Mudança

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Cansei, cansei de pedir, não, pedir não, implorar para minha mãe bater na porta antes de entrar! Ela simplesmente entra, sem bater, sem avisar, só entra, me assustando e invadindo minha privacidade que eu tanto luto para ter. Já não me basta eu morar com ela, tenho que seguir suas ordens malucas. Quem liga para o significado da cor do seu quarto? Bom, minha mãe liga. Queria ter meu quarto pintado de azul, mas um azul diferente, quase puxado para o verde, mas não, meu quarto teria que ser branco para atrair espíritos e vibrações positivas. Sério, quem liga?! É por isso que vou lhes poupar dessa besteira de cores e outras coisas que podem existir ou não em seu quarto.
- Anna, você está atrasada! - me chacoalhou na cama
- Atrasada pra quê, mãe? - resmunguei
- Para tomar café da manhã comigo! Fiz geléia de abacate, dizem que é bom para a pele - bateu palminhas animadas e eu franzi a testa - Vamos, você não pode dormir até tarde!

- Claro que posso, mãe! Eu já passei de ano, estou de férias temporárias - tentei me cobrir novamente, mas ela puxou o cobertor

- Vamos, levante, deixa de preguiça - ordenou - Chega dessa folga, venha, vamos meditar comigo!

Bufei alto e joguei meu travesseiro nela, que saiu do quarto rindo. Que droga! Mulher chata, ô! Levantei contra a minha vontade, olhei em meu celular 8:30a.m, quase gritei de tanta raiva por ter que acordar

cedo num sábado. Quando ia colocar o celular na escrivaninha, ele apitou, indicando uma mensagem de meu pai.

"Está acordada? - xx" Resolvi ligar para ele.

*

- Boooooooooom dia - falei animada

- Bom dia, meu amor! - pude ouvir ele sorrir - Bom, estou na cidade, passei aqui na lanchonete da Beth, me deu uma saudade do bolo de morango com chocolate que só ela sabe fazer, então pensei em te chamar, topa um café da manhã com seu velho?

- Claro que sim! - respondi de imediato

- Ok, passo para te buscar em cinco minutos - desligou

*
Corri para o meu armário e peguei uma roupa, me vesti com mais rapidez ainda e logo estava no banheiro fazendo minha higiene. Não que meu pai não pudesse esperar um pouco, não morreria por isso, mas minha mãe faria de tudo para tirar esse homem calmo do sério. Digamos que eles não se suportam mais, meu pai respeita minha mãe, mas não consegue mais conversar com ela sem agredir e sair agredido por palavras.

- ANNA! - minha mãe gritou. Acho que meu pai chegou - SEU PAI ESTÁ AQUI

- JÁ VOU - gritei. Passei meu perfume e peguei minha bolsa. Corri para a sala, onde meu pai estava, de pé, encarando as paredes - Pai! - falei e corri para abraçá-lo.

- Oi minha pequena - beijou o topo de minha cabeça - Vamos?

- Você vai aonde? - minha mãe pediu

- Tomar café com o papai - falei animada

- E minha geleia? - perguntou triste

- Deixa pra depois - sorri - Desculpe, mas o bolo de morango com chocolate da tia Beth é o melhor

- Tudo bem - foi para a cozinha e eu e papai saímos.

- Geleia? - perguntou divertido

- De abacate - fiz careta - Obrigada por me salvar - rimos e entramos no carro. Em cinco minutos já estávamos no Beth's, que nos recebeu alegremente, como sempre fazia. Eu e papai nos aconchegamos em uma das mesas confortáveis.

- Desculpe não vir na sua formatura do ensino médio - meu pai começou o assunto - O hospital estava lotado, não consegui sair, não podia deixar um paciente morrer - me olhou triste

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