Capítulo único

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1!

Após a contagem coletiva entre os estados, o som dos fogos estourando era a única coisa possível de se ouvir. As luzes coloridas iluminavam e enfeitavam o céu escuro enquanto todos se abraçavam e festejavam - a maioria já um tanto bêbados - no terraço da área da churrasqueira que ficava de frente a enorme piscina do casarão.

Erguendo a cabeça o máximo que pode, o carioca procurou descaradamente o outro sudestino em meio aos demais. Era muito óbvio, mas o que podia fazer se estava apaixonado e tudo o que mais queria era ficar perto de seu branquinho.

- Feliz ano novo, Rio! - desejou Minas lhe puxando para um abraço mais apertado do que o necessário, erguendo-o do chão por um instante.

- A-ai! - gemeu de brincadeira retribuindo o gesto. - Valeu, irmão. Pra você também.

- Véi, tenho um recado pro'cê. - falou num sussurro divertido seguido por uma pausa dramática que se encerrou logo com seu risinho sapeca. A verdade é que o mineiro amava bancar o cupido daqueles dois. - O Paulin' falou pra você ir lá pra dentro, . Ele quer falar co'cê.

A informação fez seu coração no mesmo instante se acelerar. Tinha notado os dois juntos na hora da queima de fogos e até se sentiu um pouco mal por ter invejado que o primeiro abraço do paulista não foi o dele e sim o de Minas. Besteira, mas fazer o que?

Desviando o olhar em direção a escada que dava acesso ao jardim, seu ar quase faltou quando viu a silhueta do moreno se afastando solitário e enfim descer pelos degraus, sumindo de seu campo de vista. A vontade era de correr atrás dele como um cachorrinho feliz ao ver seu dono, mas respirando fundo se recompôs. Precisava se controlar. Agradeceu ao mineiro com um aceno de cabeça e andou disfarçadamente para longe, na direção do paulista, evitando chamar a atenção dos outros.

~~

Num canto um pouco mais afastado do terraço, Amapá observava o final da apresentação de fogos, ou tentava fazê-lo já que a sua atenção todo o tempo se voltava para o tocantinense ao seu lado que se mexia e pulava animado, encantado com as luzes.

- Uaaaaa! - o mais novo exclamou admirado. - Eu amo os fogos, 'Mapá. Você também gosta, né?

Seu timbre soava inocente e encantador. Segurando-se no parapeito, Tocantins se apoiou na ponta dos pés e inclinou-se para frente como se aquele mínimo gesto pudesse fazê-lo se aproximar mais da chuva brilhante no céu. Seu rosto era luminoso e sua atenção não se desviava sequer por um segundo. O rapaz não queria perder nada do espetáculo.

- Hum. - sentindo as bochechas arderem repentinamente devido a prolongada observação, Amapá se obrigou a voltar a olhar para cima. Sentia seu coração bater acelerado e suas mãos trêmulas ansiavam tocar o outro nortista novamente, puxá-lo para mais um abraço, mas como arranjaria uma desculpa para o fazer?

- Olha lá! Os coloridos! Eu amo os coloridos. - disse Tocantins apontando para sua esquerda, mas o amapaense só pensava na outra mão do mais novo tocando-lhe o antebraço, o formigamento tentador iniciando-se na região.

- Eu gosto mais dos dourados.

A confissão claramente o pegou de surpresa. Esboçando um sorriso debochado, ele lhe encarou interessado, enfim ignorando a queima de fogos por um instante.

- Não imaginei que você tinha um preferido, 'Mapá. Por que o dourado?

Enquanto o som dos fogos ia diminuindo gradativamente, a pergunta ecoava na mente do amapaense. Por que o dourado? Era uma pergunta boba, não precisava de uma resposta. Tocantins disse que gostava dos coloridos e aparentemente não tinha uma razão especial para isso. Mas a verdade é que Amapá tinha uma razão e a resposta estava logo a sua frente, lhe encarando entusiasmado com aquele olhar flavescente, tão brilhante e precioso que reluzia como ouro, dourado como seus fogos favoritos.

Chuva de luzes sobre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora