Uma luz no fim do túnel

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Eu senti um peso enorme como se cada parte do meu ser estivesse sendo puxado por uma corda e na ponta de cada corda houvesse um peso de cem quilos. Dói e me desespera. A prisão dos pesos que me causam dor é avassalador e então, como num piscar de olhos, não sinto nada. Não tem mais dor, não tem mais peso ou pressão. Apenas um vazio. Um enorme e escuro vazio como um buraco negro.

E eu caio. Na verdade é como se meu corpo todo estivesse em queda livre. Parece mil vezes mais leve, sem necessariamente o vento da queda e foi aí que eu percebi que não havia queda de fato só a sensação esquisita de estar caindo para sempre num limbo.

Tento abrir meus olhos, sair da escuridão que me engolia e percebo que na verdade eles já estão abertos. Não. Não estão. Não sinto meus olhos. Entro em desespero. Eles não estão ali.

Tento respirar. Puxar o ar pelo nariz e soltar pela boca, mas não há ar para ser puxado, não importa o quanto eu tente. Também não tem nariz, nem boca. Não tem meu rosto ali, sinto como se pedaços de mim estivesse faltando. Não sinto meus lábios, meu nariz, meus olhos. O que está acontecendo?

O desespero aumenta.

Sem boca, como eu vou gritar por ajuda?

Tento encontrar meus braços já a muito dormentes, sem circulação de qualquer líquido que seja. Eles não estão em mim, nem minhas pernas. Não há nada. Tudo me foi arrancado. Tudo me foi tirado.

O pior pesadelo da minha vida. Não consigo me acordar, não consigo sair, sei que é um sonho, um sonho muito esquisito, mas não sei como acordar. Me sinto preto. Uma escuridão sem fim onde nada pode ser sentido ou visto. Nada existe, mas eu estou consciente. É como se eu, sendo apenas um cérebro, houvesse perdido minha armadura de músculos, ossos e pele. Apenas o cérebro, que sou eu, existe, minha consciência, no meio do vazio.

Tento relembrar o que me levou ali e ao fazer isso uma enxurrada de coisas me passa na mente.

Uma luz forte e um choro alto. Alguém dizendo "eu te amo" e eu reconheço aqueles olhos verdes e o sorriso da minha mãe, de alguma forma estranha sei que aquele foi o dia do meu nascimento. Sinto mãos me segurarem pelos membros que não estão mais ali. Nada faz muito sentido.

As cenas se misturam à medida que eu sinto cada emoção grandiosa da minha vida, coisas que eu nem sequer sabia que lembrava. Mas tudo estava ali guardado apenas esperando aquele momento. Somos um conjunto de momentos armazenados dentro de uma grande memória, podemos acessá-los, mas perdemos a prática, mas está tudo ali, sempre esteve.

Meus primeiros passos com todo mundo, meus tios, meus pais, gritando à minha volta me deixando extremamente feliz. Meu pai fazendo aviãozinho comigo na cama. Mamãe cantando antes de dormir quando eu ainda era um bebezinho. Eu lembro dos meus brinquedos, do meu ursinho favorito, de olhar para o teto do meu quarto e ver estrelinhas verdes brilhando no escuro.

A primeira vez que provei chocolate quando tinha um ano, foi o tio Sirius que me deu, escondido de mamãe, ele parecia mais jovem. Quando consegui descer no escorregador sozinho, o tio Remus estava lá embaixo para me pegar, seu cabelo estava curto e ele usava regata, era verão. O medo que senti ao escorregar e a felicidade de ter sido pego no colo antes de bater no chão.

O natal que ganhei meu cachorro, Pads, eu tinha dois anos, Pads tinha dois meses. Um cachorro pequeno, de pêlo curto e caramelado com um focinho preto e uma energia enorme. Ele sai da caixa, lambe meu rosto e, ao me derrubar, corre por toda a casa derrubando toda a decoração de natal enquanto eu gargalho e meus pais gritam e tentam segurar a pequena criatura.

A cena muda para o dia em que conheci meus melhores amigos, Hermione e Rony, no primeiro dia de aula. Uns meninos estavam fazendo Hermione chorar e eu e Rony tivemos a mesma ideia de ir defender ela. Não ganhamos a luta, mas ganhamos uma nova família. No fim acabamos todos na sala da diretora e nossos pais viraram todos amigos.

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⏰ Última atualização: Jan 04 ⏰

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