EXTRA

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KURT REED

Conciliar a vida de mafioso e ser pai é difícil. Veja, não quero que meus filhos tenham valores errados e uma visão distorcida do que é "certo" e do que é "errado", na verdade, acho que não é com isso que devo me preocupar visto que todos os meus filhos — menos a pequena Ester — são encrenqueiros mimados.

Chasina diz que isso é culpa minha e eu tenho que lidar com meus sentimentos, mas minha esposa é a última pessoa que deveria me dar conselhos sobre isso porque ela que os mimou. Eu pensei que a fase mais difícil seria a infância, mas eu estava tão errado porra. A adolescência é a pior. 

O jeito que eles me olham com uma cara de "vai se foder, seu velho" me dá vontade de dar um soco em meus próprios filhos — eles não olham assim para Chasina porque eles têm medo demais dela para isso — não que ela tenha feito algo grosseiro ou batido neles, não, Chasina nunca seria capaz.

Mas seus castigos não são como os meus em ficar sem celular ou motos, até mesmo ficar sem fazer tatuagem, seus castigos são ficar sentado olhando para a paisagem por horas e admitir os erros. E isso, é algo que eles detestam, admitir que estão errados e ficam em um profundo tédio. Minha linda esposa sabe disso, e acredite, ela usa muito a seu favor.

Depois de uma boa sessão de amassos e fodas, estamos deitados dormindo na cama profundamente, seus cabelos estão espalhados pelo travesseiro branco, como se fosse uma mancha branca. Seus cílios tremulam vez ou outra e seus lábios estão levemente abertos, ela usa uma das minhas camisas e está enrolada ao meu lado. Alguns diriam que isso é apenas um casal normal, mas Chasina é meu lar. Minha vida. Meu tudo.

Não consigo imaginar ela sem estar ao meu lado, nunca mais sentir seu cheiro, ou o calor dos seus lábios e a maciez de seus toques. Viver sem isso era o equivalente a não viver. Sem ela ao meu lado, não sei o que estaria fazendo agora.

Sim, estou perfeitamente feliz e tranquilo. Sim, eu pensei que quando minhas crianças já fossem adolescentes, elas iriam parar de me deixar louco. Mas pelo visto não.

A porta do nosso quarto abre um rompante tão alto que eu pulo da cama ao mesmo tempo que Chasina, nós dois estamos com armas na mão quando uma Ester chorosa entra no quarto seguida por seu gêmeo, Blake, Dorian e Austin.

Ester apesar de ter quase dezenove anos ainda parece a mesma boneca de cabelos escuros, olhos pretos, lábios rosados. Pequena e delicada, minha Ester chora copiosamente enquanto se enrola em um moletom.

Eu olho para Chasina.
Minha esposa olha para mim.

Largamos a arma e eu prontamente envolva minha filha em meus braços, ela descansa a cabeça em meu peito e me abraça como se eu fosse sua tábua de salvação. Blake, seu gêmeo, com os olhos cinzas observa a situação com certa angústia. Ele está usando apenas uma camisa preta deixando suas inúmeras tatuagens à mostra.

Dorian, de olhos azuis e cabelos loiros, alto e forte com apenas dezoito anos, suspira alto e tira sua jaqueta de couro. Austin, o nosso caçula de apenas quinze anos, com a pele negra e cabelos raspados, sorri maliciosamente.

— O que aconteceu? — Sina questiona olhando entre todos os quatro.

— Paaaii! — Austin cantarola rindo. — Uma pergunta, uma resposta.

— Seu idiota do caralho — murmura Dorian revirando os olhos.

— Eu sou seu pai — retruco encarando Austin. — Apenas a resposta. Agora.

— Por que está chorando, amore mio? — questiona Sina levantando o queixo trêmulo de Ester. Ela apenas funga alto e balança a cabeça.

— Dica: Foi Blake — o mais novo aponta para o mais velho que segura o osso do nariz como se tivesse pedindo paciência.

— Blake — rosno apontando para Austin. — Fale agora.

— Então, vamos com calma, sim? — cantarola Dorian parando ao lado de sua mãe. Ele já ultrapassou ela em altura e tudo, então rodeia um braço ao redor do seu ombro e a aperta com melosidade. Estreito meu olhar. — Nada se passa mais do que um mau entendido.

— Se você diz — resmunga Blake.

— Não, não ele não diz nada — eu corto e afasto Ester, segurando seus ombros, questiono: — O que houve, querida? Pode contar para o papai.

Dorian revira os olhos e Austin ri como se soubesse que Blake vai se foder.

— Sim, você pode contar tudo para nós, amore mio.

— Ouça sua mãe — aceno.

Ester balança a cabeça e olha para Blake como se ele tivesse destruído sua vida. Então sei que a coisa é séria porque Blake e Ester são como carne e unha, suas brigas não duram mais de minutos, eles saem juntos, comem juntos, brincam juntos, fazem tudo juntos. Então para Ester estar encarando ele assim algo de errado aconteceu.

— Ok, eu falo — diz Blake cruzando os braços. — Encontrei minha irmã gêmea em um bar beijando e bebendo um homem — meu coração para.

— Então? — Chasina questiona erguendo a sobrancelha.
— Então adivinha quem era o filho da puta? O filho da tia Morgan e do tio Hayden — sim, com certeza, meu coração para.

— Então? — Sina questiona com tranquilidade. — Vocês não são primos ou algo assim, apenas cresceram juntos.

— Mãe! — Blake rosna. — Encontrei a porra da minha gemêa bebendo e beijando o filho da puta! Ela ainda é uma criança, mãe!

— Eu tenho sua idade! — Ester retruca chorosa.

— E então? — cantarola Dorian abraçando Sina que parece divertida.

— Então Blake o espancou, papai! — ela começa a chorar novamente. — Bateu tão forte em Declan que tivemos que carregá-lo para fora do bar! Ele nunca mais vai querer me ver! Tia Morgan vai ficar tão chateada...

— Ele não é seu melhor amigo, querido? — Sina inclina a cabeça para Blake que aperta a mandíbula.

— Exatamente, mãe.

Então o caos interrompe, um lado tem Dorian e Austin parecendo duas hienas se aproveitando de toda situação, do outro tem Blake e Ester chorando e dizendo que a vida dela acabou. E do outro, tem apenas Chasina e eu que olhamos para o desenrolar, até que Chasina bate palmas, dispensa os dois mais novos que gemem de desprazer, acalma Ester dizendo que sua vida não acabou e briga com Blake dizendo que ele não pode sair batendo nas pessoas assim.

Então ela força ele a pedir desculpas a irmã.

— Desculpas por ter batido em Declan.

— Desculpas por ficar com seu melhor amigo — os olhos cinzentos ficam escuros, loucos.

— Você sabe o que? Desculpas o caralho, eu não fiz nada de errado, ela que fez! — então ele sai do quarto batendo os pés e ela vai atrás dele dizendo que não é justo.

Depois de algum tempo, as coisas se acalmam, eu falo com Blake dizendo que não é certo (apesar de eu ficar contente) nele bater em quem sua irmã beija. Chasina fala com Ester dizendo que as coisas vão melhorar e não, o irmão gêmeo não odeia ela.

Só sei que no final estamos deitados na cama novamente, ela em meus braços e passando as unhas compridas por meu peito.

— Queria que eles não crescessem — eu sussurro. Chasina beija meu peito rindo.

— Sempre podemos adotar mais.

— Porra, não — resmungo virando de lado para ficar cara a cara com minha linda esposa. — Quatro é um número bom.

— Se você diz, Sr. Reed— sussurra me dando um beijo. Acaricio seus cabelos sorrindo contra seus lábios.

— É o voto final, Sra. Reed — ela dá uma risada sabendo que não, eu não tenho poder nenhum sobre sua escolha de querer ter mais filhos. Enrolando minha esposa em um abraço adormeço.

Mas adormeço feliz, com um sorriso no rosto e pensando que apesar de tudo, apesar das divergências e de ter filhos sociopatas, amo minha família e faria de tudo por eles.

DARK ANGEL (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora