O castelo na colina 1

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Houve uma tempestade e a luz recém chegada ao castelo findou-se instantaneamente assim que os primeiros raios começaram a clarear no céu. Não havia sinal de vida, exceto por Vespera, que vagava lenta e elegantemente pelos corredores de mil quartos, portando uma única vela em um castiçal dourado, que levava à sua frente, com o braço esticado. A vela mal iluminava o caminho, a jovem, entrava e saia de quarto em quarto, fechando as janelas com cortinas úmidas e esvoaçantes. O longo vestido branco rendado de Vespera, arrastava no chão, tendo a barra toda suja de poeira e terra, assim como seus pés descalços que estavam igualmente sujos. O cabelo negro lhe caia pelo busto e escorria longamente até a altura dos joelhos, a pele negra estava molhada de suor pois apesar da chuva que caia agressivamente, o calor se tornava presente, fazendo Vespera transpirar horrivelmente. Os olhos permaneciam sérios e sem expressão, muitas vezes o vento batia e entrava pelas frestas do velho castelo, fazendo o fogo da pobre vela tremular, mas Vespera não parava e mal se importava caso a fonte de luz apagasse. Os móveis e portas lhe eram visíveis no escuro e a noite tempestuosa possuía uma luz estranhamente clara, além dos clarões azulados dos raios que constantemente invadiam as janelas altas e gradeadas.

Vespera não possuía pressa alguma, estava cansada apenas e desejava deitar-se em sua cama macia no mais amplo e alto quarto.
Houve uma pequena rajada de vento que obrigou a chama da vela curvar-se e extinguir-se, deixando Vespera na penumbra do lugar. Seus olhos negros brilharam e ela continuou seu caminho longo e assustador para qualquer um, menos para Vespera.
O escuro não lhe assustava, muito menos o que havia nele.

Depois de subir os longos e atos degraus que descia e subia diariamente, Véspera se encontrava em seu quarto.

Com a pequena vela, novamente acesa, ao lado de sua cama, Vespera fitava o teto em completo silêncio, esse, absorto em seu próprio ruído mudo. Com as mãos apoiadas na barriga e os pés juntos, os olhos estavam semicerrados e tudo o que Vespera podia ouvir era o som de chuva caindo e sapos coachando, grilos cricrilando e aranhas tecendo suas teias. Mas Vespera estava cansada de ficar deitada, estava cansada de ficar parada, pelo visto o sono antes dilacerante se esvaiu no momento em que pisou no quarto.

Abruptamente, Vespera se levantou, pegou sua vela e desceu todos os lances de escadas.

Caminhando ainda em meio à escuridão, a jovem chegou a um estreito corredor que possuía uma porta baixa e de topo em V de ponta cabeça. Com uma chave presa ao pescoço, Vespera abriu a porta, a qual permitiu que uma lufada de vento vento fresco entrasse fazendo a ponta de seu vestido erguer-se. Vespera abriu a porta por completo e uma vez do lado de fora do castelo, o vento levantava seu cabelo que dançava junto a brisa. O grande jardim estava encharcado e completamente iluminado pela luz da lua cheia que brilhava por trás das nuvens que encobriam o céu negro. Os pequenos labirintos floridos pareciam muito mais convidativos do que nunca, as estátuas de anjos guiavam o caminho. Deixando o castiçal na porta, agora fechada e vela apagada, Vespera seguiu saltitante o caminho enlameado, iluminado penas pela luz prata do luar.

Longe do castelo, em uma pequenina casa, uma família abrigava, confortavelmente, dois irmãos da chuva traiçoeira. Conversavam na sala ao redor de uma mesa com vinho e pães, quando a irmã questionou sobre o castelo, no exato momento em que foi iluminado por um raio avermelhado. Os membros da família se entreolharam entre terror e receio, até que por fim o patriarca da família, engoliu em seco e contou-lhes sobre o castelo Dexus, o castelo na colina. O homem tentou ser curto, direto e claro. O castelo, disse ele, não costuma ser frequentado e tem em seu interior sua única dona e moradora que está lá desde sempre.

Em poucas palavras ele disse que Dexus deveria ser evitava ao máximo, eles acreditavam que o castelo é sua dona davam mal agouro e com tanto que ninguém fosse lá, tudo estaria bem. O que o homem realmente quis dizer era que poucas pessoas haviam entrado e poucas pessoas haviam saído.

A curiosidade da irmã antes atiçada, agora havia se recolhido dento de si e encolhida em seus joelhos, ela desviava seu olhar da colina e tentava manter seu pensamento no vinho e no pão sobre a mesa. Seu irmão no entanto, mantinha o rosto voltado para a janela que mostrava o castelo em perfeita visão. Para ele era impossível uma pessoa viver sozinha e ser tão velha e assustadora assim.

A verdade era que não acreditara em nada do que o velho homem dissera. Para o irmão, o homem era tão tolo e sonhador quanto generoso.

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