Itzal e as Cachoeiras Celestes

Prólogo

O crepúsculo da noite já havia ocorrido há eras na percepção de Ethan, com certeza haviam anos desde que o sol se pôs, pelo menos, na cabeça do garoto. Não aguentava mais estar acordado, queria apenas dormir, mas a pequena criança que estava ao seu lado com certeza tinha opinião contrária.

Toda vez que estava prestes a pegar no sono, Ethan era bombardeado por perguntas e monólogos vindos da criança que deitava na cama ao lado. Cada fala dela fazia Ethan questionar se era moralmente aceitável conjurar magia de sono em seu irmão mais novo com o solene objetivo de aproveitar o resto curto da noite que poderia sobrar após o ato.

Pela terceira noite consecutiva, Ethan via as chances de ter uma noite completa desaparecer, devido as crises de insônia que assolavam seu irmãozinho de tempos em tempos. A privação de sono derivada desse fato era horrível e o mau humor vindo através dela estava contagiando seu ser. A cada dia que passava sem sono, o garoto, se sentia mais exausto e fraco, mas talvez essa última parte não fosse inteiramente culpa da privação de sono.

Pensando bem, já estava piorando bem antes desse pequeno episódio de seu irmão, na realidade bem antes até de conhecer seu irmão, talvez até mesmo desde o dia fatídico de seu nascimen-

-Ethan! —Uma voz infantil falou mais alto interrompendo abruptamente seus pensamentos. -Você tá me ouvindo? -Perguntou a voz.

Ethan hesitou em responder, mas sabia que as crises de insônia de seu irmão escapavam do controle do pequeno e também sabia que ele não teria paz até responder as perguntas dele.

-Sim, Itzal. —Disse tentando manter o máximo de animação inexistente possível. -Estou te ouvindo.

-Então, como eu estava dizendo, se os grifos fazem ninhos nas montanhas mais altas com coisas brilhantes que eles acham por aí, então...

O cérebro de Ethan se dissolveu no meio da frase de seu irmãozinho; não aguentava mais. Tudo que escutava agora era apenas um "blá blá" interminável, não aguentava mais as perguntas e monólogos intermináveis de Itzal, era normal uma criança de 5 anos falar tanto assim? Ele queria muito dormir, e para ele dormir, Itzal precisava dormir, talvez conjurar uma magia de sono agora não soasse tão moralmente inaceitável, ele só queria que Itzal cala-se a boca e dormisse.

E ele tinha um meio para fazer isso, e talvez poderia fazer isso por mais tempo além de uma noite, talvez por 2 ou 3 dias? Isso alegrava a mente cansada e derretida de Ethan que logo começava a preparar o feitiço, transferindo sua magia para suas mãos encobertas, lentamente, transformando sua mana no que ele desejava através de simples e sutis movimentos de mão.

Não entenda mal, Ethan amava Itzal, entretanto nesse exato momento ele estava canalizando todo esse "amor" em forma de uma poderosa conjuração sonífera, que estava há um passo de ser lançada.

-Ei, Ethan! —Disse mais alto Itzal. -Você não tá me escutando de novo! —Reclamou indignado.

-Itzal, pode ter certeza absoluta que eu estou escutando. —Mentiu descaradamente Ethan prestes a conjurar a magia.

-Então você escutou a parte que eu te pedi uma história, não é? —Perguntou Itzal.

-Uma história?! —Ethan perguntou surpreso. Isso provavelmente significava que o sono estava chegando em Itzal, não de maneira mágica, mas naturalmente.

Com certeza Itzal estava prestes a dormir, ele só pedia histórias a Ethan nessa situação. Aliviado, Ethan dissolveu o feitiço que estava pronto em suas mãos escondidas embaixo da grossa coberta. Ele estava aliviado, não teria que recorrer às artes místicas por um propósito considerado imoral pelo próprio.