Onde tudo (re)começa

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Ana acordou naquela manhã sentindo-se inspirada e motivada, tirou do guarda-roupa o conjunto de terninho cor pistache que havia comprado meses atrás, mas que até então não tinha usado, e o vestiu, com uma camisa branca e um salto cor de areia. Ela sorriu ao arrumar seu cabelo em frente ao espelho e admirou seu reflexo ao terminar de se maquiar.
Havia muito tempo que ela não se sentia bem, animada ou ansiosa. Era seu primeiro dia em seu novo emprego, o emprego dos sonhos que caiu no colo dela como um sinal dos anjos. Logo após ganhar um prêmio de inovação e sustentabilidade na feira de arquitetura, choveu propostas de emprego em sua caixa de e-mail, ela estava animada até então, mas quando a maior construtora de São Paulo a enviou apenas a melhor proposta de emprego que ela viu na vida, Ana não pensou duas vezes antes de aceitar.
Duas semanas depois de receber o e-mail e lá estava ela, no carro com suas pastas de projetos indo direto para o auditório da Construtive para fazer sua palestra de boas vindas.
- Ana, me diz que você trouxe com você uns ansiolíticos, sério! Eu preciso ficar calma! - Disse Denise, amiga e sócia de Ana, indo em direção a ela enquanto caminhavam pelo estacionamento.
As duas foram contratadas juntas para o trabalho e esse também era o primeiro dia dela. As duas eram praticamente almas gêmeas, Ana era genial e criativa, Denise era focada e eficiente, juntas as duas faziam as coisas funcionarem.
- Dê, tá tudo bem! - disse Ana com tom de voz calmo - eles gostam do nosso trabalho, vai dar tudo certo.
- Vai estar a diretoria toda na nossa apresentação! - exclamou Denise
- O QUE? - respondeu Ana parando perto da porta do saguão - não era para a diretoria estar lá, no máximo os chefes de departamento.
- Mudança de planos Ana, vai estar todo mundo lá!
Ana apertou o botão do elevador e esperou que alguma divindade lhe desse voz de sabedoria naquele momento.
- Nossa você tá gata hoje hein - falou Denise de repente analisando a amiga - Tá querendo seduzir alguém?
Ana sorriu e olhou para Denise que parecia verdadeiramente chocada.
- Você também! Você tá sempre gata Denise - Ana respondeu.
Denise concordou e sorriu, ela usava um terninho preto e branco e um par de mocassim marrom.
- Tá tudo bem Denise, já apresentamos nosso projeto umas cem vezes, não vai ser muito diferente dessa vez - Ana falou calmamente - e se algo der errado nós corremos no três, combinado?
- No três então!
As duas sorriram uma para a outra, por mais estressante que a situação poderia parecer, estavam felizes por ter uma a outra. E contanto que estivessem juntas, ficaria tudo bem.

...

Quando o elevador parou no décimo primeiro andar, as portas abriram para um enorme auditório com portas de vidro por toda sua extensão, um palco de madeira com uma bancada de madeira em sua extensão e um projetor posicionado em seu centro, e muitas, mas muitas bancadas cheias de pessoas olhando diretamente para elas.
Denise foi direto para a mesa conectar seu notebook com a apresentação.
Ana abriu sua pasta com folhetos e os deixou estrategicamente posicionados na mesa para as pessoas pegarem ao passar por elas.
Na última fileira Ana pôde notar uma certa agitação, haviam vários homens engravatados olhando diretamente para elas. Alguns deles digitavam no celular e outros dois falavam ao telefone. Ao olhar para Denise ela percebeu que a amiga olhava também para a última fileira.
- Devem ser eles - disse Denise.
Ana apenas concordou com a cabeça.
As duas esperaram mais cinco minutos enquanto mais alguma dúzia de pessoas chegaram e se acomodaram no auditório.
- Pronta? - disse Ana
- Qualquer coisa corremos no três - respondeu Denise
Ana deu um leve sorriso de canto e se posicionou em seu lugar, ela já havia feito aquilo um milhão de vezes, a apresentação parecia um balé perfeitamente coreografado entre as duas que o faziam perfeitamente.
Ambas se apresentaram e logo a plateia ficou em silêncio, ao longo da apresentação as duas falaram sobre suas formações e seu projeto. Ambas eram arquitetas e haviam se conhecido na pós graduação, não demorou muito para que virassem amigas e descobrissem objetivos em comum. Ana deu a ideia de um projeto de arquitetura sustentável, a ideia era criar um projeto habitacional 100% ecologicamente correto, reaproveitando resíduos e usando energia limpa. Quando apresentaram pela primeira vez o projeto o professor de graduação delas as inscreveu em um projeto de arquitetura, não demorou para participarem de feiras e ganharem um prêmio. Não era para menos, elas desenvolveram equipamentos e um projeto único.
Ao final da apresentação, todos na plateia levantaram e as aplaudiram. As duas agradeceram e sorriram para a platéia. As luzes do auditório se acenderam e Ana e Denise se entreolharam orgulhosas de terem sobrevivido a apresentação, até que Denise olha ao fundo do auditório e nota que a fileira de homens engravatados estavam andando em direção a elas no palco.
Ana olhou para a amiga com um leve pânico no olhar, ela pensou seriamente em contar até três naquele exato momento e sair correndo.
Esses homens subiram no palco e as cumprimentaram com rápidos apertos de mão e felicitações pelo excelente trabalho e apresentação delas.
Todos eles se posicionaram em fileira logo atrás delas, enquanto esperavam um último homem que estava ainda lentamente percorrendo o caminho até o palco.
- Estamos esperando o Dr. Eduardo - um deles disse -
Denise olhou para Ana
- Eduardo? - ela sussurrou para a amiga
- Deve ser o CEO - disse Ana
- Que chique! - disse Denise.
Ana queria rir do comentário da amiga, mas conteve-se ao olhar para o homem subindo as escadas do palco e seu corpo ficar gélido.
Eduardo Santinne, ela conhecia aquele homem, conhecia muito bem, bem até demais. Mas não era ele quem ela conheceu, era o Eduardo de dez anos atrás, o Eduardo que era apenas um adolescente de 17 anos completamente apaixonado, de corpo magrelo e olhos verdes doces e amáveis.
Mas aquele homem era um Eduardo diferente, o CEO da Construtive, de corpo atlético e olhos verdes completamente frios.
Ele a olhou de forma audaciosa e sorriu despreocupadamente. Mas Ana era incapaz de sorrir, ela estava paralisada com a visão do que parecia ser uma assombração.
Eduardo estendeu a mão para Denise e a cumprimentou.
- Parabéns pela apresentação - ele disse.
Então deu um passo em direção a Ana e a cumprimentou com um aperto de mão.
- Parabéns pela apresentação, Ana.
- Obrigada - Ana sibilou forçando sua voz a sair.
Eduardo pegou o microfone e se posicionou na ponta do palco.
- Bom dia a todos, como muitos sabem, eu não costumo estar presente nas apresentações, mas no dia de hoje pensei ser uma ocasião especial, quis receber pessoalmente mais duas novas integrantes da nossa equipe. É com muita honra que anúncio que Denise Filipo e Ana Guimarães integram nosso time, e não só integram o time, como fazem parte do nosso mais novo departamento da Construtive: Inovações e sustentabilidade. Que a partir de hoje marcam um legado na nossa empresa, queiram dar as boas vindas e boa sorte para elas, time! - ele diz com entusiasmo e eloquência, as pessoas na platéia aplaudem e dizem coisas como "boa sorte" "bem vindas meninas" "parabéns" .
Denise naquele momento olhou para a amiga, pensando que ela estaria animada, mas Ana não estava, ela estava gélida, completamente paralisada.
Eduardo se virou para as duas e disse:
- Vamos tirar a foto! Essa vai para o mural!
Ana apenas se posicionou no meio da fileira de homens no fundo do palco, ao lado dela ficou Denise e entre as duas Eduardo se posicionou graciosamente no centro e passou seu braço pelos ombros de Ana ficando em posição para a foto.
Ana ainda estava atordoada com a situação, parecia irreal demais que ele estava ali, no meio de todos, segurando o ombro dela com a maior naturalidade e sorrindo para o fotógrafo em sua frente. Ela forçou-se a sorrir e fingiu por alguns minutos que estava tudo bem.
- Seja bem vinda, espero que goste daqui - ele disse olhando para ela do alto de seus ombros.
Ana apenas sorriu e concordou com a cabeça. De perto ele parecia ainda mais alto do que se lembrava, 1,85m talvez, e ainda mais diferente do que ela o viu pela última vez.
Há dez anos atrás Eduardo tinha espinhas pelo rosto, um cabelo ondulado escuro e rebelde que mal se continha para os lados, ele usava óculos de armação grossa e aparelho nos dentes. Era um garoto magricelo, que usava roupas largas e se escondia pelos cantos, tímido e de poucas palavras.
Mas agora ele estava diferente, seu cabelo escuro e ondulado estava bem cortado e controlado, seus dentes eram brancos e perfeitamente alinhados, seu maxilar exibia uma barba perfeitamente aparada, seus olhos verdes não eram mais escondidos por óculos grossos, em sua pele mal haviam marcas de espinhas, ele estava longe de ser magricelo e desengonçado, agora vestia um terno elegante e falava como se quisesse ser visto. Mas se não fossem os olhos verdes, aqueles malditos olhos verdes, Ana jamais o teria reconhecido.
Os olhos dele eram duas esmeraldas emolduradas por longos cílios e sobrancelhas grossas e escuras perfeitamente delineadas.
Ele olhou para Ana, ela se sentia uma adolescente de novo, queria se encolher e se esconder do olhar dele, pois a trazia diversas lembranças do passado.
Ela não havia mudado muito, continuava com o mesmo cabelo escuro, pesado e ondulado, os olhos castanho claro, a mesma pele oliva, o mesmo rosto coberto por sardas e o mesmo corpo esbelto que ela mantinha com corridas e musculação frequente na academia. Ela era atraente de fato, isso é inegável, sempre foi linda, mas agora era se sentia ridícula, porquê Eduardo parecia um deus grego.



***Notas da autora***
Oiê, tudo bem com vocês? Fiquei com muito medo de postar aqui por ser diferente do meu outro livro que é de poesias.
Mas como gostei dessa história quis postar, espero que gostem e por favor dêem feedback para mim. Vou adorar saber o que acharam da história.
Beijinhos e se cuidem fanfiqueiras!!!

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⏰ Última atualização: Jan 10 ⏰

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