𝟎𝟕

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Quando rola o tchan, não dá pra esconder
Porque se é o tchan, é pra valer

Você é meu tchan - Hotel Transylvania

Catarina Sartori

- Isso pode significar qualquer coisa...- interrompo minha melhor amiga, em uma tentativa de me convencer do contrário sobre a mensagem.

- QUALQUER COISA?- Mariane interroga, indignada- CATARINA, ELE LITERALMENTE TE CHAMOU PRA SAIR!

- Não chamou não, só perguntou se eu tô livre sábado...

- Você acha que ele ia perguntar isso sem motivo?

- Não sei, vai que ele quer só puxar assunto, jogar conversa fora...

- É ele quer puxar assunto com você... NUM ENCONTRO!

- MARIANE!

- Ah meu Deus...- ela respira fundo- você pelo menos respondeu ele?

Fico em silêncio, encarando a parede.

- VOCE DEIXOU ELE NO VÁCUO?

- Eu não deixei ele no vácuo... eu nem visualizei a mensagem ainda...

- DESDE ONTEM? Tadinho, deve tá achando que levou pé na bunda. Vai responder ele! Anda!

- Responder o quê?

- Que você tá livre sábado e que adoraria sair com ele!

- Ah, mas....

- É só responder que sim! Diz que tá livre sábado, se ele te chamar pra sair, diz sim também, só dizer sim!

- É que... Mari, não é fácil assim...

- Como não? É só dizer sim!

- Aí, sei lá... não é muito estranho esse cara estar querendo sair comigo?- me ajeito no sofá, quando Túlio sobe no meu colo.

- Tá querendo dizer o que?

Ergo uma sobrancelha, encarando ela, como se a resposta fosse óbvia. Começo a brincar com as orelhas do cachorro, enquanto Mariane continua me olhando, confusa.

- Tá querendo dizer o que, Catarina?-ela insiste.

- Ele é jogador de futebol, Mari!- digo, soltando as orelhas de Tulio- Jogadores querem se envolver com mulheres bonitas, como você! Ou então com as loiras e magras, tipo modelos, sabe? E olha, eu não sou nenhuma Yasmin Brunet... inclusive, queria, mas...

- Para, para, para, para!- Mariane se levanta do sofá.

- Que foi?

- Você tá sendo muito irracional agora!

- Mariane, não começa com esse papo agora...

- Foi você quem começou! E quem fala o que quer, ouve o que não quer, mas talvez você precise!-ela suspirou antes de continuar- Cara, quantas vezes vou ter que te dizer que você é uma grande de uma gostosa, e não importa o tamanho que você veste, não importa se é 38, 44 ou 52, você é um mulherão, Catarina, e só você não enxerga isso! O Lucas tá gamado em você e você tá deixando passar por insegurança boba...

Suspiro, ainda meio incerta, mas um pouco grata pelas palavras da minha amiga.

-Olha eu entendo... não é nada fácil crescer sendo uma minoria. Não é legal ser ridicularizada na escola por ter um cabelo e uma cor diferente-ela aponta para si própria e depois para mim- e imagino que não seja legal ser ridicularizada por ter uns quilinhos a mais... Mas, Cat, o mundo não é o ensino fundamental, muito menos o ensino médio.

Encaro ela, tentando conter as lágrimas que querem cair.

- O mundo é muito além da escola e daquelas crianças cruéis que maltratavam a gente simplesmente por sermos perfeitas.- ela de senta ao meu lado novamente- Eu aprendi que só quem liga pra nossa aparência são pessoas vazias, superficiais. Pessoas reais não se importam com a aparência alheia...-ela finaliza com um sorriso.

- Eu sei... racionalmente, eu sei. Mas é que uma parte de um ainda fica em alerta...

- Eu entendo...- ela pega meu telefone, abrindo na conversa com Lucas- mas o que você acha de deixar essa parte de lado um pouco e viver sua vida? E por favor, não deixar um gato desses ir embora!- ela me entrega o telefone e junta as mãos na última parte.

Lucas Perri

Saio do vestiário, evitando encarar o telefone. Ontem mandei uma mensagem e sei que foi arriscada, mas não imaginei que era tanto. Ela ainda não respondeu, nem sei se visualizou... Respiro fundo, largando o telefone no banco, com minhas coisas, entrando em campo. Começo o aquecimento, mas com a cabeça em outro lugar. De cinco em cinco minutos, olho para onde está meu telefone, como se eu fosse ver alguma coisa nessa distância.

-Pausa de cinco minutos antes do treino começar!- grita o treinador, da beirada do campo, após os minutos de aquecimento.

Corro para meu telefone, desbloqueando-o na esperança de alguma notificação, alguma mensagem, o que quer que seja.

- Eaí, cara!- Adryelson para do meu lado- O que você tem?

-Nada...-solto o ar, pegando minha garrafa de água.

- Não parece ser nada, não!

- Ah, sei lá... acho que tô apressando as coisas- senti no banco, recuperando o fôlego.

- Com aquela repórter? Catarina né? A Wennya adorou ela!- ele se senta ao meu lado.

- E quem não?-respondo, tentando esconder o sorriso.

- Já tá assim, cara?- meu amigo ri- Vai com calma, hein!

- Eu sei, é que... sei lá...

- Rolou o tchan?

- Tchan?-pergunto, confuso.

- É, o tchan! Nunca viu Hotel Transilvânia?

- Não...?

- Seguinte, o tchan é quando...

O treinador apita novamente, interrompendo meu amigo, que dá de ombros, correndo de volta para o campo. Sigo o resto dos jogadores e vou para meu lugar no gol.

Passo o resto do treino tentando me concentrar em fazer o meu trabalho, mas minha mente sempre volta para o telefone, a dúvida constante se ela respondeu ou não. Quando o treinador finalmente apita o fim do treino, tento correr até o telefone, mas o técnico, que estava com os dois outros goleiros, me chama. Mudo a direção, parando ao lado de Gatito, esperando Luís terminar de falar o que quer que seja, e a essa altura nem estou mais prestando atenção. Depois pergunto para o Gatito.

Continuo encarando o telefone, quando sinto dois tapinhas do técnico em meu ombro e vejo ele saindo de perto. Ótimo.

Preciso usar toda a minha concentração para não sair correndo de novo, finalmente conseguindo pegar o telefone. Adryelson para do meu lado novamente, enquanto desbloqueio o telefone.

- Quando rola o tchan não dá para esconder!

- Que negócio é esse de tchan, irmão?-pergunto impaciente, abrindo o whatsapp e meu amigo solta uma risada alta.

Meu alívio é ver o nome dela entre as últimas mensagens. Ignoro as provocações de Adryelson e abro a mensagem, tentando não sorrir feito um bobo com sua resposta.

"Desculpa a demora, tava verificando na minha agenda...
Eu tô livre no sábado."

A tentativa de não sorrir foi por água abaixo e Adryelson continua com a provocação.

- Você é meu tchan!- ele canta, fazendo uma voz fina.

- Fica quieto!- digo, tentando parar de sorrir.

- Ih, tá todo bobo!

•••

𝐄𝐔𝐃𝐀𝐈𝐌𝐎𝐍𝐈𝐀 - 𝐿𝑈𝐶𝐴𝑆 𝑃𝐸𝑅𝑅𝐼 |ᶠᵒᵒᵗᵇᵃˡˡ ᶠᵃⁿᶠⁱᶜᵗⁱᵒⁿ|Onde histórias criam vida. Descubra agora