— Emmye —
Medo nem era parte do que eu sentia, era muito mais que só um medo, meu estômago estava embrulhado, eu nem sequer conseguia pensar, era como se tudo estivesse escuro esperando pela próxima cena começar. Aquilo era pavor, a tal ponto que a única coisa que eu conseguia sentir era desespero. Mas eu não o percebia, minha visão mal focava. As poucas coisas que me lembro daquele dia foram uma buzinada forte, que eu imaginava ter feito para mim. Até que eu me lembrei de que estava no carro da secretária, eu estava em um estupor. Não escutava nada, minha visão estava embaçada e meu ouvido apitava.
Depois do carro, eu só me lembro de ter entrado no hospital e falado com a mulher perguntando por meu pai. Lembro dessa parte porque lembro de ter estranhado o som da minha própria voz quando saiu pela minha boca, não parecia minha voz, sequer parecia ser eu quando vi minha imagem no reflexo do vidro do hospital. Me senti horrorizada quando vi minha imagem. Mas aquilo não era importante, nada mais era importante, somente o meu pai.
Quando finalmente cheguei no quarto dele e vi ele com os olhos abertos e a máquina funcionando, eu soltei um suspiro de alívio. Por um instante, achei que meu pai teria me deixado. Mas ele sabe que ainda preciso dele e se manteve forte. Ele usava máquina de respiração, mas não estava entubado, o que era um bom sinal.
Ele me viu e me deu um sorriso fraco, eu finalmente senti que tudo estava voltando ao normal. Minha visão clareou e meus ouvidos voltaram a dar sinal de vida, sem mais aquele apito insuportável. Ouvi a porta se abrir e me virei, era o médico.
— O que ele tem? — perguntei ainda com uma voz que não parecia minha, uma voz que transmitia o desespero que eu sentia.
— Fique calma, não é tão sério assim, a vida dele está fora de perigo — ele sorriu para mim, era um sorriso apaziguador, percebi que ele deveria ter entorno dos seus 40 anos, cabelos pretos, olhos castanhos e pele bronzeada. Dava para ver em seus olhos que ele tinha confiança no que dizia, então confiei em suas palavras.
— Mas, então, o que meu pai tem?
— Extrema fadiga, parece que alguém exagerou na carga de trabalho.
— Ele trabalha dois turnos, sempre trabalhou.
Vi meu pai suspirar e fechar os olhos. Entendi tudo ali, ele tinha arranjado mais um emprego de meio período.
— Tínhamos concordado que você não procuraria mais nenhum trabalho — eu disse.
Ele removeu a máquina para respirar, deu para ver que ele já estava bem melhor e já respirava bem sem aquilo.
— Você sempre quis fazer uma faculdade e eu quero que você tenha essa chance, então para conseguir guardar dinheiro para isso...
— Eu entendi, mas fica tranquilo, estou fazendo eu mesma a minha poupança para faculdade, então você só vai trabalhar o de sempre, quero que você me veja conquistando tudo que eu sempre quis. Por favor, você precisa ver, você é minha única família.
Ele deu um sorriso de lado e assentiu. Eu sabia que ele não queria, eu sabia que ele queria me dar uma condição melhor, mas se cansar até desmaiar não vai me ajudar em nada. O corpo adoece se forçamos demais ele, eu bem que percebi que ele não estava bem.
Sentei-me ao lado da cama dele, mandei uma mensagem no trabalho avisando o que tinha acontecido e me deram o dia de folga, deitei a cabeça na mão dele e nem percebi que eu adormeci até me acordarem. Eu sabia que meu pai iria ficar uns dias internado até se recuperar totalmente, e já fazia quase um mês que as aulas voltaram.
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Mil Estrelas de Distância
Romance"- Eu viajarei mil estrelas de distância por você e eu viajarei mais mil estrelas de distância só para não te perder." A distância não é o empecilho, as pessoas são. Emmye, uma estudante do ensino médio que trabalha em uma lanchonete, vive no vibran...