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- Ethan! Está na hora do seu café da manhã, levante. - A voz de Suzie ecoa em minha mente, me fazendo despertar enquanto esfrego meus dedos contra meus olhos. - Você sempre se atrasa, e eles ficam bravos.
Me arrasto para o canto da cama, ficando ao lado de Suzie e sorrindo para ela, como de costume. - Não se preocupa, eles só ficam bravos comigo mesmo. E é engraçado de se ver!
Dou uma risada fraca, porém alta, fazendo com que a de cabelos loiros me empurra-se para o lado, me alertando do barulho alto que causei. Uma regra clara aqui, é não fazer barulhos altos.
Me calei então, levantando e indo até o refeitório, sendo seguido pela loira. A cozinheira não parecia ter notado meu atraso, o que me deixa aborrecido.
A senhora, alta e de cabelos grisalhos, coloca um prato sob a mesa, junto de um copo de suco.
- Está é sua refeição por hora. Coma tudo, ou terei que chamar o doutor!- Ela diz de forma grave e séria, batendo uma colher de madeira levemente sob minha cabeça e então saindo do local.
Olho para o prato fazendo um bico e então olhando para Suzie, que tinha sua expressão séria e de desdém.
- Eles fizeram isso de novo... Por que eles fingem que você não existe?- Questiono em tom de decepção, levantando e pegando um prato para Suzie, dividindo minha comida com ela.
Ela balançou a cabeça em resposta e comeu o que havia lhe colocado. Fiquei olhando para meu prato, brincando com as verduras e as sementes de arroz para lá e para cá, fazendo desenhos e os desfazendo.
As vezes penso... Será que sou mesmo abençoado por estar aqui? É tudo tão frenético. Suzie não parece feliz aqui...
Balanço a cabeça, afastando os pensamentos que as vezes, são insistentes em me incomodar. Como não poderia ser sortudo por estar aqui? Tolice.
Volto a atenção que havia se perdido para o meu prato e, comendo a comida já fria e tomando o suco. O suco tinha um gosto exótico de uvas com um leve toque de queijo podre. Faço careta, o que eles colocam nesse suco?
Em compensação, Suzie não tomou, apenas virou o copo do que eu dividirá com ela na pia e saiu da cozinha, sem dizer nada.
Tudo bem, creio que ninguém vai perceber isso mesmo. Só percebem o prato a mais que sempre fica sujo em cima da mesa, mesmo as cozinheiros e médicos insistindo que colocam apenas um.
Sigo os passos da garota antes aqui, havia ido para a sala de jogos, onde ficavam os brinquedos, poucos jogos e alguns livros distintos um dos outros. Também tinha um sofá grande e branco e uma televisão para os jogos.
Faço bico com os lábios, é cansativo vir todos os dias para o mesmo local fazer as mesmas coisas.
Olho para a janela, observando suas grades e, me perguntando o porquê delas estarem ali. Parecem feitas para conter um monstro.
Movo a cabeça de um lado para o outro, tentando ignorar pensamentos que insistiam voltar mesmo depois de horas.
Observo Suzie, estava sentada beira ao tapete, lendo um livro com pouco entusiasmo nas letras lidas.
- Suzie, qual é a dessas grades? - Indago com curiosidade evidente na voz, observando a garota que agora mordia os lábios e ficou em completo silêncio.
- Para evitar acidentes, seria o mais óbvio, certo? - Ela então diz, voltando o olhar para o livro em suas mãos.
Estalo a língua, sua resposta não me convenceu mas evito questionar mais. Me aproximo da garota, me sentando ao seu lado e procurando algum título que me agradasse.
"Pense por outro ângulo." Observo sua lombada por um curto período e o apanho, observando o livro.
Não é de ficção, parece psicologia. Vou ler esse, talvez levar ao meu quarto. Passo meus olhos por algumas das palavras gravadas ali, uma me chamando a atenção " se questiono sobre tudo ao seu redor, porém em silêncio." Em silêncio?
Mas em silêncio obterei respostas? Acho que é uma coisa que irei descobrir em silêncio também.
Que estranho, esse livro não é um título que costumam colocar aqui para que eu leia, colocam geralmente ficção ou títulos que para eles sejam interessante, não para mim.
Será que colocaram errado aqui? Talvez nem perceberam. Tudo bem, vou ficar com ele mesmo assim e, se questionarem eu o escondo embaixo da cama.
Sorrio pensando ser um ótimo plano, afinal, ninguém olhava de baixa da cama.
- Ethan... Você quer brincar de alguma coisa? Estou entediada. - Suzie diz soltando um longo suspiro e soltando ao chão qualquer coisa que segurava antes. - Aliás, achei um livro que você vai gostar, é sobre robótica...
- Hm? Robótica? Tipo robôs? Será que tem a teoria de como fazer um?! - Comentei me levantando dando pequenos saltinhos de alegria, adoro jogos de robôs que possuo aqui e, ter um livro sobre definitivamente é incrível.
Suzie sorriu e balançou a cabeça em concordância, me senti flutuando de alegria por pensar na hipótese de construir um robô.
Imagine só, um robô como meu amigo? Seria considerado um prodígio, um gênio mirim. Peguei o livro de sua mão, era um exemplar grande, bem grande e pesado. E ainda era novinho, com robôs na capa e instrumentos de construção.
Cheiro as páginas do livro entreaberto, suspirando com o cheiro de livro novo prazeroso que ele podia dar.
Já Suzie parecia olhar algum canto aleatório... Ah, sim. A porta vermelha.
Também tenho curiosidade em saber o motivo de não nos deixarem ir para lá, o que tem de tão importante do outro lado? Dizem que se formos pegos no outro lado ou tentando ir para lá, seremos severamente punidos.
Mas isso não inquieta nossa curiosidade, apenas atiça ela ainda mais. Me sentiria alguém com super poderes caso um dia eu fosse para além das portas com a escrita "acesso restrito".
Balancei a cabeça, correndo ao meu quarto e colocando os livros ao lado da minha cama, na pequena estante que ali continha. Depois voltei o mais rápido que pude até Suzie.
- Bem, do que quer brincar? - Questiono a vendo curvar a cabeça e pensar, até que abre a boca para falar.
- Esconde-Esconde. Se você me achar, lhe conto um segredo. Já se eu te achar, deves você me contar algo que eu não saiba. - Engoli seco, não esperava que Suzie, quem nunca respondia minhas perguntas sobre segredos me diria um segredo?
Em compensação, não acho que eu saiba algo que ela não saiba, afinal, ela é mais inteligente que eu.
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PARANOSE
Misterio / SuspensoUm garoto chamado Ethan vive em um manicômio, porém não sabe disso. Cresceu imaginando que os médicos fossem sua família e seguia uma rotina diária. Ethan acreditava que vivia em um castelo e tinha apenas uma amiga, que sempre estava com ele. No en...