O cavaleiro, O poço e a Armadura

O Julgamento

- Oi, meu amigo cavaleiro, novamente preso aí?

Dói. Aqui dói.

- Por que voltou a este lugar? Sente conforto na sua dor? Quer sair?

- Eu sei, eu sei. Até mais que você, você odeia esse lugar.

- Mas vamos ser justos, todos esses anos te fizeram um fraco. Um coitado. Digno de pena.

Dói.

- E não venha choramingar. Você mesmo se colocou aí, não fui eu, não foram seus pais nem mesmo sua criação. Simplesmente você.

Frio.

- Eu queria realmente saber o que se passa atrás desse elmo, sentado nesse poço se perguntando 'quem diabos é esse'. Me lembro quando você se perguntava isso de frente ao espelho.

Cansaço.

- Mas sabe, eu adorei ver suas batalhas, certeza que seria motivo de orgulho. Quando encostaram na sua armadura pela primeira vez, não foi legal, né? Lembro de você chorando, franco e incapaz.

Lágrimas.

- Separado do seu reino desde cedo, se viu perdido e pela primeira vez no Poço.

- Procurou os melhores feiticeiros, que pudessem te dar o mínimo de conforto, mas onde você foi achar? No fundo de uma garrafa, triste, você não acha?

Memórias.

- Ô, meu amigo cavaleiro, não vai nem se levantar? Lembro que você tentava, mas dessa vez, parece ter chegado ao verdadeiro fundo.

Chuva.

- Incrível como toda vez que você para aí embaixo chove. Dessa vez vai transbordar.

Chuva.

- Como foi se afastar de suas crenças? Você era tão devoto ao antigo. Eu sei que te expulsaram do templo, mas existem milhares. Creio que seja uma desculpa esfarrapada.

Silêncio.

- Se lembra daquela lady com quem você ia se casar? Cadê ela agora? Novamente deixou seu amor escapar? Seria cômico se não fosse trágico. Inútil.

- Eu gostava dela, sabe, cavaleiro. Vocês pareciam felizes juntos. Depois disso, o que fez? Se perdeu em pares e pares de coxas, tal qual uma criança atrás de carinho.

- Mas não é culpa minha, nem dela, somente sua por ser um fraco.

Ódio.

- Vamos, levante, escale.

- Estou cansado de te ver aí, esse poço não é seu lugar.

- Isso.

- Suba.

- Continue escalando.

 Dor.

- Continua, você já saiu daí antes.

- Já consegue ver as luzes do dia?

- Boa, meu amigo, falta pouco.

Queda.

- HA! HA! HA!

- Você é patético mesmo.


Dor.