversar sobre o que?

Obviamente é sobre a festa - ironiza meu subconsciente.

Não, não é só por isso, conheço esse olhar. Minha mãe foi sempre assim;  me julga pelos olhos mas a boca diz outra coisa. As vezes queria que ela fosse mais sincera comigo.

Tudo o que fiz essa noite minha mãe tem a sã consciência, e chegar com um homem me acompanhando não é o que ela quer?

Tudo bem, ela pode ter ficado um pouco espantada por esse homem ser Matt - até eu fiquei -, mas ela sabe e eu sei que ela quer que eu seja feliz com alguém que me ame, só não sei se esse alguém é Matthew Collins, meu chefe.

- Não - digo antes que eu mude de ideia. - Vamos conversar agora.

- Como que é? - pergunta minha mãe, levantando uma sobrancelha.

Normalmente minha mãe e eu evitamos discutir, por mais que existam poucos motivos, nós discutimos demais.

- Você nunca fala comigo, nunca me diz o que você pensa sobre as coisas que eu faço - falo alto.

- Nunca deixei de te dar a minha opinião sobre suas ações.

- Não mesmo, mas o que você sempre deixa de dar é a sua sinceridade - cuspo. - Não aguento mais a senhora não dizer uma coisa com medo de me magoar, ou sei lá o que. Mãe, eu sou adulta, eu posso entender qualquer coisa que você diga.

- Adulta? Você? - ela ri. - Melanie, você tem apenas 16 anos, você é apenas uma adolescente.

Apenas uma adolescente? Eu posso ter a idade e o corpo de uma garota dezesseis anos, mas eu dou duro. Eu tenho meu emprego, aprendi várias línguas com quatorze anos, e muito mais.

- A minha idade não define o meu caráter - cuspo. - Idade só são números quando você é independente e responsável.

Minha mãe fica me encarando boquiaberta. Eu nunca havia discutido com ela. Eu sempre ficava quieta em meu canto, as vezes ouvindo e em choque e as vezes chorando.

Mas hoje estou cansada. Cansada de ser o tapete que ela pisa.

- Amanhã conversamos - ela repete.

Não é porque ela é minha mãe que deve ser superior a mim. Eu amo ela, a amo muito, mas, sinceramente, tem hora que quero que ela se cale, para sempre.

- Eu já disse que não.

Ela respira fundo.

- Vai para o seu quarto - fala ela com os olhos cheios de ódio.

- Não - crio coragem para dizer. - Não sou mais uma criança. Não vou mais me trancar em meu quarto e chorar porque lhe respondi - paro por um momento. - Não é só porque estou saindo com Matt que deixei de ser quem sou, não.

Só quando minha mãe me encara que percebo o que acabei de dizer.

Saindo com Matt. SAINDO COM MATT.

Nós estamos ao menos saindo? Só foram dois beijos, e nada demais.

Ela fica ereta. - Eu sabia que trabalhar não seria bom para você - aponta o dedo para mim. - Vou falar com seu pai e você dê adeus ao seu emprego.

- Você não faria isso - fico em choque.

Ela não poderia estragar a minha única chance de conhecer Texas, não poderia.

- Você está certa, eu não faria - ela para. - Mas depois dessa conversa - se é que podemos chamar de conversa - que tivemos, eu vou fazer.

Meus olhos se enchem de lagrimas. Parece pouco, mas não é.

Sempre fiz de tudo para ser o orgulho dos meus pais, sempre fiz de tudo para conseguir ser independente, e quando consigo, ela estraga a minha chance.

Antes que eu perceba estou abrindo a porta. - Te odeio - fecho a porta.

Por mais que isso não seja verdade eu precisava dizer. Quem sabe assim ela pensa no que ela está fazendo comigo, a chance que ela está me tirando.

Observo os poucos carros passando na escuridão da rua.

- Para onde posso ir? - me pergunto.

E então me vem uma idéia.

Vejo um taxi passando e logo sinalizo para ele parar.

Entro no taxi e passo o endereço ao motorista.

Eu já estou cansada de sempre minha mãe ficar quieta. Ela pode não perceber, mas às vezes o silêncio pode ser pior que os gritos.

Ela sempre fez isso.

O que mais me deixa nervosa é que eu fui para essa festa para animá-la.

Então eu volto tarde da festa e ela briga comigo. Se ela não tivesse feito chantagem emocional, talvez isso não teria acontecido.

O táxi estaciona e pago o motorista, em seguida saio do carro.

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⏰ Última atualização: Sep 27, 2015 ⏰

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Capturada por amor || Z.M.Onde histórias criam vida. Descubra agora