Eu vi

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Eu não soube responder à mensagem de Valentina. Sua confissão era diferente para mim. Eu estava confusa. Eu não sabia se compartilhava do mesmo sentimento porque aquilo era algo que eu nunca havia sentido antes. Eu sei que estar perto dela me fazia melhor do que eu já me senti com qualquer pessoa. Ela era diferente. Nessa noite, acabei não pregando o olho pensando no que ela havia dito e cheguei ao hospital com o rosto mais cansado possível.

- Quero que vocês façam um trabalho em grupo. Pode ser o mesmo das rondas. Apresentem sobre algum dos casos que vocês viram esse mês com todo o histórico - disse o dr. Leandro - Tirem um papel desse pote, em cada um contém um número de 1 a 7. Ele irá definir a ordem de apresentação.

Ele levantou da mesa na qual ele estava sentado e convocou 7 pessoas, um de cada grupo, logo Leandro voltou a se sentar à mesa. Eram 3 meninos e 4 meninas. Cada um tirava o seu papel e falava em voz alta o número que estava escrito para que ele pudesse anotar a ordem. Nessa aula com o dr. Leandro basicamente discutimos alguns casos e escolhemos aquele que íamos falar, mas logo depois, quase no fim do tempo, as conversas já estavam paralelas e não fazia muito mais sentido permanecer ali.

- Tá com raiva de mim, Luiza? - ouvi sua voz rastejando baixinho perto de mim.

- Não - meus olhos se encontravam no meu celular e eu não os tirei dele. Valentina me deixa confusa. Primeiro, ela quem parece com raiva, depois me diz aquelas coisas e agora me pergunta se eu tô com raiva? Eu vou ficar maluca.

- Você nem consegue olhar pra mim - a voz dela começava a me agoniar. Eu sentia que a qualquer hora meus olhos iriam saltar da órbita e começar a queimar.

- Você é esquisita.

Foi a única coisa que eu consegui dizer. Eu sabia que ela não conseguia parar de me olhar. Virei meu rosto e tentei encara-la. Sem sucesso. Voltei meu rosto para o celular, mas percebi ela me olhar novamente e voltei a tentar olhá-la. Seus olhos estavam brilhando de uma forma que eu ainda não havia visto. Seus olhos esmeralda. Deixei meu olhar nos seus até ela desistir e parar de ficar me observando, mas isso não aconteceu. Depois de algum tempo, aquela sensação de nervosismo e o coração a palpitar voltou a surgir em mim.

- Que foi? - tentei quebrar o silêncio para fugir daquele clima tenso que estava se instaurando entre nós.

- O seu olho, é tão puro. Sinto paz só de olhar - baixei minha cabeça e deixei escapar um sorriso.

- Não consigo perceber esses detalhes que você fala.

- Mas eu vi - ela falou, ainda me olhando com a mesma doçura e a mão segurando seu queixo - acho que já deu por hoje. Você topa ir assistir o por do sol? Tem um lugar lindo que eu quero te mostrar.

Meus sentimentos voltaram a ficar em calma e minha aflição tinha se derretido completamente com esse convite. Eu queria tanto.

- Pode ser - ela passou a mão em meu cabelo e me soltou outro sorriso.

Era incrível como eu tinha esquecido totalmente a sensação ruim que ela havia me causado. Tudo o que eu conseguia era estar sorrindo mediante a sua presença, por tudo, em cada história que ela contava - e ela tinha inúmeras. Ela foi até a sala onde guardávamos nossos pertences e pediu para eu esperar por ela. Sentei em um banquinho numa pequena praça que tinha em frente ao hospital e a esperei, apenas observando o fluxo de pessoas entrarem e saírem do hospital. Aguardei uns vinte minutos até ela aparecer. Em sua companhia, estava Leandro. Ele vinha com alguma coisa nas suas mãos e com uma colher levava até a sua boca, chutei que era um bolo e estava certa.

- Vamos? - Valentina perguntou.

- Vocês vão aonde? - ouvi ele perguntar baixinho.

- Ver o pôr do sol, lá no alto.

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