50. A pior noite da minha vida

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Nihara Vitti

As horas se arrastam com uma lentidão dilacerante, como se o próprio tempo estivesse em conluio para prolongar minha agonia. Vejo tudo ao meu redor se movendo em câmera lenta, como se o mundo estivesse suspenso no espaço. O corredor, uma vez agitado com a movimentação frenética de profissionais da saúde, agora se encontra vazio e gélido, um cenário desolador.

Um medo súbito e avassalador começa a se insinuar do fundo do meu estômago, serpenteando meu corpo até se instalar em minha garganta, formando um nó sufocante que me impede de respirar com facilidade.

    Minha mão busca instintivamente o local onde meu coração bate, como se pudesse encontrar respostas ali. Mas o aperto em meu peito transcende a simples preocupação com Harrison; é algo mais profundo, algo indescritível que me aflige.

    Acaricio aquele lugar angustiante enquanto tomo a decisão de me dirigir à recepção em busca de informações sobre o estado de Harrison. Meus passos são hesitantes, carregando o peso de uma ansiedade que ameaça me consumir por completo. Com a mão pressionada entre meus seios, inclino-me em direção à mulher atrás do balcão, esforçando-me para enxergar o nome em seu crachá.

    — Por favor, dona... — meu tom é suplicante, e estreito os olhos para enxergar o nome no crachá dela. — Mia, por que ninguém me diz nada? Pode pedir a alguém que venha me dar alguma notícia?

Minhas mãos estão inquietas, dedos batendo nervosamente na superfície da bancada. A mulher me observa com uma expressão séria, como se pudesse sentir a agonia que me consome.

Segundos que parecem minutos se arrastam antes que ela estenda finalmente o braço e me entregue uma garrafa de água, como se soubesse que eu precisava não apenas de informações, mas também de força para enfrentar o que quer que estivesse por vir.

    — A senhora precisa se acalmar primeiro. Beba um pouco desta água, vou saber notícias do namorado da senhora…

    — Ele não é meu namorado, somos só amigos — digo, após a pausa que faço para engolir o líquido. — Sou namorada do Tob… — Calo-me, assim que minha mente faz-me lembra das horas anteriores. Estou solteira agora.

    — Desculpe-me, não quis ser…

    — Tudo bem. Só preciso de saber como está ele, por favor faça alguma coisa.

    — Ah, sim, eu vou…

    Ela se sobressalta e pega no fixo, ouço-a falando com alguém do outro lado da linha, no mesmo instante o médico vem em minha direção. Quando faço menção de ir até ele, meu nome é chamado por uma voz delicada e trêmula.

Olho para trás e vejo a doutora Adele junto do senhor Lencaster, os rostos pálidos e os olhares distraídos. Sigo então na direção deles, ou melhor, dou apenas um passo à frente, com o coração apertado pela ansiedade do que está prestes a ser revelado.

    — Nihara querida, como ele está, o que aconteceu? — pergunta o senhor Lencaster.

    — O médico vem aí — digo, apertando firmemente a mão da senhora.

O homem, aparentando estar na casa dos quarenta e poucos anos, se aproxima de nós, sua expressão denotando exaustão e outras informações que estamos prestes a descobrir.

    — Doutora Adele, como vai? — o senhor aperta a mão da mulher e, em seguida, a do seu esposo. — Não sabia que o senhor Harrison era seu parente.

    — Ele é sobrinho do meu marido — ela revela, olhando para o esposo.

   — Por favor, doutor Trevor, nos diga como ele está? — questiona o homem de meia-idade, visivelmente ansioso.

NÃO POSSO TE AMAROnde histórias criam vida. Descubra agora