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Mais uma semana ia embora e nós continuamos em nosso silêncio. Eu tinha certeza que ela não tinha intenção nenhuma de voltar a falar comigo e isso tirava minha paz todos os minutos de todos os dias. Eu teria que arrumar coragem de algum lugar e tentar nem que fosse a mais mínima das comunicações. Sempre que eu tentava me aproximar, parecia que as minhas pernas travavam, eu não conseguia dar um passo a mais em sua direção, quanto mais falar com ela. Eu já tinha escrito umas cem mensagens enormes para enviar no Whatsapp dela e sempre acabava apagando tudo. Nunca pensei que a falta dela fosse me agredir dessa maneira, e eu não conseguia entender. Fazia tão pouco tempo que nos conhecíamos. A foto do perfil dela tinha sido trocada há dois dias, agora era ela em meio ao jardim lindo que tem na sua casa. Eu precisava falar com ela, me livrar de toda essa angústia, tinha certeza que iria conseguir. Só precisava de um pouco mais de tempo. O sonho da praia se repetia todos os dias, sempre com o mesmo começo e o mesmo fim.
- Vamos.
Duda tinha terminado de guardar as coisas em sua mala. Nós passaríamos alguns dias numa cidade próxima para jogar o Intermed, que são os jogos disputados entre as atléticas de medicina das faculdades. Eram várias categorias, desde os esportes mais conhecidos como futebol, vôlei, handebol, basquete, a jogos de cartas, tabuleiro, e-sports, tudo o que tinha direito. Além do mais era o espaço onde haviam muitas festas, a galera ia para jogar e se divertir. Certamente Valentina iria participar. Duda tinha parado de falar nela, eu deveria me sentir feliz por isso, mas ao invés disso, sentia um sufocar com o nome dessa menina entalado sem poder pronunciar. nem estava falando com ela e nem podia falar dela.
Sentamos à arquibancada perto do vôlei, as pessoas já se voltavam em busca de assentos e outra grande parte andava em grupos por todo espaço do ginásio. Todos estavam vestidos com materiais oferecidos pelas suas respectivas atléticas, bebiam, riam. Era divertido ver a interação. Estávamos em um espaço imenso e coberto.
- Traseira bonita da porra - olhei para Duda e depois tentei procurar o menino do qual ela estava se referindo. Senti minha barriga gelar por um instante - não sou sapatão, mas até eu fiquei balançada com ela agora.
Era a Valentina de costas com um monte de outras garotas, ela já estava no uniforme do time, o short era... muito curto, e marcava todo o desenho do seu bumbum. O volume das coxas era denso, a cintura era modelada pela camiseta, sua pele alva nevada era destacada pelos tons de verde que ela usava. Ela realmente era uma mulher muito bonita. Ela gargalhava, eu não podia ouvir, mas sabia que era e podia exatamente saber como era o som. A menina ruiva do outro dia, que também estava de uniforme, grudou no pescoço dela deixando se demorar entre seu ombro e cabelos. Ela beijou o rosto de Valentina calmamente. Olhei em volta para ver se alguém tinha notado, minha mão formigou. Duda estava distraída filmando a integração e os jogos com o celular. As mãos de Valentina enrolaram-se no corpo da ruiva, fiquei tão desconcertada por ver essa cena que desviei minha atenção dali. No meio de um campeonato importante e ela ali se agarrando com qualquer uma no meio de todo mundo. Ao menos se fizesse isso escondido, não as claras assim. Os meninos já estavam entrando no ginásio para dar início à partida de futsal. Convidei Duda e fomos para mais perto deles. Olhei pela última vez e ela ainda estava abraçada com a ruiva.
- Você viu, Eduarda?
- O que?
- Nada não - engoli a seco, o dia só estava começando.
O jogo deles começou logo após a partida final de Valentina. O time dela havia ganhado o campeonato na modalidade feminina. Elas levaram medalha de ouro, e lá estava eu até o fim da última partida torcendo por ela. Ela sempre ficava na frente, perto da rede. Eu não entendi muito bem de esportes, mas a Eduarda disse que ela era boa, então devia ser. Tinha sido o dia que eu mais a tinha visto sorrir desde o dia em que brigamos, era tão bom ver aquela cena novamente. Sorriso já era algo natural dela que quando ela não usava parecia incompleta. Foi bom tê-la visto tão empolgada, era um gosto sereno. Valentina era muito competitiva.
Ela desapareceu no meio das pessoas e eu fui ao banheiro, as vezes era sufocante estar no meio de todas essas pessoas, então decidi sair para lavar o rosto. Foi quando eu estava ajeitando meus cabelos em frente ao espelho que escuto a porta ranger e vejo pelo reflexo que era ela. Seus cabelos estavam bagunçados. Suas bochechas estavam vermelhas, o olho levemente inchado e úmido. Meu coração apertou naquele instante, em meu mais alto grau de lerdeza até para mim era impossível não saber que ela tinha chorado e muito. Queria tanto poder ajudá-la. A pessoa alto astral que eu conhecia se despedaçando diante de mim. Eu não podia me esconder disso. Eu queria ir até ela, mas minhas pernas não respondiam aos comandos. Sempre que a minha mente comandava para ir, o gatilho era puxado e eu emperrada exatamente aonde estava. O silêncio das lágrimas dela ensurdecia mais que tudo no mundo. Com o coração engatado na garganta me impedindo até de respirar, fiz o maior esforço do mundo e fui até ela. Nunca pareceu tão difícil caminhar, por um momento eu tinha esquecido como eu devia fazer. Era só colocar um pé a frente do outro e ir em linha reta. Meu coração já não cabia mais em meu peito de tão acelerado. Talvez fosse uma arritmia, o gelo na minha barriga e a vergonha misturada à preocupação, à saudade. Mistura isso tudo e você tem eu como resultado. Ela tinha entrado em uma das cabines e seu pranto abafado era cada vez mais audível. Não sei se que forma, mas escutar aquilo me doía muito mais que qualquer coisa que já me doeu.
- Posso ajudar? - ela me viu chegando perto e não disse nada, apenas deu uma fungada forte - estou aqui, me deixa te ajudar - disse com brandura, ela continuou chorando, mas dessa vez seus olhos ficaram nos meus. O sofrimento gritava daqueles olhinhos verdes úmidos, me aproximei já nem ouvindo meu próprio pulsar. Eu estava congelada - Vai ficar tudo bem.
Comuniquei sem nem fazer ideia do porque ela chorava tanto. Meus pés que antes haviam travado agora seguiam para cada vez mais perto. Minhas mãos agora pareciam ter vida fora do corpo, eu não as comandava, e elas foram lentamente em direção ao seu rosto, meus dedos limpavam o excesso de lágrimas apossadas acima das maçãs de seu rosto.
- Vai ficar tudo bem - dessa vez eu falava aquilo como se fosse servir para mim também. Ela deixou que eu limpasse seu rosto por um momento, depois colocou a mão dela sobre a minha e começou a apertar forte.
- Meu avô foi internado pela madrugada no hospital.
- Você quer que eu te faça companhia? Vou contigo. Eles vão cuidar do seu avô.
- Ele não mora aqui. Tô só esperando meu pai dar os últimos horários dele e vamos para São Luís - a fala dela continuava embargada, mas agora era mais compreensível.
- O que aconteceu com ele?
- Caiu, quebrou o braço. Ele é idoso, tem problema nos ossos, é hipertenso e tem problema nos nervos. Eu tô tão preocupada com ele - as lágrimas voltaram, dessa vez mais fortes que antes.
- Já estão cuidando dele, Valen. Tenta respirar um pouco, se acalmar, ele vai ficar melhor em te ver bem. Ele precisa de você assim pra deixá-lo otimista.
- Acabaram de ligar pro meu pai, eu não sei como ele tá conseguindo trabalhar com essa notícia.
- Porque ele sabe que vai ficar tudo bem, se fosse um caso mais grave, ele já teria ido pra lá contigo.
- Minha tia tá com ela.
- Tenta se acalmar, tudo bem? - passei meus dedos novamente por seu rosto e olhei fundo em seus olhos, ela estava mais linda do que nunca - Linda. - disse num sussurro e antes que ela pudesse reagir puxei seu corpo para um abraço. Apertei forte e pude sentir o coração dela inquieto demais para ter um batimento normal - vai dar certo.
Repeti mais uma vez tentando afastar os seus medos, embora de certa forma também quisesse afastar os meus próprios.
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A Harmonia
FanfictionVocê acredita em akai ito? A premissa do fio vermelho que conecta duas almas, fora dos limites que o senso comum acredita que a vida possui. Acreditar nisso é a base para essa história. Luiza Campos e Valentina Albuquerque são estudantes de medicin...