Ramiro arrancou com tudo sua caminhonete antiga estacionada na frente do Naitandei, quem via de fora acharia que o peão tinha pressa de chegar a algum lugar. E ele tinha sim pressa, mas não era para chegar a lugar nenhum.
Tinha pressa, na verdade, de se ver longe de alguém.
O peão dirigia em alta velocidade, voltando pelas estradas escuras em direção à fazenda dos La Selva com os vidros abaixados provocando um vento forte dentro da caminhonete, esse bem vindo pelo homem bruto, que inspirava profundamente, como se aquele vento frio pudesse lhe preencher e aliviar o calor que lhe tomava internamente.
Era toda noite assim.
Ramiro ia até o Naitandei após o dia exaustivo de trabalho na fazenda em busca de um pouco de distração. Conversar com Kelvin, agora ex-garçom e atual dono do bar, sempre lhe tirava sorrisos e risadas sinceras, o outro, com seu jeito brincalhão, extrovertido e extremamente provocante lhe divertida e lhe tirava dos eixos ao mesmo tempo.
Primeiro começavam conversando sobre algum assunto corriqueiro, coisas do dia a dia, e então Kelvin soltava alguma piada de duplo sentido, uma provocação velada ou as vezes até mesmo explícita em relação a si. Ele chegava muito perto, perto demais, com o corpo sempre trajando roupas que deixavam muito de sua pele à mostra, e era o suficiente para o cheiro dele, sempre inebriante, invadir seus sentidos e lhe atiçar como uma poção de encantamento.
Quando ele se aproximava tanto, com as mãos pequenas de dedos tatuados vez ou outra passeando por seus braços, ombros, com o rosto liso, repleto de pequenas sardas, se colando ao seu, deixando a boca rosada ali à uma distância tão perto da sua... Ramiro sentia coisas que não conseguia compreender, um calor que não tinha explicação.
E então ele fugia. Fugia porque não gostava daquela confusão que se apossava do seu peito, do nó que dava em sua cabeça, do acelero descompassado de seu coração.
Quando chegou em seu quartinho, que parecia ainda mais pequeno, mais abafado do que o normal, dirigiu-se direto ao banheiro, arrancando as roupas apertadas como se elas estivessem em chamas, ou talvez fosse sua pele que sentia arder em brasas. Ligou o chuveiro que só possuía a temperatura fria, e suspirou satisfeito ao se enfiar debaixo do jato de água gelada.
Ficou ali incontáveis minutos, respirando fundo, inspirando e expirando forte, esperando que o jato de água sobre a cabeça e peito, fosse o suficiente para expurgar todas aquelas sensações que não compreendia, e tinha até medo de encarar.
Por fim, quando achou que havia finalmente se libertado deles e das sensações esquisitas, quando finalmente sua mente havia voltado ao seu devido lugar, com pensamentos e sentimentos de macho, o peão se permitiu cair na cama pequena, para enfim ter seu merecido descanso.
«»
Ramiro acordou repentinamente confuso e sedento, suado, sentindo a regata fina que vestia grudar em seu peitoral.
Não eram raros ultimamente os sonhos estranhos lhe perturbando seu único momento de paz. Porque até dormindo ele estava lá.
Kelvin Santana, com seus olhos delineados e olhar lascivo, dizendo e fazendo coisas inomináveis.
Demorou alguns segundos para se situar, para seu cérebro conseguir separar entre o estado adormecido e sonolento, o mundo dos sonhos, e o mundo real.
Mas a confusão em seu olhos apenas cresceu ao encontrar entre a penumbra de seu quartinho uma figura familiar que media exatamente 1,60m, tinha pernas e nádegas torneadas e uma cintura fina onde sabia que suas mãos grandes se encaixavam com perfeição.
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Diabinho Particular
FanfictionRamiro poderia chamar Kelvin de anjo, mas na verdade, diabinho seria mais apropriado. Porque ele era inteiro pecaminoso, feito de luxúria e tentação. Isso mesmo, Kelvin era um diabinho, o seu diabinho particular.