—Verana—A caverna não é tão diferente das outras que Verana e seu povo já estiveram.
Paredes rochosas e úmidas, ar com cheiro de mofo, e estalactites de rochas negras que despontam do teto como os dentes pontudos de uma fera faminta. Lufadas de ar gelado sopram por algumas aberturas nas laterais, e com o céu sem lua e estrelas, a caverna estava absorta na escuridão.
Os Caçadores entraram primeiro para inspecionar o local, seguido pelos lobos, mas as fadas decidiram ficar fora um pouco mais, junto com alguns dos amigos vampiros que trouxeram de Nêmesis.
— Vamos ter que dormir por cima das rochas? — Luna sussurrou para a loba, ainda segurando a mão dela com força.
Os olhinhos vagando por todo canto sem parar, como se estivesse com medo de que algo aparecesse e a levasse para longe.
Ela deve ter ficado apavorada quando não viu ninguém conhecido no meio da luta mais cedo, e Verana não soube explicar como se sentiu aliviada quando Kenyon a trouxe de volta.
Eles tinham limpado a Praça do controle das Renegadas, ainda estava com a pistola na mão e banhada de sangue inimigo, mas nunca vai esquecer do aperto no peito se afrouxando quando viu que o Caçador trazia a menina nos braços, como havia prometido.
Ela nem teve tempo de agradecer ou começar a questiona-lo com suas milhares de perguntas, porque a garota do portal fez com que todos atravessassem. Então só se importou em fazer a travessia segura com Luna e sua matilha, sem causar mais trabalho.
Porém, a visto o lugar onde vieram parar, a sua sorte continua a mesma. Péssima. Mas Verana tenta se manter otimista, afinal, Luna estava segura e o restante da matilha também, se continuassem com Zander e os Caçadores.
Verana apertou a mãozinha da garota, a confortando.
— Não, bobinha... — ela repuxa um pequeno sorriso, só para fazer a menina relaxar um pouco mais. — Só vai precisar de uma para usar como travesseiro.
Como ela esperava, Luna sorriu um pouco. Então, enquanto todos se acomodavam nas partes não molhadas da caverna, evitando morcegos e alguns insetos noturnos, a menina para de andar e olha para uma fissura no teto onde dava de ver uma pequena parte do céu escuro. Verana segue esse olhar.
— Não vai haver a Queima hoje, não é? — a menina perguntou.
— Não, esperaremos as estrelas.
Verana cresceu aprendendo sobre a Queima, e participando também. Um pequeno ritual fúnebre para os mortos que não conseguiam enterrar. Onde cada lobo da matilha observava o alfa juntar uma flor para cada falecido, e queimar sob uma fogueira à luz do céu estrelado. Cantando um cântico ancestral da sua terra natal — o único que ainda sabiam — e vendo as cinzas florais subirem.
O ideal era enterrar o corpo, fazendo com que entrasse em contato direto com a terra da forma correta, mas quando não conseguiam — quando não tinham tempo, como foi o caso da última vez —, acreditava-se que, com a Queima, os amigos e familiares mortos conseguiriam voltar como uma ortália e repousariam para sempre nos campos das Planícies Altas, como deveria ser.
Lar na vida e na morte.
Verana sempre gostou de acreditar nisso, porque se não tivesse a chance de viver em sua terra na vida, então que seja pelo menos na morte.
Vozes do lado de fora da caverna chamam a atenção das duas garotas, e todos que estavam se acomodando resolvem ver o que está acontecendo. Quando Verana viu o grupo de fadas ao redor do corpo da mulher de cabelos ruivos como vinho, notou que se tratava de uma despedida apropriada. A fada de cabelos grandes e cacheados, pele parda e olhos cobre, falava algumas palavras baixas, mas ainda assim, Verana a ouvia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
~ɪᴍᴘéʀɪᴏ ᴅᴇ ᴅᴇᴜꜱᴇꜱ ᴇ ᴍᴏɴꜱᴛʀᴏꜱ~
Fantasy"Este é um jogo selvagem de sobrevivência". Malessa e seu irmão gêmeo Zander estão em alerta constante para sobreviverem ao que o mundo se tornou. Um pesadelo. Uma guerra entre criaturas sombrias, espécies sobrenaturais e humanas está acontece...