O desespero de um monstro traidor.

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"Em uma terra de deuses e monstros, eu era um anjo, vivendo no jardim do mal."

- Lana Del Rey


















[Amanda]

Não tirei aquele vestido, em momento algum. Eu sei que estava parecendo uma criança quando ganha algo novo mas não liguei, era como estava me sentindo.

Quando me olhei naquele espelho, quando vi o olhar de aprovação de todos os meus amigos eu senti algo que não sentia a muito tempo: bem. Eu realmente estava me sentindo linda, verdadeiramente linda, coisa que não acontecia dês de minha reclamação. Era muito bom, iria aproveitar enquanto durasse.

Só conseguia pensar o quanto queria mostrar isso paradinha família. Meu pai, minha madrasta, minha avó, minha tia. Queria elogios deles também, queria ver seus olhares brilhando como sempre acontecia quando eu sorria verdadeiramente. Era uma das coisas que mais amava neles. Minha madrasta tiraria uma foto e com certeza colocaria ela na geladeira, meu pai me chamaria para dançar no meio da sala mesmo sem música e me giraria várias vezes, só para o tecido leve da saia se mover junto comigo. Minha avó diria o quanto eu estava linda e semanas depois me entregaria alguma peça de roupa tricotada que combinasse. Minha tia pularia no lugar e paterna balmas, então daria a ideia de pintar meu cabelo para combinar com a vice do vestido, e minha madrasta não deixaria, dizendo que ainda sou nova demais para ter tanta química no cabelo. Eu ficaria com esse vestido até que sujasse, e os elogios e brincadeiras jamais parariam até lá. É, seria exatamente assim.

Meu sorriso morreu, meu coração se apertava de saudade e preocupação. Não conseguia não me sentir mal. Era doloroso demais. Queria eles de volta.

Balancei a cabeça em negação, tinha que afastar aqueles pensamentos antes que começasse a chorar. Na situação em que eu estava, eu não poderia me permitir a isso. Mas doía tanto.

Só queria que as coisas voltassem ao que eram antes. Não que eu me arrependesse de algo do último mês, claro que não, em relação ao acampamento e aos meu amigos eu não mudaria nada. Só queria que minha família voltasse a ser o que era antes.

Amigos...

Peguei a foto que estava em cima da minha cama, uma das mais recentes que ainda precisava guardar para não esquecer. Tinha a tirado naquela tarde, quando estávamos todos no andar de cima aproveitando no tempo fresco e a companhia uns dos outros. Eu tinha ensinado uma outra brincadeira para eles, uma em que ditribuiriamos cartas, uma tinha cada significado e tínhamos que obedecer a isso. A Emma pegou o papel da assassina umas duas vezes, enquanto ela matava o Luccas com um olhar a Yanne tentava descobrir quem era, sem sucesso. Na segunda vez foi a mesma coisa, mas foi o Scoot que não percebeu a tempo até todas as vítimas estarem mortas. Peguei o momento exato em que o Luccas, a Yanne e o Scoot pularam em cima dela para lhe fazer cócegas enquanto Vanessa e Amberly seguravam seus braços e pernas. Todos estavam rindo de verdade, esboçando sorrisos verdadeiros. Era quase como se fôssemos crianças comuns em um passeio qualquer.

Eu não estava diferente, essa felicidade só veio à morrer quando eu é que foi a assassina, e tive que matar cada um para ganhar o jogo. A Emma é a que tem o grau de TDAH mais alto entre nós, por isso não percebeu até ser tarde demais. Todos riam, contagiados pela felicidade leve e descontraída de nosso grupo. Enquanto a mim, assistindo a aquilo, não consegui ficar ao lado deles por mais tempo. Senti como se não pudesse mais respirar e todo o meu corpo tremeu. Queria chorar, gritar e abraçar eles, implorar por ajuda. Mas ao invés disso apenas corri para o banheiro e tomei um banho, pelo menos a água do chuveiro disfarçou muito bem minhas lágrimas. Eu não sabia se estavam me observando, então respirei fundo e me recompus. Sem lágrimas. Não iria arriscar.

Meio Sangue- Missão de resgateOnde histórias criam vida. Descubra agora